Semana de moda de Londres: Molly Goddard verão 2024
Molly Goddard revê feminilidade com anágua e corset desabotoado, em seu verão 2024, na semana de moda de Londres.
Ao som de “I’ll Send You a Witch”, Molly Goddard colocou as suas modelos para cruzarem a casa de leilões Christie’s, usando uma faixa amarrada na cabeça, durante a edição de verão 2024 da semana de moda de Londres.
E, assim como as referências do desfile, que passeiam do século 19 aos dias de hoje, a silhueta é igualmente diversa e vai dos micros aos longos. Mas, no geral, o comprimento das saias deixa os pés à mostra, ou melhor, a bota com cadarço ou a sapatilha de amarrar à vista.
Molly Goddard, verão 2024. Divulgação
Esse vela e revela está presente nos vincos e pregas, que levantam o tecido e deixam aparecer uma parte da anágua, ou o que quer que esteja ali embaixo. Provocação semelhante rola também no styling e na construção de algumas peças, como os corsets de costas abertas ou os vestidos que já têm a parte de trás não fechada. Um look faz lembrar até mesmo as calças “bumster”, aquela criada por Alexander McQueen com decote traseiro que vai até onde não se pode mais.
Apesar de todos esses artifícios, a sensualidade construída por Goddard não é óbvia. Do mesmo jeito, seus famosos vestidos volumosos, em tons pastel e cheios de frufrus, não são imagens literais de ultra feminilidade. Aqui, lingerie e cardigan andam juntos e nem sempre em equilíbrio, vale dizer (tendência que começou no inverno 2023, muito devido à Miu Miu, e vem ganhando força no verão 2024).
Molly Goddard, verão 2024.
Divulgação
Algumas das propostas da estilista são de uma boa pele aparente, enquanto outras são de enclausuramento total. E nem sempre está tudo na mesma produção, o que faz sentido, porque ninguém é equilíbrio puro toda hora, nem mesmo uma equação matemática ambulante.
Em determinado momento, a sua apresentação nesta semana de moda de Londres caminha para uma imagem doméstica que embaralha ainda mais o olhar. Goddard recupera uma memória de casa, com vestidos com jeito de avental ou roupas acolchoadas parecendo edredom.
Molly Goddard, verão 2024. Divulgação
Algumas modelos surgem como quem faz parte da mobília, uma continuidade da cortina ou do papel de parede. E fica no ar se a apropriação é uma ressignificação ou se reforça a ideia da mulher que é tão parte da casa que uma coisa não se desvincula da outra.
Uma pena que isso esteja mal resolvido principalmente nas modelos que não são magras. Se essas são as bruxas de Molly Goddard, como sugere a trilha, a sociedade já vem dizendo o mesmo há séculos e parece faltar uma ironia, deboche ou desvio do esperado.
Molly Goddard, verão 2024. Divulgação
Por outro lado, a estilista afirmou à imprensa que esta coleção reúne alguns de seus temas preferidos, ideias de roupas femininas que ela mais gosta, além de um trabalho grande por trás de tudo – algo que ela, uma amante do processo, adora.
Ou seja. Molly Goddard afirma existir muita Molly Goddard aqui, o que nos faz pensar ainda mais na delicadeza de seus gestos. Um exercício também de leitura.
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