#olhaELLE: Projeto Moda Preta

Criado por sete jovens espalhados pelo Brasil, o Projeto Moda Preta é uma iniciativa que conhecemos pela hashtag #olhaELLE que fala de moda de forma não estereotipada.


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Mesmo antes de sermos atingidos pela pandemia do novo coronavírus, ter nossas leitoras e leitores participando ativamente do retorno da ELLE ao Brasil era um desejo enorme por aqui. Nosso
grupo no Facebook e os importantes debates que levantamos no Instagram antes do lançamento oficial do site são bons exemplos desse esforço, mas a
#olhaELLE merece um capítulo à parte.

Criamos a hashtag para encontrar pessoas que sempre acompanharam a ELLE e que tinham vontade de aparecer nas nossas páginas, mas não eram, necessariamente, modelos profissionais. O que chegou até nós, porém, foi muito além das nossas expectativas. Hoje, a hashtag conta com mais de 12 mil publicações de pessoas de todo o Brasil compartilhando seus trabalhos, suas ideias, suas belezas e experiências. A decisão de transformá-la em algo eterno foi natural e, além de estarmos sempre de olho para formamos castings que podem aparecer no site, na ELLE View ou na revista impressa, também decidimos falar um pouco mais da nossa comunidade neste espaço. Periodicamente, vocês vão encontrar por aqui projetos incríveis que merecem ser compartilhados e amplificados.

Começamos com o
Projeto Moda Preta, uma iniciativa de sete jovens de diferentes estados brasileiros que decidiram se movimentar durante a quarentena como uma forma de colocar algo inspirador no mundo mesmo em um momento tão difícil. À distância, os integrantes se conectaram pela primeira vez e juntaram referências e ideias para criar conteúdos que falassem de moda, individualidade, expressão e, principalmente, quebrassem o estereótipo de que pessoas negras só podem falar sobre racismo ou ganhar atenção apenas no mês da consciência negra. No Projeto Moda Preta, o grupo cria desafios para conversar sobre moda de uma forma bem atual, abordando consumo consciente, styling e dando dicas para se expressar com o que temos em casa.

Uma das partes mais interessantes do projeto é que ele não começou como um perfil no Instagram separado, mas sim como um desafio rotativo, que vai passando semanalmente pelo perfil de cada participante no Instagram — uma forma dinâmica e nova de divulgar o trabalho de todos os integrantes. Na #olhaELLE, foi postado um vídeo que encantou a redação, em que eles reimaginaram uma capa da ELLE em editoriais feitos em casa. O resultado você confere aqui embaixo junto com uma entrevista com o grupo que conta um pouco mais sobre o projeto. Acompanhem pelo Instagram dos participantes (
@samueux, @karoltobias, @nand_ oliva, @mike.dss, @_querdicaanjo, @_emymello e @everthonss) e, em breve, também pelo TikTok.

Como funciona o processo criativo de vocês?

Os nossos vídeos são feitos de uma forma bem democrática: a gente define tudo junto; cada um traz uma referência, algum conteúdo de inspiração, seja do Pinterest, TikTok ou até do próprio Instagram. Somos pessoas bem diferentes (o que é bem positivo), então debatemos sobre tudo para que saia a nossa cara. Além disso, a gente se conheceu o suficiente para entender o nicho de cada um do grupo, então, uma vez por semana, escolhemos um participante para postar o vídeo com todo mundo e o material é também pensado para “combinar” com o conteúdo habitual do integrante escolhido. Nosso intuito com isso é que o vídeo sempre seja vantajoso para quem posta — sempre conferimos o engajamento e a estratégia tem funcionado muito bem. Tentamos prestar atenção no que está em alta ultimamente, assim alcançamos cada vez mais pessoas.

Quais são os maiores interesses e inspirações do grupo?

Nossas inspirações são as nossas histórias e raízes. O grupo é muito plural, cada um tem um jeito de se expressar e o projeto é justamente uma maneira de expormos isso. Queremos mostrar nossas diferenças, que ser preto não é só o estereótipo que “fica bem” nas câmeras; que podemos estar em todos os espaços e falar sobre todos os assuntos. Nosso grupo tem uma sensibilidade à música “Amarelo”, do Emicida, quando ele diz: “permita que eu fale, não as minhas cicatrizes”, é sobre isso! Racismo, infelizmente, faz parte da nossa realidade, mas não é o que nos define. Também queremos ser ouvidos antes de um dos nossos ser um rosto, em um cartaz, pedindo por justiça. Queremos ser lembrados antes de novembro chegar.

