JW Anderson, verão 2025 masculino

O estilista irlandês Jonathan Anderson encerrou o terceiro dia da semana de moda de Milão (16.06) com a apresentação da coleção masculina de verão 2025 de sua marca própria, a JW Anderson. Com ela, convidou os espectadores a uma soneca, ou melhor, a refletirem sobre a ideia do que é sonho e o que é realidade.

Começou pelo convite, uma camiseta com a expressão “real sleep”. A hora e o local do desfile também incentivava o descanso: pouco antes do anoitecer na cidade italiana (o sol se pôs por volta das 21h). A passarela estava decorada por lâmpadas incandescentes amarelas de luz baixa.

JW Anderson, verão 2025 masculino. Foto: Getty Images

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Outra curiosidade: o desfile da JW Anderson aconteceu horas depois da Prada, onde o argumento temático foi semelhante. Miuccia Prada e Raf Simons apresentaram looks cheios de jogos com os olhos, questionando também o que é real e irreal e encorajando o público a enxergar de perto para sacar a verdade.

Com Jonathan Anderson, no entanto, não é necessário lupa. Se o casaco é a peça principal da sua pesquisa nesta estação, a dimensão ampliada ajuda a entender tudo de cara. O primeiro blusão, por exemplo, cobre o corpo como um edredom acetinado e matelassado. Depois, vem o colete-vestido com jeito de casulo e, então, a bomber giga de trama aberta, a ponto de se ver o fio e sentir fácil a proposta de conforto.

JW Anderson, verão 2025 masculino. Foto: Getty Images

Junto com o relaxamento, chega o sonho. E uma série de tricôs remetem às fachadas das casas inglesas geminadas, de estilo georgiano, deixando nossa imaginação pensar em um Peter Pan prestes a invadir aquelas janelas. As proporções das roupas nos lembram uma criança, que experimenta a roupa dos pais. A trilha sonora, uma versão em piano do hit eletrônico “Better off alone”, toca como se fosse música de ninar.

Após o desfile, ao lado dos jornalistas, Jonathan Anderson afirmou que ele segue experimentando com a sua marca própria e, nesta temporada, testando principalmente como mudou a maneira do homem se vestir nos últimos anos. Daí que o mundo dos sonhos, a fantasia, funciona aqui como um paralelo para ideias menos rígidas e mais inusitadas de roupas para eles.

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Por isso, os casacos e as bermudas ganham babados de estilo vitoriano no pescoço e nas pernas. O trench coat tem um excesso de tecido nas costas, que lembra uma capa, e as blusas emborrachadas têm mangas arredondadas que poderiam ter saído de uma fábula. Existem também misturas surpreendentes de materiais, como a renda com silicone, e brincadeiras com nossas memórias visuais, como a gravata enorme e os tecidos que caem do pescoço feito balões estourados.

A parte mais interessante é que as viagens que Jonathan Anderson faz com várias referências acabam por criar produtos possíveis. Um dos exemplos é a parceria com a Guinness, famosa cervejaria irlandesa. A marca é dona de uma propaganda antiga e querida no país, com uma versão do clássico infantil “Brilha, brilha, estrelinha”, escrito em 1800, pela poeta Jane Taylor.

JW Anderson, verão 2025 masculino. Foto: Getty Images

“Chuckle, chuckle, through the night, You are such a cheerful sight. Up above the world so high, Like a Guinness in the sky”, toca o jingle da empresa. Na coleção, o logo da cervejaria é trabalhado com pérolas em um moletom, e está ao lado do desenho da lua presente no anúncio original.

Outro grande destaque é a nova bolsa loafer, que dá as caras já prometendo ser hit. Ela tem uma tira de couro, assim como a do icônico penny loafer, o mocassim original.

E aqui vale a história: chamado originalmente de weejun (variação da palavra norwegian), o mocassim surgiu na década de 1930, nas mãos do americano G.H. Bass, inspirado nos sapatos de pescadores noruegueses.

JW Anderson, verão 2025 masculino. Foto: Getty Images

Item fundamental do estilo preppy, com seu jeito entre o clássico e o descontraído, o mocassim virou penny loafer porque a tal da tira de couro que fica na parte de cima tem o tamanho exato de uma moeda de um centavo.

Nas mãos de Jonathan Anderson esse modelo tão tradicional do vestuário masculino vira bolsinha de mão. Mais do que um cochilo, o estilista aposta mesmo é no sonho que vira realidade, aquele onde, enfim, é possível se permitir mais com a roupa, tirando o garoto livre de dentro do homem.