Miçangas: o material que está deixando nossos acessórios mais divertidos

Anos 1990, hippies, praia... Essas são as primeiras coisas que vêm à cabeça quando falamos em colares, pulseiras e brincos feitos com miçangas. Mas a origem das contas coloridas é muito mais antiga do que você imagina.


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Foto: All Beads



Uma das maiores tendências entre os acessórios em 2020, com certeza, foram as peças feitas com miçangas. Apesar de ser um material que nunca saiu completamente das ruas, o que chama a atenção agora é o visual muito parecido com o dos anos 1990, quando as bijoux feitas com elas eram usadas com a proposta de compor visuais mais animados e divertidos.

“Tenho notado que as pessoas estão mais abertas a procurar acessórios coloridos, com presença. Está muito comum misturar várias peças no mesmo look, saindo do minimalismo – que dominou por um longo tempo – e vir para uma coisa mais alegre”, analisa Laura Trisciuzzi, designer e diretora criativa da Flow Acessórios.

Para Ana Carolina Castello Branco, fundadora e diretora criativa da All Beads, isso também tem a ver com um revival dos anos 1990 na moda como um todo. “A gente vê muitas marcas fazendo coleções inspiradas na época, revisitando memórias, relançando modelos de sucesso, e as miçangas vêm junto, porque foram emblemáticas”, comenta.

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Várias marcas replicaram os colares de miçangas que Harry Styles usou no clipe Golden Instagram / Eliou

Só no Pinterest, plataforma muito usada por quem procura inspiração de looks, as buscas pelo termo “miçanga” aumentaram 69% entre setembro do ano passado e o deste ano. E, ao que tudo indica, o interesse por acessórios feitos com elas tem tudo para crescer ainda mais. Tivemos um gostinho disso na semana passada com o lançamento do clipe “Golden”, de Harry Styles. Os dois colares de miçanga usados pelo cantor deram o que falar e logo diversas marcas de acessórios começaram a replicar as peças criadas pela norte-americana Éliou – que, aliás, é a favorita da modelo Gigi Hadid. Manu Gavassi e Duda Beat são outras referências de estilo que não tiram seus colares de contas coloridas do pescoço.

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Manu Gavassi não tira os acessórios de miçanga do pescoço. Instagram / Manu Gavassi

A origem das miçangas

A história das miçangas no mundo é muito mais antiga do que se possa imaginar. Os primeiros centros de produção teriam surgido no Egito e na Mesopotâmia, entre os anos de 2400 e 1600 A.C, como registra a exposição “No Caminho da Miçanga: um mundo que se faz de contas“, inaugurada 2015 no Museu do Índio, com curadoria da antropóloga Els Lagrou. O nome vem de “masanga”, palavra de origem africana que significa “contas de vidro miúdas”. Porém, foram os romanos que começaram a difundi-las pela Europa ao usarem como moeda de troca nas regiões conquistadas por eles. Isso entre o primeiro século A.C. e o quarto século A.C..

Naquele período, as miçangas eram utilizadas na produção de acessórios usados por quem não podia arcar com joias feitas com materiais mais nobres, como pedras preciosas. Sua durabilidade, seu brilho e sua diversidade de cores, tamanho e formas sempre foram seus maiores atrativos, assim como a sua versatilidade para criar os mais variados ornamentos.

Aos poucos, nessa mesma lógica de escambo, elas foram se espalhando pelo mundo todo. A pesquisa de Els Lagrou aponta que, desde a viagem de Cristóvão Colombo ao Caribe, em 1942, elas têm papel primordial nas relações entre exploradores europeus e grupos indígenas – que viam as miçangas como preciosidades exóticas.

Aqui no Brasil, elas chegaram no século XVI pelas mãos de grupos franceses que comercializavam com os índios Tupinambá da costa brasileira. Logo, diversas tribos se apropriaram das miçangas em suas culturas e começaram a criar seus próprios costumes e mitos em torno delas. O mesmo aconteceu em outras regiões do mundo, o que contribuiu para que essas contas se tornassem um material extremamente versátil e diverso.

Processo artesanal na moda

“A moda pega por um momento, aproveita e depois deixa para trás coisas que perduram no tempo, como as miçangas”, analisa a designer Ana Catalina Marchesi, mais conhecida como La Pomponera. Ela estuda as técnicas usadas por tribos indígenas da América Central e da América do Sul para aplicar no seu trabalho, que consiste principalmente em sapatos, chapéus e bolsas personalizados com bordados feitos com miçangas.

E, de fato, depois do auge nos anos 1990 e no início dos anos 2000, as miçangas passaram a fazer apenas aparições mais sazonais entre as tendências de moda, geralmente associadas a um visual mais praiano no verão. Porém, elas nunca desapareceram das vendas de rua dos artistas hippies e das feiras de artesanato em geral, o que, de certa forma, fez delas motivo de brincadeira. Lembra da página de memes “Ajudar o Povo de Humanas a Fazer Miçanga”, sucesso no Facebook por volta de 2016? Ela é um exemplo de como os acessórios feitos com contas ficaram estigmatizados por um tempo.

