Tudo sobre Louise Trotter, a nova estilista da Bottega Veneta

Nesta temporada, a britânica Louise Trotter estreia no cargo de diretora criativa da Bottega Veneta, que tem o intrecciato como assinatura há cinco décadas.


Louise Trotter
Louise Trotter, a nova diretora criativa da Bottega Veneta. Foto: Getty Images



Um dos desfiles mais aguardados do verão 2026 na semana de moda Milão é, sem dúvida, o da Bottega Veneta, no dia 27 de setembro. Razões não faltam. A casa italiana, que viveu ascensão meteórica no passado recente, perdeu o diretor criativo Matthieu Blazy para a Chanel, mas trouxe um novo sopro de frescor para o cargo com Louise Trotter, estilista britânica reconhecida por sua precisão e sensibilidade. Ela é atualmente a única mulher entre os diretores de criação da Kering, conglomerado que reúne nomes como Gucci, Saint Laurent, Alexander McQueen e Balenciaga. 

A expectativa é que Louise leve para as coleções uma elegância low profile, peças essenciais e sofisticadas, atenção aos detalhes e, claro, assinatura autoral. A curiosidade em torno de seu debut aumentou ainda mais depois que as atrizes Julianne Moore e Vicky Krieps, vestiram looks criados por ela durante o festival de Cannes. Mais recentemente, no festival de Veneza, entre agosto e setembro, o visual escolhido por Jacob Elordi também deixou pistas sobre o caminho que ela deve seguir.

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Julianne Moore em Cannes, dando um preview do que esperar da Bottega Veneta de Louise Trotter. Foto: Getty Images

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Louise assume uma maison de raízes artesanais profundas e seguidores cult. A identidade discreta, marcada pelo intrecciato, que celebra 50 anos em 2025, somada à integridade dos materiais, é parte do legado que agora está em suas mãos. Seu histórico sugere que ela lidará bem com a excelência da Bottega, embora carregue também a responsabilidade de projetar novos sucessos, sobretudo no segmento de bolsas.

Louise tem uma trajetória sólida. Depois de se formar em moda pela Universidade de Northumbria, na Inglaterra, cruzou o Atlântico para trabalhar na Calvin Klein e, depois, Gap e Tommy Hilfiger. De volta ao Reino Unido, liderou a Jigsaw e, em 2009, foi para a Joseph, onde passou quase uma década redesenhando o minimalismo da etiqueta com uma alfaiataria precisa, sobreposições táteis e um urbanismo elegante que consolidaram a marca como referência contemporânea de luxo.

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A coleção de verão 2019 da Lacoste, assinada por Louise Trotter. Foto: Getty Images

Em 2018, ela fez história ao se tornar a primeira mulher no comando criativo da Lacoste. Ali, trouxe linhas limpas, novas leituras da famosa polo e uma abordagem renovada, equilibrando minimalismo e experimentações de silhueta. Em seguida, migrou para a Carven em 2023, onde encarou o desafio de revitalizar uma maison parisiense clássica. Sua estreia foi recebida com elogios pela alfaiataria moderna, leveza despretensiosa e um romantismo sutil. Apesar da passagem breve, a designer reposicionou a grife no radar internacional. 

Descrita como intuitiva e inteligente, a atuação de Louise Trotter não é a da busca pelo impacto imediato e, sim, da criação de um legado. Ela se inspira na vida real e em como as pessoas se vestem, unindo funcionalidade e emoção. Suas peças, de casacos estruturados a malhas fluidas, transmitem sempre uma confiança natural. 

Quem foram os antecessores de Louise Trotter na Bottega Veneta?

Matthieu Blazy – ex-Raf Simons, Calvin Klein e Celine – ingressou na Bottega em 2020 como responsável pelo prêt-à-porter, sob a tutela do então diretor criativo Daniel Lee. Ele assumiu a direção após a saída repentina do então chefe. Com um olhar narrativo para a moda, ele gosta de transformar referências banais, como uma camisa xadrez, usando efeitos de trompe l’oeil (ilusão de ótica), enquanto explora silhuetas extravagantes. 

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O verão 2025 da Bottega Veneta, assinado por Matthieu Blazy. Foto: Getty Images

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Matthieu levou referências do cotidiano, cinema, arte e música para Bottega. Sua coleção de verão 2025, por exemplo, versou sobre os conceitos de usar roupas e se vestir bem, a partir da ideia de crianças vestindo as peças dos pais. O designer manteve os desfiles da marca como eventos altamente aguardados, unindo vanguarda artesanal e prestígio cultural. Também deu continuidade ao processo de transformar os discretos acessórios em objetos de desejo. Mas apesar da aclamação criativa, as vendas avançaram lentamente.

O impacto de Daniel Lee, que assumiu a grife em 2018, por sua vez, foi o de um furacão. Foi ele quem a reposicionou como fenômeno global, com crescimento de 1,5 bilhão para quase 4 bilhões de dólares em vendas. São deles também as peças-estrelas, como as bolsas Pouch, Jodie e Cassette e as sandálias Lido. Daniel ainda foi o responsável por associar o verde vibrante – próximo ao Kelly Green da Pantone – à label. Contudo, a despeito do sucesso, rumores sobre seu temperamento reservado e sua rotina noturna desgastaram relações internas, levando a uma saída abrupta. Segundo o WWD, a tensão nos bastidores atingiu o ápice no desfile em Detroit, em 2020, apontado como a gota d’água. Em 2021, ele deixou o cargo.

