Manu Gavassi é capa da ELLE View de outubro
Em ensaio e entrevista, Manu Gavassi fala de sua relação com as redes sociais, o período do reality, seu momento na moda e o sonho de criar sua própria série.
Quando decidimos falar sobre o impacto das redes sociais na nossa vida na edição de outubro da ELLE View, a ideia de trazer Manu Gavassi para estrelar a capa surgiu facilmente. Ela não é exatamente conhecida por ser uma youtuber, uma tiktoker ou uma típica influencer do Instagram — e tampouco é das que mais compartilha cada momento de sua vida nos Stories. Mas ela parece ter uma sabedoria e maturidade para lidar com essas redes (e não estamos só falando dos 130 vídeos que ela deixou previamente gravados antes de entrar no BBB), que só alguém que passou por diferentes tipos de exposição nos últimos dez anos conseguiria ter.
Em uma entrevista de uma hora e meia que está disponível para os assinantes da ELLE View, ela fala bastante sobre as angústias e as maravilhas de fazer parte da primeira geração que cresceu sendo observada e também observando tudo e a todos o tempo todo, por todos os lados. Uma geração que, assim como ela, está tentando viver sua multiplicidade, encontrar suas verdades e não surtar no meio do caminho.
No editorial de capa, ela interpretou dez diferentes personas que existem dentro de todos nós nas redes sociais, escolhidas pelo público por meio de uma
votação aberta no nosso site. De acordo com vocês, os nossos três principais moods envolvem compartilhar arte, música e poesia; consumir muitos memes e, ainda, estar sempre desejando dar um tempo das redes sociais (sem nunca conseguir). Coisas que Manu também compartilha.
Confira um trecho da entrevista aqui e
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Manu Gavassi é a capa da ELLE View de outubroFoto: Will Vendramini
Por que você costuma desinstalar o aplicativo do Instagram do seu celular?
Toda semana eu faço isso, porque vejo que não é só comentário, não é só crítica, é tudo. O acesso à vida do outro, o acesso fácil à fofoca. Quando vejo, estou sabendo da vida de todo mundo só porque abri o aplicativo e está ali. E isso às vezes gera uma comparação, gera uma energia que você emana para o outro e que emanam para você. E não é por críticas como as pessoas pensam, porque isso eu já estou bem adestrada em driblar. Não sei o que falam de mim nos comentários do Hugo Gloss quando eu lanço um clipe, por exemplo. Eu não sei, não quero saber e vivo bem sem saber. Se for grave o suficiente, isso vai chegar a mim de outra maneira. Se não chegou, é porque é uma pequena parcela de pessoas que está ali fazendo um barulho que só vai fazer mal para mim, para minha alma e para o meu propósito no trabalho. Então, não vejo mais. E isso eu até ensino a minhas amigas. Esses dias, conversei com a Gi
(Gizelly Bicalho, também ex-participante do BBB), e ela estava falando que isso tudo é muito novo e difícil, e eu falei “não leia comentários”. Se for importante o suficiente, vai chegar até você. Tenho uma dinâmica de acesso a coisas que são construtivas, e não destrutivas.
“É irônico que, no momento em que estava mais exposta e vulnerável, eu estava me sentindo mais livre, porque não tinha acesso a nenhuma opinião.”
Do que você consome nas redes sociais, consegue separar o que é para você e o que é para o seu trabalho?
É uma batalha interna conseguir relaxar. Esses dias, falei para você que eu tirei “férias”, que não eram férias exatamente, mas um tempo que queria guardar só para mim, ficar na minha casa sem fazer absolutamente nada, porque para mim é muito, muito, muito difícil desligar. Quando a gente trabalha com arte e precisa de inspiração, tudo acaba virando trabalho. Eu sonho em escrever e dirigir a minha própria série, por exemplo, então, tudo vira material de pesquisa, tudo o que eu vivo, inclusive. Na minha música, sempre transformei meus sentimentos em músicas.
No programa, você também sentia essa pressão?
