O que a saída de Sabato de Sarno da Gucci indica sobre a moda de agora?

A Gucci encerrou seu contrato com o diretor criativo Sabato de Sarno. O acontecimento repentino, a semanas do desfile de inverno 2025, indica algumas possíveis (e esperadas) mudanças na moda.


Estilista Sabato de Sarno ao final da apresentação de verão 2025 da marca.
Sabato de Sarno Foto: Getty Images



Hoje, a gente amanheceu com a notícia de que a Gucci encerrou seu contrato com o diretor criativo Sabato De Sarno. Ele estava no cargo havia dois anos. O anúncio, feito semanas antes do desfile de inverno 2025 (a apresentação será assinada por uma equipe de designers), indica que a situação não foi das mais tranquilas. A ausência de um depoimento oficial do estilista no comunicado enviado pela marca é outro indício de uma possível confusão.

Para além da boataria, o acontecimento joga luz sobre alguns pontos interessantes de discutir. O primeiro é a atual cultura e obsessão por resultados imediatos. Levando em conta só o tempo necessário para criar, produzir, distribuir e vender uma coleção, um par de anos é um prazo curtíssimo. Se considerarmos a parte mais conceitual da coisa, como encontrar uma visão equilibrada entre o legado da etiqueta e o estilo do designer, esses 730 dias são quase nada. Também nunca saberemos quanta liberdade e autonomia foi dada a Sabato.

Em uma matéria para a edição de fevereiro de 2024 da ELLE View, a economista e professora da FGV Carla Beni explica: “Essa obsessão pelo resultado, diminuindo seu prazo de entrega, é um dos componentes que fazem com que se tomem medidas apressadas e se incorram em erros estratégicos. Há que se mudar a cabeça do investidor para uma trajetória de longo prazo”. Uma divulgação anual seria o ideal, de acordo com ela.

Desfile de verão 2025 da Gucci, sob o comando de Sabato de Sarno.

Gucci, verão 2025. Foto: Getty Images

Leia mais: Gucci anuncia saída de Sabato de Sarno da direção criativa

Entre 2015 e 2019, sob a direção criativa de Alessandro Michele (hoje na Valentino), a Gucci cresceu cerca de 30% ao ano, uma média ligeiramente acima da concorrência. Nos anos seguintes, contudo, essa taxa despencou para abaixo de zero. Rolou a pandemia, o mundo virou de cabeça para baixo, o gosto e as prioridades das pessoas mudaram. Quando as coisas pareciam voltar ao que eram, lá por 2021, boa parte do setor de luxo teve 20% mais vendas do que em 2019. Menos a Gucci. Foi necessário um esforço tremendo só para chegar ao patamar pré-covid.

Meio que tardiamente, a Kering colocou em prática um plano não muito diferente dos seus competidores: focar nos clássicos e nos hits do próprio passado, design simples e aumento de preços. Não deu muito certo. No terceiro trimestre de 2024, o faturamento da Gucci caiu 25%, a terceira queda consecutiva registrada pela grife. Dito isso, imagina a pressão. Em outubro passado, Stefano Cantino assumiu o posto de CEO com a missão de reverter tal cenário. O fato de Sabato De Sarno não ter conseguido emplacar nenhum desfile, coleção ou peça mais emocionante só piorou. Não se questiona seu talento, mas o timing e as decisões estratégicas da chefia diante da gravidade da situação.

Outro ponto é um suposto cansaço – e desistência – das atenções voltadas exclusivamente para propostas tidas como seguras: os básicos de luxo, as reedições de best-sellers etc. Toda a recente dança das cadeiras nas direções criativas de grandes marcas tem a ver com isso. Moda não se vende nem se consome igual Danone. O que te faz comprar uma roupa – aquela roupa especificamente – é diferente do que te faz escolher o iogurte X em vez do Y. Não é só a embalagem, a origem, os ingredientes. Tudo isso importa, mas existem outros fatores determinantes na jogada: valor simbólico, status social, poder de marca e relevância histórica e cultural. Tudo isso parece voltar a ganhar mais peso (esperamos).

Leia também: Relembre o desfile de estreia de Sabato de Sarno na Gucci. 

 

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes