Helmut Lang, desfiles e a volta da ELLE Brasil

O ex-estilista e artista plástico Helmut Lang retorna em uma colaboração com a Saint Laurent. Neste Pivô, explicamos esta parceria criativa e aproveitamos para falar desse que é um dos maiores ícones da moda dos anos 90.


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  • Na última quarta-feira, dia 30, o ex-estilista e artista plástico Helmut Lang apresentou uma colaboração artística com Anthony Vaccarello, o diretor criativo da Saint Laurent;
  • Lucas Boccalão, editor de moda da ELLE, explica os principais legados deixados por Lang, ícone dos anos 1990 que marcou uma geração de designers;
  • E ainda: os highlights das semanas de moda de Milão e de Paris; as denúncias de assédio envolvendo um ex-executivo da agência de modelos Elite; além de bastidores do grande retorno impresso da ELLE Brasil.

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Na última quarta-feira, dia 30, rolou o lançamento da colaboração entre Helmut Lang, o próprio, e o estilista Anthony Vaccarello, diretor criativo da Saint Laurent. Calma, não foi uma colaboração de roupas. Bem, pelo menos não do jeito tradicional que estamos acostumados a vê-las. Ambos apresentaram uma exposição com obras que seguem o formato de produção de Lang, que consiste em triturar parte do arquivo de roupas de luxo, dessa vez da Saint Laurent, e transformá-lo em esculturas rústicas, colunas negras.

Neste Pivô, além de explicar melhor essa parceria, que faz muito fashionista chorar só de imaginar, a gente também fala um pouco mais do legado desse estilista e artista plástico que, sem dúvidas, marcou e muito uma geração de designers durante os anos 1990.

A ideia do belga Anthony Vaccarello era a de chamar Helmut Lang para produzir juntos uma coleção de jeans. O pedido, no entanto, foi negado prontamente pelo ex-estilista autodidata e hoje artista plástico, que considera a sua relação com a produção de roupas finda. A saída, então, foi Vaccarello entrar na onda de Lang e partir para a produção de arte. E essa foi uma boa desculpa para o estilista que também já não estava muito a fim de adaptar um desfile para os moldes de 2020, porque considera a passarela parte importante do seu show. Vaccarello assinou então um conjunto de esculturas com este que foi um dos maiores designers dos anos 1990.

O método de criação dessas obras é bem parecido com o que Helmut Lang vem fazendo em sua carreira de artista plástico, principalmente desde 2010. Ele já criava obras desde sempre, mas intensificou a produção em 2005 e criou um método nesta última década, depois que um incêndio destruiu parte do acervo de roupas que construiu ao longo de sua vida. Helmut Lang decidiu então pegar o que sobrou e fazer arte com isso. Ele transformou as roupas ou os restos de roupas em massas moldáveis para esculturas orgânicas. Algo que, com certeza, chocou vários de seus fãs.

É possível fazer uma análise meio psicológica da produção, de quem fecha um ciclo e constrói um novo a partir dos restos do primeiro. Mas também há um jeito meio social de ver a coisa. É retirado o aspecto sagrado de uma roupa de luxo, quando se lembra que uma camisa não passa de uma camisa, ela é o trabalho de um artesão em cima de um material qualquer.

Lang fez o mesmo com a Vaccarello e as roupas da Saint Laurent. Triturou as peças e as reduziu a um material plástico o suficiente a ponto de moldar esculturas negras que formam, em geral, colunas bem rústicas. Ao se aproximar delas, é possível perceber um pedacinho de tecido ou a valiosa corrente de uma joia Saint Laurent. Mas a imagem afastada é a de peças brutas, como se fossem pedras, algo bastante diferente do que se presume de uma coleção de roupa de luxo. A exposição com as obras está aberta desde a quarta-feira passada no antigo espaço onde ficava a Colette, em Paris, mas passará ainda por Los Angeles, nos Estados Unidos.

