Em seu primeiro desfile, Ahluwalia se inspira no rico universo de Bollywood
Estilista com ascendências nigeriana e indiana apresenta roupas coloridas, divertidas e toda uma nova atitude de passarela.
Quando algum estilista diz que se inspira no cinema, Hollywood logo vem à mente. Não é o caso de Priya Ahluwalia. Honrando sua ascendência indiana, a inglesa olha para a cacofonia imagética e para estética única de Bollywood para construir sua coleção de inverno 2022. A representatividade da pele marrom, sem passar pelas lentes embranquecedoras da Europa, é parte central do trabalho da designer.
O cinema entrou no processo criativo da estilista durante a pandemia, com os cinco vídeos que produziu desde que a covid-19 mudou a forma de apresentar moda. Além das dos filmes para própria etiqueta, ela também apresentou um curta durante o Gucci Fest, a convite do diretor de criação Alessandro Michele, e um outro em colaboração com a marca Mulberry. Em 2021, a Priya também ganhou o prêmio Rainha Elizabeth II para design de moda, reforçando a importância de suas práticas responsáveis ambiental e socialmente. Sua presença na passarela nesta temporada é um passo importante em sua carreira, já que é a primeira vez que desfila presencialmente na semana de moda de Londres.
É interessante perceber como até o caminhar das modelos muda quando tiramos alguns padrões eurocêntricos da equação. Na Ahluwalia, as mulheres desfilam com as mãos no bolso ou na cintura, assim como a estilista nos agradecimentos finais – uma maneira de fazer uma entrada triunfante, segundo Priya. A paleta de cores também é nova, independente das tendências do momento, toda baseada nas paletas mais famosas dos filmes de bollywood. Trazer sua herança cultural à mesa faz com que a Ahluwalia se destaque em um mar cheio de moodboards parecidos com referências iguais.
Priya fundou sua marca após uma viagem aos seus dois países de origem, Índia e Nigéri,a em 2017. Na primeira, visitou Panipat, capital global de reciclagem. Na segunda, em Lagos, entrou em contato com a venda de peças no mercado de segunda mão. Foi então que entendeu como o consumo em excesso deixa rastros nestes países e em outros países, e decidiu fazer algo a respeito. Cinco anos depois, e toda uma prática sustentável construída em cima de olhar para itens descartados como principal matéria-prima, a estilista foi homenageada pelo British Fashion Awards como Environmental Leader of Change por sua produção responsável.. Mas esse é só um dos pilares de sua marca.
Neste inverno, terninhos poderosos, conjuntos de minissaia e cropped de bater cabelo na buatchy, shorts ciclistas estampados, vestidos longos e casacos enormes compõem seu imaginário. Toda uma sorte de looks para qualquer ocasião, com estampas orgânicas e acessórios importantes. Para eles, há camisetas que imitam a padronagem das famosas peças de merch de bandas, mas com personagens indianos, além de camisas de manga curta, calças larguinhas e estampadas e casacos. Mais uma vez, um guarda-roupa completo.
As práticas sustentáveis, apesar de ponto nevrálgico da etiqueta, não definem a Ahluwalia. Isso porque a estilista não gosta de ser colocada em caixas e prefere dizer apenas que tenta fazer roupas de maneira melhor, sem criar nada do zero. Isso só mostra o quanto a produção ética se tornou o mínimo, um ponto de partida para novas marcas. Sua produção parte de peças vintages doadas, de estoque parado ou de fios reciclados, mas isso não a impede de fazer uma roupa fresca. Essa é a nova cara da semana de moda de Londres.
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