Quem é Gisela Dantas Rodenburg, o novo nome quente da moda

Executiva da Azzas 2154, empresa formada pela fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, ela é braço direito de Alexandre Birman e vai ajudar no branding e internacionalização das marcas do conglomerado.


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Gisela Dantas Rodenburg, a nova executiva do Azzas 2154 Foto: Arquivo pessoal



Não é por acaso que você ainda não ouviu falar muito dela. Até outro dia, Gisela Dantas Rodenburg tinha o Instagram fechado, coisa raríssima no mundo da moda. Low-profile, o tipo de pessoa que atua mais nos bastidores e fala baixo, Gisela poderia até passar despercebida. Só não passa por três motivos: é inteligente, muito bem conectada e, de lambuja, linda. Aparece quando tem que aparecer. 

Nascida em Salvador, criada no Rio de Janeiro, ela se formou em Relações Internacionais em Boston, fez especialização em moda na Parsons School, em Nova York, e ocupa hoje uma posição estratégica na Azzas 2154, empresa que acaba de nascer, depois da fusão da Arezzo&Co e Grupo Soma aprovada pelo Cade, em março. Foi parar nesta cadeira a convite do próprio Alexandre Birman e de Roberto Jatahy, as duas grandes cabeças por trás do negócio.

Não foi à toa. Gisela já havia trabalhado com Birman na internacionalização da Alexandre Birman, marca de calçados premium do empresário, e foi conselheira do Grupo Soma nos últimos dois anos. Entende de business e de estilo. Outro feito raro. 

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“Vim de universo de pessoas ‘corporate’, o que foi pra mim até um desafio existencial por muito tempo. Me interessava muito por arte e moda, por estética, e meu primeiro estágio de férias acabou sendo no MAM. Mas demorei para ter coragem de ir para esse mundo da moda, nem sabia direito que dava para trabalhar com isso”, diz.

Deu. De agência de publicidade à consultoria internacional de marcas grandes, de empreendedora à conselheira, Gisela Dantas Rodenburg reuniu experiência de sobra e está gravando seu nome no mercado. Mesmo que ainda seja sem fazer muito barulho.

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Confira a entrevista completa:

Como você começou a se interessar por moda? 

O pai da minha melhor amiga da adolescência tinha uma loja, a Chocolate, que era muito inovadora para a época. Ficava fascinada com aquele universo, visitávamos a loja aos fins de semana e ele costumava dizer que aquilo não era uma loja, era um teatro. Também lembro de acompanhar o GNT Fashion, na época ainda da Beth Lago, querer comprar as revistas de moda importadas, que eram caríssimas, implorava pra minha mãe comprar, era sempre uma negociação difícil (risos). Aí depois, veio a internet, o Style.com, e sempre fui essa curiosa compulsiva.  Até que, depois, já na faculdade (de Relações Internacionais com Economia),  fiz um estágio na África e amei estar perto de tanta gente brilhante. 

E como foi essa passagem de fato para a área?

Voltei para o Brasil ao final da faculdade e já vim trabalhar na África, no time de Planejamento, com a Carla Sá. Foi um período superinteressante. Comecei a entender que no fundo tudo era moda e comportamento, e tomei coragem para voltar aos Estados Unidos e fazer então um curso na Parsons. De lá, consegui um estágio na Chanel, na área de PR, e descobri o trabalho do Robert Burke, que unia tudo o que eu gostava: ter esse olhar para a moda, a aproximação com o criativo e, ao mesmo tempo, estar focado em business, em estratégia, em crescimento. Mandei meu currículo, ninguém me respondia, até que conheci uma pessoa que o conhecia e fez uma ponte. Fui para uma entrevista e, ao final, o Robert disse que eu podia começar na segunda-feira. Estava chovendo em Nova York e eu estava literalmente dançando na chuva! Fiquei muito feliz, até hoje somos grandes amigos, ele é o meu mentor. Neste período em que trabalhei lá, por coincidência, o Alexandre Birman era um dos nossos clientes. Fazíamos a estratégia de expansão internacional da marca dele, com foco no mercado estadunidense. 

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Ao lado do designer Fabrizio Viti, de quem foi sócia Foto: Arquivo pessoal


Na sequência, você empreendeu, certo? 