Por mais irônico que pareça, o momento em que estive mais exposta na minha vida foi o momento em que mais consegui desligar. Durante o programa, eu não tinha obrigação nenhuma. A única obrigação que coloquei para mim foi participar. Só. Não tinha telefone tocando para me falar que eu tinha que entregar ou fazer tal coisa. E isso também em relação à minha autoestima, minha aparência. Fiquei três meses lá sem feedback algum das pessoas. Hoje, se eu for ver, vai ter gente falando: “Nossa que menina estranha, essa touca que você está usando é feia” ou “Ela não vai crescer? Ela é só colorida, não parece uma mulher”. Várias coisas que eu recebo, que sei que são besteira, acabam ficando na cabeça. E eu vivi três meses sem isso lá. Adoro o look que usei na final, do laço no cabelo enorme e flores, porque fazia muito parte de quem eu era naquele universo. Mas será que eu teria usado esse look se tivesse acesso durante três meses ao que as pessoas estavam falando de mim? Provavelmente, não. E isso me fez pensar: “Caraca, como a gente perde a nossa liberdade com a opinião das pessoas o tempo inteiro, né?” E como é irônico que, no momento em que estava mais exposta e vulnerável, eu estava me sentindo mais livre, porque não tinha acesso a nenhuma opinião. Estava só vivendo um dia de cada vez e isso me fez pensar em quem eu sou quando não estou trabalhando também. Quem eu quero ver, com quem quero conversar, o que quero fazer, o que quero assistir? Este talvez seja o maior desafio da minha vida: saber separar. Porque gosto muito do meu trabalho e desde pequena sou associada a ele.
Manu Gavassi é a capa da ELLE View de outubroFoto: Will Vendramini
Você costuma desistir de coisas no meio? Ou você insiste nas ideias até o fim mesmo não tendo certeza?
Eu desisto de ideias no meio, mas acho que tem muito a ver com a minha intuição, que estou aprendendo a ouvir. O processo do
Big Brother me fez entender muito mais como um ser intuitivo e respeitar isso. Quando você não tem acesso a nada, não tem o celular, nenhuma informação, e consegue ficar quieta com você mesma por tanto tempo, existe uma força dentro da gente que fala: “Esse é o seu caminho, querida”. Daí, se você não vai por esse caminho, essa força diz: “Você errou, querida. Eu te falei que esse era o seu caminho”. Mas, como a gente vive numa sociedade em que não se consegue ficar quieto, está sempre se entretendo, trocando informação, não conseguimos ouvir essa vozinha. Também sigo muito a intuição no meu processo criativo, agora mais do que nunca, porque intuitivamente decidi entrar num programa que eu jamais entraria na minha vida. Intuitivamente, decidi fazer 130 vídeos com desdobramentos do que acontecia lá, sem saber o que acontecia lá e sem nem saber se eu ia aguentar ficar. Então, se a minha intuição me trouxe tudo isso, por que não ouvi-la? Eu li Mulheres que Correm com Os Lobos e o livro também fala muito de intuição, que a intuição feminina é calada. Se tenho uma ideia, converso comigo mesma: “Estou fazendo isso pelos motivos certos? Isso é bom mesmo ou isso é ruim? Isso dá frutos ou é apenas uma cilada de meu ego?” Fico pensando nisso e assim não tomo nenhuma decisão por impulso. E a resposta sempre vem clara. Essa é a maior dica que eu poderia dar a nossa geração e aos criadores. Aprenda a se ouvir, aprenda a ouvir a sua intuição, porque isso dá trabalho. A gente passou uma vida inteira calando a nossa intuição. Essa é a maneira pela qual escolho os meus projetos hoje em dia. Tenho várias ideias sobre as quais eu penso: “Nossa, é isso”. Se dou uma semana para a ideia e ela some, é porque não era.
“A maior dica que eu poderia dar a nossa geração e aos criadores é: aprenda a se ouvir, aprenda a ouvir a sua intuição, porque isso dá trabalho.”
Qual é o papel da moda na sua vida hoje?
A moda para mim é a representação de como eu me sinto por dentro. É muito isso. Sempre que começo a questionar meu estilo, é um reflexo de uma mudança interna. Por isso sempre incentivo as pessoas a brincar com a moda e, quando eu digo brincar, é enxergá-la como uma ferramenta que está aí para te ajudar. Eu nunca me senti bonita vestida igual a todo mundo. Se me colocarem com a mesma roupa da moda, certinha, e não tiver minha personalidade, vou me sentir feia, não vou ter uma boa autoestima. Moda é você conseguir colocar sua personalidade para fora e ficar feliz. Só isso. E é uma coisa que pode até te ajudar. Por exemplo, no programa, eu sabia que ia viver períodos bem difíceis de isolamento completo, de nervosismo, então, pensei: “O que pode me dar alegria? Roupas coloridas podem me dar alegria. Se todo dia me olhar no espelho e tiver um pontinho colorido de alegria, já vou rir de mim mesma e vou seguir meu dia com uma energia diferente”. Então, usei a moda como uma terapia lá dentro. Eu não estava usando roupas coloridas todo dia fora de lá, e usei isso como ferramenta. Funcionou muito bem para mim, para a mensagem que eu queria passar às pessoas.
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