Como é a praia de Alexandre Herchcovitch?
Estreando na Casa de Criadores, Alexandre Herchcovitch desfila coleção de verão 2024 inspirada em elementos solares.
Neste 5.11, a reunião das modas foi no Centro Cultural de São Paulo, na capital paulista. A 53ª edição da Casa de Criadores começou e de um jeito poderoso: com a estreia de Alexandre Herchcovitch no line-up, apresentando a sua coleção de verão 2024.
Quando “Refazenda”, de Gilberto Gil, começou a tocar, alguns até duvidaram de que fosse a trilha do desfile, assinada por Max Blum. Não que Alexandre tenha algo contra o cantor baiano, longe disso, mas, ao longo de seus 30 anos de carreira, o estilista criou uma marca em que se sobressai a estampa de caveira, materiais como o couro e o látex, além de boas playlists de boate, noturnas, eletrônicas. O som já dava sinal de que a apresentação seria, no mínimo, inusitada.
Alexandre Herchcovitch, verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Mais do que inusitada, um desafio. Como ELLE Brasil adiantou nesta entrevista com o estilista, a ideia foi sair da zona de conforto, entrar em lugares inesperados e se inspirar no próprio verão e elementos solares, como a praia, a piscina e as férias.
Esse é o segundo desfile de Alexandre Herchcovitch na marca que leva o seu nome, desde que ele voltou a ter controle da parte artística e de comunicação da empresa. Em 2015, ele encerrou o seu contrato com a InBrands, a holding detentora da grife desde 2008. Foram quase 7 anos sem novas coleções no mercado.
Alexandre Herchcovitch, verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Então, se no ano passado, o seu retorno aconteceu em tom de retrospectiva, com o estilista recuperando os seus 30 anos de história com a moda e mais de 50 anos de vida, os passos de hoje miram sobretudo no futuro. Alexandre quer olhar pra frente, falar de coisa nova.
Mas, claro, o verão Herchcovitch tem um jeito próprio de ser, uma assinatura. A maneira de revelar o corpo, por exemplo, é única, como no caso das partes de baixo, que começam como uma saia, terminam calça e criam uma fenda horizontal na altura da coxa.
Alexandre Herchcovitch, verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Os materiais são aqueles típicos na construção de maiôs, biquínis e sungas, mas não necessariamente nesses tipos de peça. O neoprene, por exemplo, um tecido usado na roupa de mergulho, aparece na coleção em conjuntos retrô com estampas floridas.
A modelagem é mais rente ao corpo, mas não para ser apenas sensual. A segunda pele parece mais uma super proteção para o calor excessivo do que qualquer outra coisa.
Alexandre Herchcovitch, verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Existe ainda um trabalho de “falsos crochês” que engana os olhos. As peças com um tecido que parece muito o artesanato, na verdade, foram feitas numa máquina que constrói tênis esportivos e recria essa trama de um jeito tecnológico.
O primeiro grande bloco da apresentação olha para a praia de diferentes ângulos, observando desde a mulher que anda na orla com óculos de sol até o vendedor ambulante que carrega vários produtos pendurados nos braços.
Aliás, essa foi uma boa solução do styling de Marcio Banfi, porque apresenta os vários licenciamentos da marca (que vão de tênis em colaboração com a CNS a travesseiros de viagem com a FOM) sem perder a imagem total do tema, acrescentando até mesmo um quê farofeiro muito bem-vindo à história
Já no segundo bloco, existe principalmente uma pesquisa maior de elementos presentes em roupas de época, como as sobrecasacas masculinas usadas para cavalgar ou os vestidos camisola com pregas que têm um ar vitoriano.
Alexandre Herchcovitch, verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Neles, assim como nos looks de seda pura, brilha a modelagem de Herchcovitch, a excelência de seu acabamento (as pregas nos vestidos, por exemplo, respeitam o desenho da padronagem) e o bom uso da alfaiataria na produção de peças leves, que funcionam em nosso país.
Alguns fãs do estilista podem ter saído com a impressão de que a coleção é simples ou comercial demais ou que não mergulha – com perdão do trocadilho – o bastante nessa praia.
Uma observação mais atenta, no entanto, vê a inteligência de alguém maduro o suficiente na indústria a ponto de se preocupar mais em fornecer uma gama variada de produtos, todos eles com uma assinatura, que é a de não ser difícil de usar, mas estar longe de ser banal.
É visível, inclusive, como o estilista segue se arriscando e é bem sucedido na construção de uma imagem de moda brasileira zero óbvia — aos estilistas interessados em celebrar o país sem cair na mesmice, vale bastante a aula do veterano.
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