Como foi o retorno de Alexandre Herchcovitch à sua marca

O estilista retoma o comando da etiqueta que fundou nos anos 1990 com um tanto de nostalgia e muita atenção aos desejos de agora.


Vestido branco de malha com estampa de caveira no desfile de retorno de Alexandre herchvotich à própria marca.
Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite



Parecia uma reunião de turma de escola, aquelas que acontecem depois de não sei quantos anos de formados. A formatura, ou despedida aconteceu outubro de 2015, pouco após um desfile no prédio da prefeitura de São Paulo. Foi a última apresentação da Herchcovitch;Alexandre, marca que o estilista lançou no começo dos anos 1990 e vendeu para o grupo InBrands em 2008.

Quase sete anos depois, Alexandre Herchcovitch conseguiu negociar com Nelson Alvarenga, CEO da holding, até chegar num esquema chamado por eles de uma espécie de joint venture. Na prática, é quase como uma licença para o uso do nome, porém com mais autonomia e liberdade de decisão e criativa.

 Foi assim que, pouco antes do meio-dia da quinta-feira, 08.12, formou-se uma fila do lado de fora de um galpão no bairro do Bom Retiro. Estava sol. E quente. E quase todo mundo vestia preto. Ou preto e branco. Do lado de dentro, a passarela branca estava cercada por lâmpadas fluorescentes fazendo as vezes de araras. Cada uma tinha um adesivo, ia de 1992 até 2022, e algumas peças de coleções passadas do estilista. 

Modelos no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

Via-se, por exemplo, o vestido camisa-de-força da sua formatura e desfile de estreia, o look boia-fria, o à la Carmem Miranda, além do chapéu feito em parceria com Stephen Jones para homenagear o ídolo Boy George. De 2016 até hoje, no entanto, o espaço estava vazio. Foram os anos que a Herchcovitch;Alexandre ficou sem seu criador – em todos os sentidos.

Se parece nostálgico, é mesmo. E ainda bem. As antigas é babado, já dizia Bianca Exótica. Tem coisas que só o tempo pode propiciar, e este desfile é uma delas. Não que ele seja sobre o passado, mas se constrói em cima dele, como quase tudo nessa vida.

Estavam ali todos os códigos, paixões, referências e características que Alexandre pode, hoje, chamar de suas. O primeiro look é um vestido-camiseta de malha branca com recortes e pences diagonais para melhor ressaltar a silhueta da modelo. Nas costas, meio deslocada para direita, estava a estampa de caveira. Teve gente que se debulhou em lágrimas com aquela imagem. 

A modelo Isabeli Fontana no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

O estilista Rodolfo Souza foi um deles. Ele faz parte dessa história: trabalhou, aprendeu e colaborou com Herchcovitch durante anos. Na verdade, boa parte dos convidados têm alguma relação ou memória afetiva com a marca. Lá pelos anos 2000, Alexandre soube equacionar bem os desejos de uma clientela apaixonada por moda, que não queria ser exatamente pop ou mainstream nem 100% diferentona. Não era uma roupa sempre fácil ou acessível. Tinham tecidos superfinos, modelagens intrincadas, construções fora do padrão e toda uma sensualidade e subversão presente até em vestidos acetinados com cara mocinha dos anos 1950. O élan era justamente esse.

Quem estava esperando uma reprise disso tudo se decepcionou. Quer dizer, não ficou 100% satisfeito. São outros tempos, né? Se naquela época já era difícil lucrar, imagina agora. E tino comercial é algo que nunca faltou para Herchcovitch. 

Modelo no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

A modelo Daine Conterato no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

As autorreferências chegam sutis, bem misturadas ao repertório trabalhado na À La Garçonne, etiqueta onde atua como diretor criativo desde 2015. Os tecidos de malha e moletom, as silhuetas mais soltas e confortáveis são alguns exemplos fáceis dessa comparação. São também peças que devem fazer sucesso com a nova geração de consumidores, além de terem custo relativamente mais em conta.

A modelo Luciana Curtis no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

A modelo Marina Dias no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

A cantora Geanine Marques no desfile de retorno de Alexandre Herchcovitch para sua própria marca.

Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite

Ainda assim, olhos atentos não deixavam escapar: o couro, o color block, a alfaiataria, a sensualidade, os xadrezes, o top de látex usado por Marina Dias. E quase tudo feito com sobras de tecidos do estoque da InBrands. 

Outra nostalgiazinha, que também pode ser sinal de mudanças, é a ausência de auê. Ou a não dependência de buzz. As poucas celebridades presentes mostravam que, ao contrário do caminhar da moda hoje em dia, a apresentação não precisa de chamarizes para além da roupa. Alexandre nunca foi chegado a essas coisas, é verdade, mas vai que, né?

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