Mas, afinal, quem é Helmut Lang? A gente começa citando alguns dos principais legados deixado por este ex-estilista: ele é o responsável pela primeira coleção apresentada online na história, lá em 1998. Foi ele quem começou a usar aquela parte de cima dos táxis nova-iorquinos, tão característica, pela primeira vez como marketing de moda; é ele também quem mudou o calendário de moda, quando deixou de desfilar em Paris e foi para Nova York, puxando a principal semana de moda norte-americana para antes das tradicionais capitais europeias. Mas, acima de tudo, ele é um dos maiores nomes quando falamos de uma roupa tratada como peça de arte, influenciada pela arquitetura e movimentos artísticos como o minimalismo, numa desconstrução perfeitamente orquestrada.

Esse jeito multidisciplinar, de envolver moda com arte vem desde o começo. A sua primeira coleção foi apresentada em 1984, no Centre Pompidou, em Paris, e toda a sua carreira é marcada por grandes colaborações com artistas visuais. E quem explica isso é o Lucas Boccalão, editor de moda da ELLE Brasil:

“A produção artística é uma característica que define bastante o trabalho dele. Ele foi um dos primeiros estilistas senão o primeiro a criar uma apresentação de moda que também era uma apresentação de arte. Os exemplos são as colaborações dele com a Jenny Holzer e com a Louise Bourgeois. Ele tinha essa produção artística no processo de criação das peças. O jeans que ele pintava, usava tinta automobilística, as peças que ele mergulhava em verniz prateado e dourado e criava aqueles efeitos incríveis e que depois o mundo inteiro copiou. Ele sempre teve essa relação de usar processos de criação de arte nas roupas e também inspirações desse universo”

Além de ter ajudado a redefinir a silhueta na década de 1990, Lang também foi um dos principais responsáveis no uso de materiais e técnicas inusitadas na moda, como os artifícios mais tecnológicos e esportivos, como o Lucas explica:

“A principal característica para entender o design do Helmut é o utilitarismo. As peças sempre tiveram essa imagem prática, mas os utilitários eram de fato o mais interessante. A jaqueta tinha alças que eram para ser carregadas como mochilas, as calças e outras peças tinham vários zíperes e bolsos e revelavam outros materiais e partes. A ideia de esconder o capuz, esconder punhos, que só se revelavam quando você se vestia e de dentro saíam os punhos de neoprene para proteção. E o utilitarismo é a característica que ajuda a entender o design do Helmut porque era isso que trazia o trabalho de vanguarda dele para a realidade. Ele fazia um trabalho ultramoderno. A pesquisa de materiais dele, os tecidos eram super tecnológicos, as fabricações que ele usava eram muito à frente de seu tempo. Ele criou inovações que são usadas para construções de roupas até hoje, mas o que trazia essa roupa conceitual e de vanguarda para o guarda-roupa, para a rua, esse ambiente urbano, eram essas soluções utilitárias e essa imagem prática da roupa. Então o utilitarismo era a quebra para trazer o design de vanguarda dele para a realidade. Uma curiosidade muito interessante e que pouca gente sabe é que toda essa imagem utilitária, esse visual de roupa de performance e esportiva, vem da juventude dele. Ele é austríaco, sempre foi um homem superatlético e que fazia escaladas. A ideia das alças, as jaquetas carregadas como mochila, as faixas de bandagem que vinham ao redor da roupa não saiam do fetiche, vinham na verdade das roupas de escalada, das proteções e amarrações que seguravam o corpo e o tronco em uma montanha. Isso é muito interessante.”

Ao final da década de 1990, o estilista vendeu a parte majoritária de sua empresa ao Grupo Prada. Mas desde 2006 a etiqueta foi repassada para outro outro grupo, o Link Theory Holdings. E, desde 2005, não conta mais com o próprio Helmut Lang na direção. Ele hoje em dia vive uma vida bastante low profile, em Long Island, nos Estados Unidos, onde cuida de pássaros e toca o seu trabalho com esculturas. Mas fica aí o que seria a maior contribuição que ele deixou para novos criativos: muito mais do que pensar temporadas exclusiva para cada estação, um estilista também pode construir uma linha de raciocínio parecida com a de um artista plástico, reconhecendo a evolução de um processo criativo ao longo do tempo. E agora pra ele não é sobre roupas. Ou, pelo menos, não do jeito que estamos acostumados a vê-las.