“A miçanga cai muito em estereótipos. As pessoas já pensam nisso de peça baratinha, com baixo valor agregado”, comenta Laura, que como muitas crianças dos anos 1990, tinha como passatempo criar brincos, colares e pulseiras com esse material. “Foi um dos motivos que estudei moda. Eu gostava de inventar. Na faculdade, fazia bijoux e vendia. Talvez seja até por isso que a miçanga ficou meio abafadinha, porque qualquer um podia fazer”, avalia.

Catalina defende que está na hora de as pessoas valorizarem mais o trabalho feito com miçangas justamente por esse caráter artesanal e artístico. Para a designer, é muito importante conhecer os materiais, saber de onde eles vêm e o significado rico que existe por trás. “Quando uma pessoa conhece o que está usando, ela usa de outro jeito, dá mais valor.”

Laura concorda. Tanto que, na coleção de verão 2020 da Flow, tentou fugir dessa tendência mais divertida e nostálgica, que já estava vindo forte misturada com elementos mais modernos, e realçar justamente esse aspecto artesanal para trazer riqueza para as peças. “Acho que é algo que precisamos valorizar, ainda mais com a força que as miçangas têm na nossa cultura indígena.” Na visão dela, é justamente o caráter rústico, com suas texturas e cores, que torna esses acessórios tão especiais.

Tendência novamente

O que fez com que mesmo as meninas mais moderninhas e cool voltassem seus olhares para as miçangas foi vê-las associadas a elementos considerados mais sofisticados. Um dos objetivos da All Beads, criada em 2019 já com um foco mais fun, é de ser uma marca para ser usada com joias. “As miçangas conseguem ter uma infinidade de cores que permitem combinações nada óbvias para serem essas peças complementares”, explica Ana Carolina.

No entanto, também é possível afirmar o contrário, já que acontece uma via de mão dupla, com elas também ressignificando itens como correntes e pérolas de água doce. “Isso que eu acho o mais legal das bijoux. Você mistura coisas simples com outros materiais e levanta a produção de uma forma muito bacana”, analisa Laura.

Ela enxerga que essa combinação criativa e animada vem muito da forma como as pessoas têm encarado as suas relações com a moda ultimamente. “A gente está cada vez mais se descobrindo e se permitindo. Cada um está usando o que gosta, o que se sente bem e não necessariamente seguindo uma padronização como era antes”, comenta a diretora criativa da Flow. Para ela, estamos mais dispostos a criar nossos próprios estilos sem medo de ser julgados ou não estar de acordo com algo. “Com isso, todo mundo se permite ousar mais, a fazer misturas mais loucas.”

Tipos de miçangas, materiais, cores e texturas

Apesar de serem praticamente um sinônimo de “contas de vidro”, as miçangas também podem ser feitas de outros materiais, como madeira, cerâmica, pedras e plástico. As cores são as mais diversas possíveis e a variedade de texturas e acabamentos também é grande: foscas, brilhantes, metalizadas, craqueladas, lisas, estampadas e por aí vai. Os tamanhos, por sua vez, costumam variar entre 2mm e 30mm.

“Existe uma infinidade muito grande de opções. Considero miçanga todas essas bolinhas que, misturadas, trazem um efeito mais descolado – e mais divertido, talvez – aos acessórios”, comenta Laura. O importante é ter sempre um furo ao centro por onde um fio passa para a criação de colares, pulseiras, bordados e outras maravilhas.

Porém, mesmo com tanta diversidade, alguns formatos são considerados coringas e referência para todo mundo que trabalha com miçangas. Conhecê-los é o primeiro passo para embarcar nesse universo tão plural. São eles:

  • Rocaille: É o tipo mais comum! São aquelas miçangas redondinhas e pequenas. Elas são meio irregulares, tanto que, às vezes, fica difícil passar o fio pelo buraquinho.
  • Charlotte: Parece a rocaille, mas é mais achatada na entrada dos furos. Pode ter de um a três cortes na face para criar um efeito de brilho extra.
  • Triangular: Lembra os de cima, mas tem forma triangular com as pontas arredondadas.
  • Delica: Muito parecida com a rocaille, mas seu formato é mais regular e seu furo é maior. Esses quatro também são conhecidas como “seeds”, já que se parecem com sementes.
  • Canutilhos: É bem fino e comprido, os arredondados parecem um tubo. As laterais podem ser também torcidinhas (chamados de twist), quadradas ou hexagonais.
  • Vidrilho: Dá a impressão que o canutilho foi picotado igual a um canudo para ficar do tamanho das “seeds”. Tem também a versão twist e hexagonal.

Isso sem entrar na pluralidade de miçangas infantis, geralmente feitas de plástico ou borracha, que exploram formatos ainda mais lúdicos – como florzinhas, estrelas, frutinhas e letras coloridas. Nesse momento em que tem se valorizado a mistura materiais mais nobres com outros mais pitorescos, elas estão sendo muito utilizadas até mesmo em acessórios para adultos.

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Sri Clothing Reprodução

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Lulux Studio Reprodução

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Coisa Studio Reprodução

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ggggggaaaaaabbbbbbiiiiii Reprodução

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