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Verão 2017 da Bottega Veneta, por Tomas Maier. Foto: Getty Images

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Realidade distante da postura contida de Tomas Maier, que ficou no cargo de diretor de criação por 17 anos personificando o conceito de “riqueza oculta”. Na ocasião de sua saída, em 2018, François-Henri Pinault, então CEO e presidente do conselho da Kering, disse que foram, em grande parte, as altas exigências criativas de Maier que recolocaram a Bottega Veneta no cenário do luxo. O designer alemão foi nomeado em 2001, depois que Tom Ford, então no comando do grupo, o contratou para liderar a etiqueta e tirá-la das dívidas e da obscuridade. 

Sob Tomas, a maison cresceu, ultrapassando 1 bilhão de dólares em vendas até 2012. Em 2002, ele criou a clutch Knot, que vem sendo revisitada até hoje e já cruzou inúmeros tapetes vermelhos nas mãos de nomes como Nicole Kidman, Sarah Jessica Parker e Zoe Saldaña. Para comemorar os 50 anos da marca em 2016, a empresa relançou a clutch que ficou famosa graças à Lauren Hutton no filme Gigolô Americano (1980), convidando a atriz como embaixadora. No ano passado, o modelo retornou atualizado e renomeado como Lauren 1980. As últimas coleções de Tomas Maier, entretanto, foram recebidas com reações mornas pela crítica, levando ao encerramento do seu contrato com a Bottega.

Passado e técnica

Fundada em 1966 por Michele Taddei e Renzo Zengiaro, a Bottega Veneta nasceu em sintonia com a herança cultural e artesanal da região de Veneza e baseada na ideia de que artesanato e alta-qualidade são as chaves para um estilo atemporal. O começo foi positivo e, nos anos 1970, já sob o comando do casal Vittorio e Laura Moltedo (ex-mulher de Michele Taddei), ganhou o slogan “quando suas próprias iniciais bastam”, em referência ao logo da Bottega Veneta e ao intrecciato. A ascensão da grife foi gradual e não esteve isenta dos altos e baixos de qualquer empresa em seus quase sessenta anos. 

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O intrecciato. Foto: Getty Images

O intrecciato, que comemora cinco décadas este ano, surgiu tanto como resposta criativa às limitações das máquinas de costura normal para trabalhar o couro quanto do desejo de criar artigos mais resistentes e duráveis com o material. Inspirado na tradição secular do trançado italiano, o diferencial veio da mudança de direção das tiras: em vez da posição horizontal convencional, a marca adotou a diagonal, com inclinação de 45 graus. Essa variação aparentemente sutil foi decisiva, permitindo bolsas mais suaves nas formas e mais dinâmicas no visual – nascia, assim, a assinatura e o playground da etiqueta. 

Para comemorar os 50 anos da técnica, a Bottega lançou em maio a campanha Craft is our language (Artesanato é a nossa linguagem), explorando o intrecciato como técnica e metáfora para conexão, colaboração e expressão humana por meio de gestos. Fotografada por Jack Davison e coreografada por Lenio Kaklea, ela reúne artesãos e nomes como os das atrizes Julianne Moore e Lauren Hutton e do rapper Tyler, The Creator.

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A campanha Craft is our language, com Tyler, the Creator. Foto: Divulgação

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Transmitida de geração em geração, a técnica é preservada no ateliê de Montebello, em uma villa do século 18, e se reinventa a cada temporada. Hoje, já existem mais de cinquenta interpretações, explorando diferentes cores, formas, estruturas e tamanhos. Em 1985, a princesa Diana foi fotografada com uma bolsa de alça longa da casa, aumentando o interesse pela label e pelo trançado. Nesse mesmo ano, Andy Warhol produziu o curta-metragem Bottega Veneta Industrial Videotape, mostrando desde o artesanato da marca até suas lojas americanas ao som de Madonna. 

Aos poucos, o intrecciato consolidou-se como um elemento imagético central, hoje associado diretamente ao conceito de quiet luxury. O novo modelo de bolsa é a tote Campana, releitura do modelo lançado originalmente no verão 2004. A intrecciato aqui trabalha com fettucce (tiras) ligeiramente mais largas, de quinze milímetros, criando uma textura macia e fluida, acentuada pela ausência de forro. Entre os sucessos mais recentes, há destaque para a Andiamo, lançada no verão 2023, a Tosca, modelo de ombro de 2022 que trabalha com fios tubulares em vez de planos, e a Sardine, do desfile de inverno 2022, o primeiro de Matthieu Blazy, que lembra o desenho da Jodie.

O intrecciato frequentemente ainda sobe às roupas desde a coleção de inverno 2000, quando o primeiro estilista da Bottega, Edward Buchanan (no cargo de 1995 até 2000), levou a técnica para um lenço e uma saia trançando couro e cashmere. Negro nascido em Ohio, Buchanan deu tom de inclusão à marca vestindo artistas da cena hip-hop e R&B, como Lauren Hill. Ele é um dos personagens da campanha Craft is our language. Depois, o designer Giles Deacon (2000 a 2001) propôs uma jaqueta biker para o inverno 2001. Tomas Maier e Daniel Lee seguiram o fluxo, abrindo ainda mais espaço para a técnica nas roupas. Calçados não ficaram para trás, com vários sucessos a passos largos, desde o primeiro par, um slingback flat apresentado em 2005, passando pela mule Lido e a bota over-the-knee Canalazzo.

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A bolsa Sardine, apresentada no primeiro desfile de Matthieu Blazy, no inverno 2022. Foto: Getty Images

 

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