E na semana passada a gente não só mergulhou na apresentação da Prada como também citou alguns highlights da semana de Milão. Hoje a gente termina de contar quais foram os outros destaques que rolaram por lá.

A começar pela Versace que, no mínimo, pegou muita gente de surpresa. A marca italiana decidiu homenagear a coleção Trésor de la Mer, do verão de 1992, de Gianni Versace, aquela com conchas brilhosas, meio Pequena Sereia, aplicadas nos bojos de vestidos. Com pegada marítima, corais fluorescentes, blocos de cores, babadinhos flamboyant, a proposta foi quebrar a explosão Miami da coleção de Gianni com um pouco de esquisitice. Mas não foram as roupas o grande momento, e, sim, a escolha de integrar ao casting três modelos não magras — o que, é bom pontuar, não significa gordas.

A grife, conhecida por ter construído um universo de sensualidade em cima de um corpo muito específico, o chamado bombshell, definido na base de exercício, escultural nos padrões clássicos gregos de beleza, quebrou essa tradição nada legal. Ver um corpo curvo na passarela de Donatella Versace, ainda mais de barriga de fora, pode parecer algo pequeno para a humanidade, mas é um passo gigante para a Versace e um sinal dos tempos, de que não há marca que sobreviverá sem maior diversidade.

E para você conhecer essas mulheres que mudaram um pouco a casa italiana, foram elas a inglesa Alva Claire, a norte-americana Precious Lee e a holandesa Jill Kortleve, que no instagram é conhecida como @jilla.tequila. Em seu perfil, a modelo escreveu que “este é um momento histórico de uma das marcas que ela sempre sonhou trabalhar. E que espera ter aberto as portas para uma nova geração que tem os mesmos sonhos e não se veem em revistas ou comerciais”.

Já na Moschino, Jeremy Scott decidiu homenagear a tradição da alta-costura, com um teatrinho de marionetes. O designer foi atrás da empresa de efeitos visuais Creature Shop, fundada por Jim Henson, o criador dos Muppets, para recriar modelos como bonecas. Nas roupas, vestidos de princesa, com volumes, plumas, laçarotes e até um modelo de noiva fechando, no ato final. No teatrinho, um Jeremy Scott de miniatura recebe os aplausos de figurões da moda, também bonecos, que estão sentados na fila A. A composição faz um jogo entre o real e o ficcional, não dando pra saber o que é bolha fashionista e o que é uma sacada de ironia sobre o que é verdadeiro e sincero na moda e aquilo que não passa de encenação.

Na apresentação da Pucci, o destaque foi a coleção cápsula de Tomo Koizumi. O designer japonês apresentou 11 looks que são, literalmente, uma fofura: os babados que são a marca registrada de Tomo, ganharam uma paleta de cores com rosa, amarelo e laranja, que compunham linhas sinuosas à la Pucci nos looks supervolumosos, que davam vontade de apertar.

Entre os nomes mais jovens, com certeza o destaque fica para a dupla Simone Rizzo e Loris Messina, os donos da Sunnei. A marca, que fez um bom trabalho ao longo dos últimos meses com apresentações digitais, modelos e roupas modeladas digitalmente em 3D, optou agora por um desfile presencial, seguindo as normas de distanciamento e usando como locação o espaço de uma piscina vazia, num centro esportivo construído na década de 1930, em Milão. A roupa segue meio minimalistona na modelagem e solta no corpo, algumas vezes mais esportiva, outras vezes criando uma silhueta de túnica. Foco para os acessórios, principalmente a bolsa de alça grossa e volumosa, que promete virar um hit. E o desfile veio como uma comemoração. Na semana passada, a marca recebeu investimentos da plataforma Vanguard Group, para poder expandir os seus negócios fora da Itália. Além disso, a Sunnei aproveitou a deixa para anunciar a inauguração de seu Palazzina Sunnei, uma sede que deve funcionará como espaço criativo para a comunidade de artistas e designers que orbitam a marca.

