Marc Jacobs, verão 2025
Em tempos de mesmices e obsessão por básicos e clássicos, Marc Jacobs faz uma ode à criatividade sem barreiras.

Marc Jacobs voltou a abrir extraoficialmente a semana de moda de Nova York na noite de segunda-feira (03.02), com um desfile de cinco minutos de duração na Biblioteca Pública de Nova York. Chamada de Coragem, a coleção de verão 2025 é baseada em elementos de temporadas anteriores do estilista, bem como em algumas referências de criadores adorados por ele de longa data (Rei Kawakubo, da Comme des Garçons, Miuccia Prada, Rick Owens, entre outros).
Estão lá as roupas afastadas do corpo, como se fossem de bonecas, do verão 2024. As silhuetas dos anos 1950 e 1960 do inverno seguinte. As influências de trajes históricos das eras vitoriana, eduardiana e do século 18 do verão 2023, em homenagem a Vivienne Westwood, e as amarrações do inverno 2022. Só que agora tudo vem com proporções ainda mais exageradas, volumes inusitados e um tanto de alterações no ajuste e no posicionamento de costuras, pences e outros recursos utilizados para ajustar o caimento e a vestibilidade de cada item.
Marc Jacobs, verão 2025. Foto: Divulgação

Marc Jacobs, verão 2025. Foto: Divulgação

Marc Jacobs, verão 2025. Foto: Divulgação
Leia mais: Os 40 anos de Marc Jacobs em 7 momentos marcantes
Para explicar o nome e as formas pouco convencionais de seu verão 2025, Marc Jacobs escreveu um pequeno texto, em que diz ter entendido que o medo não é seu inimigo. “É uma companhia necessária à criatividade, autenticidade, integridade e à vida”, continua ele.
Não é difícil imaginar a origem de alguns medos de Marc. Na verdade, existem algumas maneiras de interpretá-los e de entender a relação (ou reação) do estilista a partir daí. Primeiro, tem a questão do tempo. Ou melhor, do passar do tempo. O designer tem uma carreira de mais de 40 anos, passou por altos e baixos e sabemos da pressão nessa indústria para se manter jovem e relevante. Em um contexto supermassificado, com overload de produtos, ideias e informações, isso pode ser bem assustador.
Marc Jacobs, verão 2025. Foto: Divulgação

Marc Jacobs, verão 2025. Foto: Divulgação

Marc Jacobs, verão 2025. Foto: Divulgação
O mundo, aliás, anda de cabeça para baixo, na constante iminência do apocalipse: caos climáticos, guerras, instabilidade política e econômica, onda de desinformação e por aí vai. Às vezes, é melhor fechar os olhos e sonhar com uma realidade paralela. Ainda mais quando lembramos da posse de Donald Trump e de seus discursos contra liberdades e direitos individuais. O que se viu na passarela é o oposto do que pinta o conservadorismo das falas do presidente. O estilo de vida e tudo mais que circundam e representam Marc Jacobs também batem de frente com as ideologias reacionárias do novo morador da Casa Branca.
Existem ainda os temores sobre as possíveis consequências econômicas das imposições tarifárias prometidas pelo mandatário estadunidense – que encareceriam os preços de roupas e acessórios. Se o consumo de moda já anda em baixa e as pessoas estão pouco dispostas a desembolsar grandes quantias de dinheiro, a perspectiva inflacionária amedronta.
Marc Jacobs, verão 2025.
Foto: Divulgação
Marc Jacobs, verão 2025.
Foto: Divulgação
Marc Jacobs, verão 2025.
Foto: Divulgação
Leia mais: Marc Jacobs, o ícone pop da moda
A marca de Marc Jacobs pertence ao grupo LVMH, que, em 2024, vendeu menos do que gostaria, segundo relatórios divulgados pela empresa. A estratégia do conglomerado até aqui tem sido aumentar preços e reforçar a oferta dos produtos tidos como clássicos ou best-sellers – de um jeito bastante homogêneo e sem muita emoção. Parece que isso também dá medo em Marc.
Para terminar, talvez seja possível resumir todos esses medos em uma coisa só: o cerceamento da liberdade. Liberdade de ser, viver, criar, vestir-se como bem entender. Quem explica é o próprio estilista: “Com liberdade preciosa, sonhamos e imaginamos sem limitações, ousando ser vulneráveis diante das críticas e do fracasso, não para escapar da realidade, mas para ajudar a navegá-la, entendê-la e confrontá-la – explorando por meio da curiosidade, convicção, compaixão e amor”.
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes