SPFW N56: Mateus Cardoso

Em estreia poderosa, o estilista e alfaiate Mateus Cardoso desfila coleção com o que há de mais essencial em seu trabalho e mais um tanto de novidades no segundo dia da SPFW N56.


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Mateus Cardoso, na SPFWN56. Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite



A estreia de Mateus Cardoso na SPFW N56 é importante por alguns motivos. O primeiro tem a ver com o próprio estilista, um alfaiate de mão cheia e de apenas 26 anos. Já era hora de mais gente conhecer o seu trabalho. O segundo tem a ver com o que isso representa para a moda masculina, há tempos sem brilhar com tamanha consistência. E o terceiro com a valorização e renovação da alfaiataria tradicional.

A coleção desfilada na tarde desta quinta-feira (09.11) mostra ao mesmo tempo os elementos definidores do estilo da marca e a grande evolução nesses três anos de ateliê.

SPFW N56

Mateus Cardoso. Marcelo Soubhia/ @agfotosite

Essa não é a primeira vez que Mateus desfila. Em 2019, um ano depois de se formar na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, ele conquistou uma vaga no line-up da Casa de Criadores. Algumas peças daquela coleção – compradas e usadas por muita gente – aparecem agora em versão atualizada. É o caso das jaquetas com recortes e amarração meio corset, meio quimono. As melhorias no corte, modelagem, tecidos e acabamentos são visíveis.

SPFW N56

Mateus Cardoso. Marcelo Soubhia/ @agfotosite

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Dá para dizer o mesmo sobre os blazers de silhueta quadrada/boxy, com lapelas destacadas e ombros marcados com um desenho arredondado e nada exagerados. E sobre suas camisas com uma proporção levemente ampliada. Os shorts e calças de cintura não alta, mas no lugar, também são bons conhecidos – e queridos – de seus clientes. O que a maioria dos convidados não esperava era a variedade de casacos e jaquetas, materiais, acessórios e looks femininos.

SPFW N56

Mateus Cardoso. Marcelo Soubhia/ @agfotosite

A maioria dos clientes de Mateus Cardoso são homens. Pedidos de mulheres já rolaram – e rolam, inclusive –, mas a oferta nunca foi comunicada enfaticamente. Daí, a surpresa. Na passarela, a proposta traz frescor e desejo para toda uma nova clientela em potencial. 

 

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Mateus Cardoso. Marcelo Soubhia/ @agfotosite

Mais do que isso, atesta a sensibilidade, atenção e entendimento do estilista para realidades que ultrapassam o ateliê, a prática e seu universo criativo. A distinção entre eles e elas é precisa e sutil ao ponto de se tornar irrelevante – não fosse a resistência do mercado sobre o assunto.

Dias antes do seu debut na SPFW N56, num breve e raro intervalo (nossa ligação aconteceu precisamente às 22h46 de uma sexta-feira), Mateus contou que já pensava nessa história há uns três ou quatro anos. “E depois de tanto tempo focado no ateliê, nos atendimentos sob medida, comecei a sentir falta de montar uma coleção completa e apresentar isso como um desfile. Acho importante esse momento, essa forma de comunicação”, disse.

SPFW N56

Mateus Cardoso. Gabriel Cappelletti/ @agfotosite

É que o estilista nunca teve pressa (que é diferente de ansiedade). O tempo, para ele, é um fator importantíssimo na equação para que o resultado atenda seus padrões de exigência técnica, criativa e visual. O que se viu hoje foi mais uma prova disso. 

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Além de produtos bem pensados, coerentes, que podem facilitar ou fazer diferença real na vida de quem se dispõem ao investimento, Mateus mostrou uma série de looks feitos a partir da desconstrução de paletós e camisas. Pense em bustiês feitos de colarinho, um blazer com a tela e feltro da modelagem bordado do lado de fora ou a camisa presa na frente do corpo, como se fosse um vestido frente única ou sem alça.

SPFW N56

Mateus Cardoso. Marcelo Soubhia/ @agfotosite

É um tipo de imagem poderosa bastante incomum nas últimas temporadas de semanas de moda brasileiras. É fruto de uma construção habilidosa que interessa não só pelo visual, mas principalmente pela união entre o tal lado comercial e o criativo, numa relação de troca equilibrada e respeitosa. Em outras palavras, é uma roupa que não depende de narrativas nem de truques de cena. É uma roupa encanta pelo que é. Simples assim.

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