E quem fechou com chave de ouro foi a Valentino. Como a gente já havia explicado, a casa tem uma tradição de se apresentar em Paris, mas dessa vez fez o seu desfile presencial em Milão, declarando à imprensa todo um apoio à moda italiana, da qual a grife é uma das maiores referências. O evento aconteceu em um galpão onde funciona uma metalúrgica, mas a coleção não perdia o romantismo tradicional da grife, com os seus vestidos esvoaçantes, o trabalho em cima da imagem de flores, que ajudam a pensar a paleta, a estampa ou a decoração de sapatos e bolsas. Alguns momentos lembraram a alta-costura, que se tornou o grande cartão de visitas da casa, mas de maneira geral a apresentação foi bastante jovem, usável, e não necessariamente com o uso de itens extremamente esportivos, como a marca já fez antes em seu ready to wear masculino e feminino. Trata-se de uma Valentino on point, que traz o que há de melhor do universo da marca, e de uma forma que encaixa bem nas ruas sem forçação.

Já em Paris, a Balmain veio com uma série de roupas para fervidos. Com adaptações de looks da grife, lá da década de 1970, a alfaiataria ganhou modificações, como ombreiras pontudas, o fechamento em moulage, a calça virando bermuda, cortada pouco acima do joelho e as cores acesas em neon. Mas a grande atenção foi para as saídas tecnológicas que a marca buscou para a sua divulgação. Que não necessariamente deram certo. Depois de ter falhas com a transmissão na temporada de alta costura, feita no Tik Tok, a casa colocou as fichas mais uma vez nessa rede. E não só. Também foi pro Facebook, Instagram e até mesmo pro Linkedin mostrar o evento. Além disso, quase cinquenta convidados foram instalados nas primeiras fileiras por meio de televisores. Tratavam-se de vídeos dos convidados previamente gravados, e não conexões diretas, uma artimanha pra driblar o fuso horário. Mas se a intenção era soar delicado com quem não pode comparecer, acabou por soar muito mais rude com quem esteve de fato presente e foi jogado literalmente para trás das máquinas.

E se na Balmain o clima das roupas era de festa, na Dior não rolou qualquer contraponto pro pijama da quarentena. Maria Grazia Chiuri preferiu se manter no campo da roupa confortável, discreta, usando no máximo estampas paisley e características hippie e boho para contar uma história. As silhuetas se mantiveram naquilo que ela vem trazendo temporada após temporada, como os tops usados com hot pants, ora sozinhos, ora com vestidos transparentes, plissados e bordados. Dá pra sentir uma sensibilidade, uma noção de autocuidado, de autoproteção nessas peças. Mas tudo vibra pouco na passarela. O que tem feito muita gente questionar se as cartas de tarô dessa mulher mística criada por Grazia Chiuri estão um pouco desgastadas.

O desfile, no entanto, não passou despercebido. Uma manifestante invadiu a passarela com um tecido amarelo com os dizeres: “somos todos vítimas da moda”. Na hora, ninguém soube ao certo se fazia parte da apresentação ou tratava-se de um protesto. Momentos depois, um grupo ambiental, o Extinction Rebellion que no ano passado já havia interrompido algumas apresentações da semana de moda londrina, reivindicou a autoria da ação. Para o Women’s Wear Daily’s, Sidney Toledano, chairman e CEO do grupo LVMH disse “há empenho em reduzir o nosso impacto ambiental, cortando nossas emissões de dióxido de carbono, rastreando matérias-primas, entre outras iniciativas. Eles não deveriam nos ter como alvo porque há muitas outras indústrias que poluem mais”.

