Paris Fashion Week: Loewe verão 2024

É possível um look tão comum quanto uma calça jeans com camisa carregar uma personalidade? Para Jonathan Anderson, diretor criativo da Loewe, sim. Em sua apresentação do verão 2024 da Loewe, neste quinto dia de Paris Fashion Week, (29.09), ele mostrou que o visual mais conhecido pode ainda assim ter uma impressão digital.

Um dos grandes destaques desta coleção é a continuação da parceria desse estilista irlandês com a artista estadunidense Lynda Benglis. Ela é uma escultora, que já havia ocupado o cenário da última apresentação da marca, a masculina de verão 2024, desfilada na metade deste ano.

Loewe, verão 2024. Divulgação

Benglis volta agora para o desfile feminino com seis esculturas, chamadas de Elephant Necklace e que compõem o cenário. As peças são em sua maioria metálicas, espiraladas e com uma textura bem crua. Feitas primeiramente de argila, elas depois são reproduzidas em escala maior, em materiais como o bronze. O desenho que parece meio produzido ao acaso ajuda a entender também a parceria entre ambos na criação de joias com volumes assimétricos, para essa estação.

Além da parceria com artista, vieram também algumas imagens já vistas antes no desfile masculino de verão 2024. Tanto lá quanto aqui, Jonathan Anderson afirmou estar preocupado com a roupa, que tudo é sobre a roupa. Tanto, que não surpreende essa roupa ter momentos de metalinguagem, como a sacada visual em que uma agulha fura o tecido. Aqui, ela funciona como um cinto para uma saia conceitual.

Loewe, verão 2024. Divulgação

Uma boa forma de entender o trabalho de Jonathan Anderson é lembrar que ele brinca com a estranheza até o nível do aceitável. O estilista está sempre dilatando a noção do que a gente entende por absurdo e o que isso tem a ver com beleza. Por isso, ele é dono também de alguns designs irreverentes bem famosos. Na Loewe, o top de antúrio e os sapatos de salto com balões. Na etiqueta própria e homônima, a bolsa em formato de pombo, o sapato com jeito de sapo.

Dessa vez, o estilista decidiu também interferir na silhueta das roupas para focar o contorno no corpo que essas peças dão. Brincando com cortes, alterando as proporções, ele colocou o cós da calça bem acima do limite da cintura, o blazer descendo mais do que o normal, o tricô oversized, meio vestido, e as mãos das modelos enfiadas em bolsos localizados abaixo do peito. São provocações com o nosso olhar, de maneira que a gente espera uma coisa, porque, afinal, são peças reconhecíveis, mas sempre vem outra, como um desvio.

Loewe, verão 2024. Divulgação

Vale dizer que, depois de algumas temporadas pop, a Loewe também voltou um pouco para o lugar de marca mais madura para o qual o estilista desenha. Ele mesmo já afirmou que tem a sua grife homônima para ser livre, e entende que a mulher Loewe já é mais certa sobre o que gosta, o que ela entende do mundo e ele respeita isso. E pareceu respeitar ainda mais agora.

Dá para sacar, por exemplo, que um visual mais adulto voltou. Está na paleta mais séria, com tons de marrons, cinza e azul escuro, pontuada por uma ou outra peça pink ou amarela mais vibrante.

Loewe, verão 2024. Divulgação

Além disso, dá para pegar tendências da estação, ainda que à moda da casa. Existe sobretudo essa vontade da temporada de olhar para itens cotidianos do guarda-roupa, como a camiseta polo, a camisa xadrez e o suéter de malha. A beleza, assinada por Guido Palau, lembra os anos 1950, com os cabelos finalizados com um leve topete. E as franjas também dão um perfume folk para essa roupa que se conecta com o vestuário historicamente entendido como masculino. A seriedade, no entanto, é quebrada por alguns elementos mais suaves, como os vestidos plissados, as minissaias e os tops de flores brilhosas.

Em resumo, a estação pisou no freio, bem mais do que no acelerador – e isso você percebe quando até mesmo Jonathan Anderson tá no mood de camisa e jeans. Não tem sido a estação dos acontecimentos de vanguarda, da próxima maxi tendência. Geral decidiu olhar para o aqui, o agora, o que vende. São ecos daquela ideia da roupa boa, bem feita e que cria desejo.

Loewe, verão 2024. Divulgação

O interessante, no entanto, é perceber que com pouco o estilista ainda surpreende, ele não perde a sua identidade. São peças comuns, mas de um jeito extraordinário. E não tem look mais representativo dessa história do que o último: um costume completo, mas que jogou os bolsos da calça tão lá em cima que a maneira como ele veste cria toda uma nova imagem do que é usar uma calça com paletó. Ou seja, o simples não precisa ser banal.