Sim, conheci meu ex-marido, que morava em Londres, e acabei me mudando pra lá, queria ter uma experiência na Europa também. O Robert até me ofereceu de abrir um escritório em Londres, mas não queria ter esse trabalho solitário, queria gente, queria trocar com outras pessoas. Trabalhei um período curto no Net à Porter e acabei fazendo uma viagem com o time de criação da Louis Vuitton para o Brasil, quando o Nicolas Ghesquière fez aquele desfile no Rio de Janeiro. Ficamos uma semana juntos, levei eles para São Paulo, Brasília, Inhotim e conheci o Fabrizio Viti, que era o designer de sapatos da marca. Nos associamos e, em paralelo ao trabalho dele na Louis Vuitton, lançamos a Fabrizio Viti em 2016. Era uma marca muito bonita, muito bem feita. Pausamos porque veio a pandemia e fazer esse tipo de produto é algo muito específico e caro. 

De volta ao Brasil, em 2022, você entrou no Grupo Soma como conselheira. Qual era seu papel principal na empresa e como essa mudança aconteceu? 

Quando eu comecei a ver as notícias da compra da Hering, marca da qual sou fã, quis conhecer o Roberto (Jatahy, CEO do Grupo Soma). Cheguei até a montar uma apresentação sobre a Hering! Na mesma época, abriu uma vaga no conselho, uma cadeira que era de um dos fundos de investimento, do qual sou muito próxima. Entrei com essa missão de representar e zelar pelos acionistas, do menor aos maiores, além de passar minha visão de moda. Na verdade, não consigo olhar para uma marca e não olhar para o negócio, por mais que me considere uma pessoa esteta. 

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Com Alexandre Birman, Katia Barros e o time da Farm Foto: Arquivo pessoal

 

E como você enxerga a moda brasileira?

Eu acho que o brasileiro é extremamente criativo. A Farm é um grande exemplo pra gente tirar um pouco essa ideia de síndrome do vira-lata. Temos muita moda autoral, muito lifestyle “pra vender”. A Katia (Barros), que é uma mulher genial, foi capaz de encapsular essa cultura carioca numa marca e isso é muito exportável. Brinco que a Farm é a Ralph Lauren brasileira. Se olharmos para os sapatos, que é um business de trend, também vamos muito bem. A Arezzo cumpre essa função de disseminar categorias de moda, enquanto a Schutz, cada vez mais, de sair um pouco mais na frente, ser mais de vanguarda. 

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Quais são os desafios?

O grande gargalo no Brasil ainda é a questão da matéria-prima. As marcas que importam tecido de alta qualidade, como a Paula Raia ou a própria Cris Barros (que faz parte do Azzas), ficam com um desafio muito grande de exportar. A Farm conseguiu driblar isso produzindo no exterior também. No geral, podemos e devemos ser mais globais. Não gosto da ideia de Fast-fashion, mas gosto muito da ideia de uma moda boa por um preço acessível. 

Como surgiu o convite pra o Azzas?

Eu já estava pleiteando um cargo mais executivo no Soma e, durante a fusão, acabou surgindo essa oportunidade, o Alexandre desenhou essa cadeira. Entro para somar, não transformar nada. Minha função é ajudar o Alexandre, que tem um nível absurdo de produtividade e de gestão, e trabalhar com os times das marcas para ressaltar cada vez mais a identidade de cada uma e gerar valor. 

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Ao lado de Victoria Ceridono, fundadora da Vic Beauté Foto: Arquivo pessoal


E vai dar pra olhar pra 34 marcas? 

Claro que numa empresa tão grande existem marcas com diferentes perfis e necessidades, e olhar para todas ao mesmo tempo é impossível! No momento, estou mais próxima de Hering e Animale, das quais já estava mais ligada por conta do Soma mesmo, mas a ideia é ir conectando até os líderes de cada marca, pra que eles possam trocar mais, gerar mais sinergia e oportunidades para os negócios. Pretendo potencializar o melhor de cada equipe, que é repleta de profissionais brilhantes, para agregar no branding e nos movimentos globais. 

Pra terminar, com sua bagagem de negócios, moda e empreendedorismo, o que te chama mais atenção numa marca na hora de você querer investir nela, por exemplo?

É engraçado, eu olho menos a marca e mais o empreendedor. Eu amo empreendedores, depois de criativos, é a classe de gente que mais gosto (risos). Tomei muito na cabeça empreendendo, então, quando você conhece alguém que tem o brilho no olho, a expertise, o diferencial, que não faz nada superficialmente, como é o caso da Vic Ceridono (Gisela é cofundadora também da Vic Beauté, marca da jornalista e influenciadora), tem vontade de fazer aquele business rodar. Sou cofundadora, mas a marca é 100% a Vic. O que mais fiz foi botar pilha e juntar pontas. 

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