Outra apresentação que engajou bem nas redes foi a coleção no formato filme da estilista Marine Serre. Com aproximadamente 11 minutos, jeitão distópico, como se passasse em um laboratório experimental ou outra galáxia, o curta contou com as participações da cantora Sevdaliza e de Juliette Marie, amiga e colaboradora da designer. Nele, modelos apareciam cobertos pela segunda pele com estampa de lua, que já virou uma marca registrada da casa. Já as outras peças seguem em uma pegada industrial e utilitária, que muitas vezes parece uma vontade de ser contemporânea ainda que artifício já seja usado há muito tempo. De toda maneira, o trabalho da estilista é sim um dos mais conectados com o seu tempo, principalmente pela capacidade da designer de regenerar tecidos e criar em cima de materiais de reuso. Trunfo este que não necessariamente é ressaltado no filme, mas deve ser valorizado.

E aí, quem queria estar em Paris agora? Pois é, a gente tem mais um motivo pra ficar morrendo de vontade de ir pra lá. Na quinta-feira passada, foi reaberto o Palais Galliera, o Museu de Moda da Cidade de Paris. A edificação, do final do século 19, estava fechada desde 2018 para restauração e ampliação. Depois de uma reforma que custou cerca de 10 milhões de euros, bancada pela prefeitura e também com apoio da Chanel, o Galliera dobrou sua área de exposição e é agora o primeiro museu da capital francesa com uma coleção permanente exclusivamente dedicada à moda.

A nova área de exposição, de 700 m2, ocupa as antigas caves do edifício, onde antes ficavam os arquivos do museu. Batizado de Galerias Gabrielle Chanel, o novo espaço vai abrigar mostras temporárias e peças selecionadas do acervo permanente da instituição, que tem mais de 200.000 itens e conta a história da moda desde o século 18 até os dias atuais. Com a reforma, o museu também ganhou espaços para uma oficina educativa e uma livraria.

Para marcar a sua reabertura, o Palais Galliera já começa com uma superexposição de fechar o quarteirão. A mostra Gabrielle Chanel – Manifesto de Moda faz uma retrospectiva do trabalho da estilista que revolucionou a moda do século 20. São cerca de 350 peças, que vão do look marinheiro de jersey dos primeiros anos da carreira de Coco a vestidos luxuosos da década de 30 e a alfaiataria icônica das décadas de 50 e 60. A mostra traz ainda retratos de Coco Chanel, uma sala inteiramente dedicada ao perfume Chanel número 5, além de joias e acessórios que foram cedidos por diversas instituições do mundo e acervos particulares para o evento. A mostra fica em cartaz no Palais Galliera até março de 2021, para visitas com horário marcado, por causa da Covid-19.

E Rihanna, mais uma vez, encheu a gente de motivos pra aclamar essa mulher! Na sexta passada, a cantora e empresária lançou no streaming da Amazon Prime o Savage X Fenty Show Volume 2, uma mistura de apresentação de coleção, show de música e dança e também manifesto poderoso pela diversidade e inclusão.

Diferentemente do Volume 1 apresentado no ano passado, que começava mostrando os bastidores da preparação do evento e terminava com o show em si, esta nova edição já começa com apresentações. E vai intercalando as performances dos bailarinos e de cantores como Rosalía, Miguel, Bad Bunny e Travis Scott, com um minidocumentário que mostra, principalmente, o processo criativo de Rihanna na elaboração das coleções de underwear – que agora, além das cobiçadas lingeries, tem também calções e robes masculinos.

Os 56 minutos de filme são divididos em quatro partes: Inspiração, Mood, Sexualidade e Comunidade, e trazem falas de Riri e sua equipe, além de depoimentos de alguns nomes do casting, que é simplesmente matador: tem Lizzo, Demi Moore, Willow Smith, Gigi Goode, Bella Hadid e Soo Joo Park, só pra citar alguns nomes.

Pra falar um pouco mais sobre o novo show da Savage X Fenty, a gente chamou a nossa repórter Ísis Vergílio, que também é bailarina. Ela não aguentou esperar nem o alvorecer do dia 2 e já assistiu tudo no meio da madrugada. Fala, Ísis!

