NYFW: Fendi e Marni atravessam o Atlântico, de olho no mercado estadunidense

O que está por trás da invasão europeia na semana de moda de Nova York e outros destaques do fim de semana.


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É comum ouvir de quem mora em Nova York que raramente se encontra um nova-iorquino nato por lá. As pessoas estão sempre de passagem, vêm de outro lugar, muitas vezes em busca de algo que a cidade tem a oferecer. O emprego dos sonhos, uma promessa de uma vida melhor, algum tipo de autonomia e liberdade… Ou, no caso de algumas marcas europeias, um mercado e economia ainda menos impactados pela alta inflação, pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e pelos lockdowns intermitentes da China.

A semana de moda de Nova York começou na sexta-feira, 09.09, com desfiles das etiquetas locais Collina Strada e Proenza Schouler. A primeira trouxe referências históricas e construções mais elaboradas para suas roupas coloridas e feitas de maneira e com materiais ambientalmente responsáveis. A segunda, olhou para a origem cubana de um de seus fundadores, Lazaro Hernandez. O resultado foi uma alfaiataria mais sensual, com rendas, texturas e tramas de aspecto manual, franjas e barras flare.

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Collina Strada.Foto: Divulgação

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Proenza Schouler.Foto: Getty Images

Porém, o grande destaque veio do outro lado do Atlântico. Com um desfile para cerca de mil pessoas no Hammerstein Ballroom, a Fendi preparou um mega evento como há tempos não se via na fashion week estadunidense. Blockbuster mesmo, com uma penca de celebridades e supermodelos (na primeira fila, não na passarela. Nessa, só Linda Evangelista com uma capa azul-Tiffany no final).

A ocasião era o aniversário de 25 anos da Baguette, bolsa que todo mundo lembra como a primeira it-bag da história, mas que tem um feito muito maior: foi a responsável por solidificar os acessórios como carro-chefe na receita das marcas de luxo.

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Fendi.Foto: Ellen Fedors

Criada em 1997, por Silvia Venturini Fendi, a peça nasceu em Roma, mas ganhou fama em Manhattan – muito devido a sua presença recorrente no figurino da série Sex and the city. Daí a conexão américo-italiana. Mas não é só isso. Kim Jones, atual diretor criativo da casa, foi mais fundo na exploração da iconografia estadunidense. Fazendo jus a sua fama de entusiasta das colaborações, convidou Sarah Jessica Parker (a Carrie Bradshaw) e mais dois outros emblemas da moda local, a joalheria Tiffany & Co. e o estilista Marc Jacobs (ambos também administrados pelo grupo LVMH), para cocriarem algumas novas versões da Baguette e uma coleção-cápsula.

O desfile começa com o resort 2023 da Fendi, numa pegada mais urbana e nostálgica do estilo nova-iorquino no fim dos anos 1990 e começo dos 2000. Pense em peças superleves, cortes em viés, muita transparência, cores ácidas, alguns brilhos e elementos esportivos e utilitários. Junto a eles, vinham bolsas Baguete em todos os tamanhos, tecidos e com alças variadas. Tinha até pingente, chaveiro ou acopladas às modelagens.

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Fendi.Foto: Ellen Fedors.

O melhor, contudo, ficou para o final – e quase ofuscou tudo que veio antes. Eram uma série de looks quase todos de jeans branco ou tecido felpudo com a estampa Fendi Roma em verde neon, criações de Marc Jacobs, convidado especial de Kim Jones, que o considera o rei da moda estadunidense. Os dois estilistas trabalharam juntos quando Jacobs era diretor criativo da Louis Vuitton. As roupas seguem a mesma inspiração couture de suas últimas coleções, mas com volumes mais contidos, silhueta esguia e tecidos menos elaborados. Não é nada pesado, nem superreferencial.

Diz que Marc Jacobs quase não aceitou o convite. Achou que era coisa demais reverenciar o legado da marca e do estilista que a comandou por mais de 50 anos: Karl Lagerfeld. No fim, ele disse sim e aproceitou a chance única para ligar o foda-se e se divertir com o que lembra, respeita e admira na etiqueta. Sem muita preocupação, fórmulas pré-programadas ou obsessão em ticar todas as caixinhas de sucesso garantido imposta pelas redes sociais.

Francesco Risso, diretor de criação da Marni, é outro profissional que tem se esforçado um tanto para escapar das regras pré-estabelecidas do sistema da moda. Teve o desfile (verão 2022) em que os convidados foram vestidos com roupas feitas exclusivamente para cada um deles. Depois, aquele quase todo no escuro (inverno 2022) e, agora, o primeiro fora de Milão. Mais especificamente, embaixo da ponte Manhattan, na região conhecida como DUMBO.

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Marni.Fotos: Divulgação

A trilha sonora ficou a cargo da Orquestra de Cordas do Brooklyn (com o próprio estilista em um dos violoncelos), performando uma composição de Dev Hynes, colaborador assíduo da casa italiana. Na plateia, um time estrelado com Madonna, Doja Cat e Kendall Jenner. E na passarela uma das coleções mais belas já feita por Risso.

Com apelo DIY, o verão 2023 da Marni é feito de peças com modelagem e corte simples, com recortes e patchwork colorido, rico em texturas e estampas circulares inspiradas nas obras da artista Flaminia Veronesi. A variedade de materiais, a cartela de cores e a abordagem livre e despretensiosa sobre o corpo encontra eco num time de marcas nova-iorquinas, mas não somente, que há tempos flerta com outras searas culturais para romper convenções do vestir e do papel da roupas na construção social e identitária. Mais ainda, é desdobramento inteligente da maneira como muita gente tem se vestido ao redor do planeta.

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Eckhaus Latta.Foto: Getty Images

Um dos melhores expoentes dessa vertente é a Eckhaus Latta. Nesta temporada, a grife, que já tachada de artsy demais, chega quase toda focada em tricô. São camadas, recortes de pontos manuais e maquinetados de pesos, textura e opacidade variada. Tem desde de modelos com viés mais clássico até versões com pegada esportiva. Destaque aqui para os acabamentos em foil e para a silhueta mais próxima do corpo que já começa a se mostrar como uma das principais tendências da estação, depois de uma onda duradoura de peças oversized.

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