Paris Fashion Week: Valentino, inverno 2025
Com desfile dentro de um banheiro fictício, Alessandro Michele explora o conceito de intimidade no inverno 2025 da Valentino.

O desfile de inverno 2025 da Valentino aconteceu neste domingo (09.03), dentro de um grande banheiro público cenográfico, com direito a barulho de descarga na trilha, gente se olhando no espelho sobre a pia e pezinhos aparecendo por baixo das portas.
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
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Na apresentação, os modelos entram e saem das cabine sem uma ordem definida. A maioria tem a cabeça coberta por uma faixa ou touca à la balaclava. Na trilha, toca música eletrônica e a luz pisca na batida do techno. Fica claro que o brechó de Alessandro Michele, diretor criativo da grife desde o ano passado, está em plena ferveção.
Entre os looks dessa festa, há bodies usados sem fechar a parte de baixo, além de lingeries acetinadas ou rendadas, meias-calças e segundas peles. Transparências e roupas no mesmo tom da pele dos modelos emulam uma espécie de nudez.
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
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Os vestidos e bustiês apresentam drapeados e babados na parte da frente, uma referência bem marcante às criações do fundador da casa, Valentino Garavani. Na alfaiataria, claro, tudo é retrô. Os paletós são alongados e as calças têm as bocas abertas. Junto a casacos de pelo e jeans, o revival da vez fica entre os anos 1970 e 80.
A mistura típica de Michele segue com elementos esportivos, tipo o tênis e o tricô com zíper frontal, em produções mais barrocas. Os vestidos bordados, old Hollywood, aparecem ao lado de conjuntos new wave e punk. O tailleur e os modelos com peplum dividem espaço com camisolas românticas e vestidos de debutantes 80’s. A roupa de trabalho é usada com robe de ficar em casa e por aí vai.
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
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Em uma camiseta, lê-se Apolo e Dionísio em letras no estilo do alfabeto grego. Trata-se dos deuses da mitologia greco-romana conhecidos por características opostas: o primeiro é o deus da luz e da razão, enquanto o segundo é o deus do vinho e da desordem. Ah! Dionísio também é o símbolo do teatro. Informação importante para se ter em mente.
A escolha do banheiro é provocativa e cheia de significados. Trata-se de um lugar coletivo para momentos privados, onde você simplesmente pode fazer as suas necessidades básicas como também retocar a maquiagem. Não se faça de puritana, que certamente já ouviu uma história de pegação por lá ou de gente que aproveita o espaço para usar algo ilegal durante uma festa. No banheiro, dá para ficar sozinho, fugir, se isolar, se proteger, se sentir seguro. Nele, divide-se também os gêneros de forma binária. Para Alessandro Michele, isso tem um peso grande, uma vez que ele é um defensor ferrenho da roupa que flutua num espectro de gênero mais livre. A cabeça vai longe.
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
Valentino, inverno 2025. Foto: Divulgação
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Em um texto enviado à imprensa, Michele explica como esse lugar ajuda a falar sobre intimidade. Chamando a coleção de O Metateatro das Intimidades, ele afirma que está interessado em como é estabelecido socialmente que a intimidade está mais próxima da autenticidade, uma verdade oculta das pessoas, enquanto a aparência, a parte de fora que é pautada nas relações sociais, é superficial e mascarada.
Para o estilista, não é bem assim. Ele acredita que absolutamente tudo é teatro e, por isso, a referência a Dionísio como dito antes, o deus da festa, da esbórnia. “É o teatro da existência. Uma performance sem fim”. De acordo com Michele, a parte externa é tão importante quanto a interna, genuína e legítima. Ele até recupera uma citação de Paul Valéry para se explicar: “A coisa mais profunda no homem é a sua pele”.
Verdade seja dita, nesta coleção de inverno 2025 essa história fica mais no campo das ideias do que nas roupas em si. A pele segue forrada por tecidos, referências, épocas, mensagens e muitas decorações. Sim, é uma defesa de que a fantasia também é parte importante do que somos, mas o maximalismo aqui tende a parecer mais um esconderijo do que uma revelação de quem se é.
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