“Estou passada até agora. Juro. Eram 3 horas da manhã e eu estava como? Enfiando a cara no travesseiro e gritando pra não acordar a vizinhança e a minha filha. Gente, de cara, você já vê um solo da Parris, que é a coreógrafa do show e as duas numa cena muito bonita, a Parris com umas garras, com unhas bem longas, e a Rihanna frenta a ela. E de fundo uma narração que falava sobre você ser leoa, e você não pode ser domada, uma selvagem… Eu gosto muito de como eles falam sobre a questão do selvagem, porque eu acho que remete ao que a Rihanna vem construindo enquanto legado desde quando a Fenty surge. Que é uma mudança radical no mercado. É sobre isso. É sobre uma diversidade riquíssima não somente dos bailarinos e dos corpos, dos modelos, mas também compreender essa pluralidade pra além daqueles corpos que estão ali, que já carregam as suas vivências, as suas experiências. É você colocar vários elementos da cultura. Várias referências da cultura. Tudo ali. Teve cenas que eu achei muito bonitas, tem muita meia arrastão, que remete a coisas de cabaré, da França; tem muito baby hair, que já me veio Josephine Baker na cabeça. Todos os passos têm cenas que elas trazem como referência o Bob Fosse, que é um coreógrafo importantíssimo. Acho que quem assistiu All that Jazz vai lembrar de alguns passos e vai fazer essa observação. As peruquinhas pretas que já me veio Liza Minelli, entre outros momentos. Teve o momento auge pra mim, que foi o momento da Lizzo performando pro espelho. E que eu acho que tem a ver com aquilo, que a Rihanna propõe nesse desfile uma mudança radical no entendimento sobre beleza. É sobre você estar bem com você mesma. É sobre você se sentir plenamente bem com você. Quando ela fala sobre a sexualidade, que a sexualidade é algo a ser conquistado, por quê? Porque a gente vive num contexto em que principalmente mulheres negras que historicamente são hiper-sexualizadas, precisam se despir desse pensamento que é colonial e se olhar de outra forma. Então, a cena da Lizzo no espelho, se olhando profundamente, performando pra ela, acima de tudo. Então, é muito foda.Tem muita coisa, muita referência, então, gente, assistam, apenas.”

E a dica de hoje não vem de uma pessoa específica da redação. A equipe, em peso, indica a primeira edição impressa da ELLE Brasil, que acabou de sair do forno. É isso mesmo: a gente retornou primeiro com o site, em maio, depois com a ELLE View, a nossa revista digital mensal, em julho, e agora, depois de dois anos, finalmente, a ELLE volta a ter publicação em papel.

E, olha, só pegando na mão pra sentir o poder da edição! A ELLE voltou em formato maior, com 25 cm de largura por 34 de altura, papel da melhor qualidade, de madeira de reflorestamento, claro, tudo para valorizar o conteúdo que está de capotar.

Só os nomes escolhidos para as quatro capas feitas para essa estreia já são de emocionar: apenas Gilberto Gil, IZA, Djamila Ribeiro e a rapper Katú Mirim. Dentro, você vai encontrar entrevistas com cada um deles, feito por um time fera de jornalistas.

Nesse momento em que a cultura passa por uma crise tão grande no nosso país, a nossa primeira edição vem pra celebrar e relembrar a importância das artes na nossa sociedade. Então, tem editorial de moda inspirado no cinema nacional, com fotos deslumbrantes do Gleeson Paulino; outro editorial inspirado nos textos de Clarice Lispector, fotografado por Nicole Heiniger; e mais um terceiro editorial baseado nas obras do artista visual Dalton Paula, com imagens lindas feitas pelo Edgar Azevedo.

A edição traz entrevistas imperdíveis com Harris Reed, designer que quebra todos os estereótipos de gênero; com Francisco Costa, que fala da sua marca de beleza Costa Brazil, e um texto da escritora Jarid Arraes, explicando a importância do resgate da obra de Carolina Maria de Jesus e outras autoras negras. Até o Arnaldo Antunes participa desta edição com um poema que você vai ler em primeira mão na Elle.

E isso tudo é só uma parte do que você vai encontrar nas nossas páginas, que ainda têm muito mais imagens incríveis e textos deliciosos, pra você passar horas e horas folheando.