Como a Covid-19 impactou o projeto que vocês realizam?

O Projeto Moda Preta foi criado durante a pandemia, então nós nem nos conhecemos pessoalmente, somos de lugares diferentes do Brasil, mas esperamos que quando tudo isso acabar, possamos nos conhecer. Como tudo é feito virtualmente, não fomos prejudicados em relação ao nosso processo criativo. Uma vez ou outra, temos alguns problemas pessoais, porque ninguém é de ferro, e estamos vivendo uma pandemia, então isso afeta o psicológico de todos. Mas, quando estamos nos dedicando ao projeto, somos livres para sermos nós mesmos, e acabou que criamos uma rede de afeto. E isso nos ajuda bastante! Propomos fazer todos os vídeos de “challenges” com o que temos e sem sair de casa. A gente até deixou isso bem nítido no vídeo da ELLE porque queríamos provar que é possível fazer um conteúdo bem legal sem deixar de ter responsabilidade.

Como a internet influenciou no projeto?

A internet é o projeto. Falamos isso porque ele nasceu a partir de um tweet da Keilla Vila Flor (@Kellvila) em que ela pedia para que criadores de conteúdo negros divulgassem seu trabalho, então as redes sociais foram a forma que nós encontramos para compartilhar o projeto com as pessoas. A nossa relação é inteira virtual, e, com a internet, criar o projeto e, além de tudo, uma amizade, se tornou possível. É dela também que tiramos nossa maior fonte de pesquisa, é onde nós buscamos referências, as músicas dos vídeos, as ideias de temas. Acreditamos ser de extrema importância para melhorarmos a cada dia porque a internet está cheia de inspirações.

Por que vocês decidiram postar na #OlhaELLE?

Desde que a ELLE voltou ao Brasil, nós percebemos uma grande diversidade de pessoas na equipe, nas matérias, em especial pessoas negras, e nós achamos que a revista tem muito a ver com nosso projeto, que está sempre preocupada em mostrar pessoas pretas fora dos estereótipos em que são colocadas. O desafio mostra o local onde a foto foi tirada e o seu resultado e, como sempre, a ideia surgiu em conjunto, algo que aperfeiçoa muito nosso trabalho porque sete mentes funcionam melhor que uma, né?! Então, decidir usar o nome da ELLE significa trazer o apelo de moda inclusiva, que é o que a gente acredita. “Eu conheço a ELLE de muito tempo, estudei muito as capas e os editoriais enquanto estudava produção de moda, acompanhei o fim da revista física e a volta em formato digital, inclusive participei do open casting. Sempre admirei muito o trabalho da revista, então não foi difícil pensar em fazer algo que já estava em alta”, divide Samuel Rodrigues, fundador do Projeto Moda Preta.

Vocês poderiam indicar três @s que admiram e que acham que mais pessoas deveriam acompanhar?

É bem desafiador escolher só 3 @s, tem muitos criadores negros fazendo trabalhos incríveis; muita gente que sem dúvida influenciou esse nosso primeiro passo. Mas hoje a gente deixa nosso carinho especial a Nátaly Neri (@natalyneri), Luana Carvalho (@lxccarvalho) e Bianca Dellafancy (@biancadellafancy). É incontável o número de coisas que aprendemos com essas três, e continuamos aprendendo. Todo nosso respeito e admiração por elas <3.

Em quais outras redes sociais ou endereços é possível entrar em contato com o Projeto Moda Preta?

Atualmente, estamos no Instagrm e é possível nos achar pela #ProjetoModaPreta e na conta dos participantes, que já compartilhamos com vocês. Mas, discutimos há um tempo e decidimos levar nosso trabalho para o TikTok também (
@projetomodapreta), porque achamos que é uma rede social com bastante potencial e que tem crescido muito recentemente. Queremos adequar o projeto à realidade dos participantes e alcançar um grupo de pessoas que somente uma plataforma não daria conta.

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