Daniel Lee deixa a Bottega Veneta

Estilista britânico ficou menos de três anos na casa italiana, mas foi responsável por mudanças profundas para revitalizar a grife.


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Foto: Divulgação



O conglomerado Kering, detentor de marcas como Gucci, Balenciaga e Saint Laurent, anunciou na tarde desta quarta-feira, (10.11), que o estilista britânico Daniel Lee deixará a direção criativa da Bottega Veneta. O designer estava no cargo desde o segundo semestre de 2018.

No comunicado à imprensa, o grupo informou que o fim desta colaboração se deu em uma decisão conjunta, mas não revelou o motivo. “Daniel Lee trouxe uma energia nova para a marca e teve uma grande contribuição para o momento que a Bottega Veneta desfruta hoje”, afirma o texto.

Já o estilista agradeceu a equipe com quem trabalhou nos últimos anos, bem como François-Henri Pinault, CEO do Grupo Kering, e afirmou que “foi uma experiência incrível fazer parte dessa história”.

Nenhum nome para o lugar de Daniel Lee foi anunciado, mas a companhia declarou que esta informação será dada em breve. De acordo com boatos nas redes sociais, a principal aposta é o estilista Matthieu Blazy, atual diretor de design da marca e discípulo de Raf Simons.

Uma passagem rápida e avassaladora

Formado pela Central Saint Martins, Daniel Lee é conhecido como uma das crias de Phoebe Philo dentro da Céline (o estilista entrou na grife francesa em 2012). Suas criações são constantemente comparadas com as de sua antiga mentora e, em parte, o espírito criativo similar foi um dos motivos para o seu grande sucesso. Enquanto Philo esteve longe das passarelas nos últimos três anos, ele persistiu no minimalismo espirituoso e nada monótono que sua chefe e conterrânea o ensinou.

Não à toa, quando Philo anunciou um retorno à moda, em julho deste ano, com uma marca própria, surgiram uma série de memes satirizando qual seria o espaço de Lee daqui para frente.

No entanto, o currículo de Daniel Lee é muito mais vasto e estrelado do que imaginam. Ele também tem na carreira passagens por grifes como Maison Margiela, Balenciaga e Donna Karan.

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Bolsa intrecciato, da Bottega VenetaFoto: Divulgação

Além disso, foi mais do que notável o chacoalho que deu na Bottega Veneta, desde sua estreia, com a coleção de inverno 2019. A estratégia de Lee foi percorrer um caminho bem próprio enquanto diretor criativo. No design, o seu primeiro grande sucesso foi a reinterpretação de uma assinatura da grife, a trama intrecciato. Agigantada, a sua versão foi parar numa bolsa tiracolo que centenas de blogueiras desejaram, usaram e muitas marcas copiaram.

Fora isso, ele também foi o responsável pelo revival das mules, pelo encorajamento a uma certa esquisitice no vestir, além da criação de algumas clutches deliciosamente atrevidas, como a com formato de almofada, bem molenga, ou a inteira revestida em tecido de toalha — coincidentemente, o item viralizou nesta semana, após alguns internautas descobrirem que ele chega a custar 24 mil reais.

 

A estratégia de comunicação de Lee para a Bottega foi igualmente ousada. Uma das principais mudanças encabeçadas pelo designer foi a retirada da marca das redes sociais, no início de 2021. No lugar, a casa ganhou uma revista digital, como parte de uma tentativa de comunicação mais direta com o cliente, além de contar com as postagens de embaixadores e fãs.

Já no que diz respeito aos desfiles, Daniel Lee deixou de cumprir com a agenda rígida do calendário oficial de moda. As apresentações passaram a ser ainda mais restritas a poucos convidados (em parte devido à Covid-19) e aconteciam praticamente escondidas, em lugares como o Sadler’s Wells, em Londres, e o Berghain, em Berlim, um dos clubes de música techno mais famosos do mundo, dificílimo de entrar e que proíbe o uso de câmeras em seu interior. As fotos dos eventos, mostrando as coleções, chegavam à imprensa meses depois e não havia transmissão ao vivo.


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Com a Bottega Veneta, Daniel Lee ganhou quatro prêmios do British Fashion Awards em 2019, incluindo o de melhor designer e melhor marca.

Ele foi ainda responsável por uma alta nas vendas da casa, mesmo que grande parte de seu trabalho tenha ocorrido em plena pandemia de Covid-19.

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