Ah, uma curiosidade: pra gente conseguir realizar os ensaios da revista, a equipe teve que seguir todos os protocolos de segurança para prevenção da Covid-19. Só para essa edição, foram feitos cerca de 75 testes anti-covid. Uma pessoa ficava na porta do estúdio aplicando os testes e, se alguém desse positivo, tinha que voltar pra casa. Quem conta um pouquinho mais dos bastidores da edição, mais especificamente, sobre como foi feita a capa com Gilberto Gil, é a nossa diretora de redação Susana Barbosa, que acompanhou tudo de pertinho. Conta tudo, Su!

“Todo o processo de fazer essa capa com o Gil foi muito tranquilo, porque apesar de algumas dificuldades iniciais, ele é uma pessoa muito tranquila, a equipe foi tranquila, então, ele gostou das ideias que a gente propôs. A maior dificuldade foi instalar o cenário que a gente tinha pensado pra estúdio numa das salas do Hotel Emiliano. O Gil, desde o começo da pandemia, tem feito isolamento e não tem saído do sítio dele no interior lá do Rio por nada. Ele veio a São Paulo pra algum compromisso e a gente aproveitou pra fazer essa capa junto. Então, ele não queria se deslocar muito. A ideia inicial era montar esse cenário no estúdio, mas a gente teve que adaptar tudo pra uma sala no Hotel Emiliano, que não era muito alta, então, a gente estava preocupado se ia dar certo ou não, mas no fim sempre dá! E foi num domingo, no fim da tarde. E quando ele entrou, ele ficou muito maravilhado com tudo o que o Luciano Schmitz, que é o diretor de criação da ELLE, tinha preparado. Tinha uma troca de cenários, a gente tinha quatro looks pra ele provar. E ele é muito calmo, muito sereno. Ele falou: “Como vocês quiserem”. E a gente mostrou os dreads que a gente queria colocar no cabelo dele e eu achei que ele não ia topar fazer isso a essa altura da vida, mas ele falou: “Ah, vamos sim, se vocês acham que é bom, vamos fazer. Vamos fazer por último”. Mas no fim ele fez as duas últimas fotos com dread, se divertiu e, enfim, fez tudo o que a gente pediu, jogava o dread, segurava o dread, fez mil expressões, ele é muito expressivo. E passou com a gente três horas e curtiu muito todo o processo. Pra gente foi uma alegria enorme ter o Gil também, que representa tanto pra nossa cultura, que é o tema da edição, a cultura. Então, o Gil é uma entidade no Brasil, uma entidade cultural. Foi um prazer enorme ter ele com a gente nessa edição e espero que você vejam a edição, vale a pena, é uma edição pra guardar, pra ler sempre que quiser. É uma edição atemporal que marca muito esse período do Brasil, que a gente está vivendo, e essa volta da ELLE, claro, que vem pra provocar discussões, pra fazer a gente pensar, refletir e também com imagens lindas e inspiradoras pra acalentar nossa alma, um pouco. Um beijo.”

A edição número 1 da ELLE impressa já está nas melhores bancas do país e também pode ser comprada online no nosso site, www.elle.com.br. Se você preferir, pode fazer também pela internet a assinatura da Elle View + a Elle impressa. Lembrando que ELLE View é a nossa revista digital mensal e a ELLE impressa vai ser publicada quatro vezes por anos. Não perca esta edição, que já é histórica.

Essa semana a nossa dica é a revista impressa da ELLE Brasil, mas lembrando que se você quiser sugerir, perguntar, conversar com a gente… Enfim, participar do próximo episódio do Pivô, basta entrar em contato por uma das redes sociais da ELLE Brasil ou pelo nosso grupo do Facebook, o ELLE, O Grupo.

Este episódio usou trechos das músicas I love Paris, de Cole Porter, por Les Negresses Vertes, Live you life, de T.I., com Rihanna, Finally, de CeCe Peniston, Blinding Lights, de The Weekend e Crystal, de New Order.

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