Moda é coisa de “viado”?

Sim, e não só! É de lésbicas, bissexuais, transsexuais, travestis… No episódio #6 do Pivô, a importância de toda a população LGBTQIA+ na história desta indústria.


ToK8fo54 origin 180



  • Do look de influência lésbica À La Garçonne ao fundamento da cultura Ballroom: com direito a participação especial do chanter Félix Pimenta, pioneiro desta comunidade em São Paulo, o episódio #6 do Pivô fala da importância e contribuição de toda a população LGBQTQIA+ na história da indústria.
  • A coleção da grife espanhola Loewe, inspirada em Divine, a Drag Queen do Século.
  • A Semana de Moda de Paris está confirmada para setembro e o nosso editor de moda, Luigi Torre, comenta a retomada dos desfiles pelas grifes.
  • A saída de Sophia Amoruso da GirlBoss


Ouça o Pivô em: Spotify | Apple Podcasts | Google Podcasts | Overcast | RSS

Se preferir, você também pode ler este podcast:


Nesta semana, eu conversei com a minha partner, a Patricia Oyama, e com a redação da ELLE Brasil para sugerir esta pergunta aí que está no título do episódio #6 do Pivô. Isso porque eu imagino que muitos profissionais LGBT como eu, ou até mesmo os que não são, mas que decidiram ou caíram de alguma maneira no trabalho com moda, já ouviram esse tipo de associação.

E a gente bem sabe de onde vem essa ideia: muitas vezes de um lugar preconceituoso, pejorativo, com o objetivo de estigmatizar, estereotipar não só a população LGBTQIA+ como as contribuições importantes que ela tem nesta e em outras indústrias.

Mas aí nós decidimos rever e tentar ressignificar esta questão: moda é coisa de viado? E já adiantamos que sim. E não só, que fique claro! É também de lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, interssexuais e muitos outros integrantes deste guarda-chuva que simbolicamente é retratado pelo espectro do arco-íris, ainda que suas vidas sejam bem menos coloridas, principalmente quando se trata da população mais vulnerável desta comunidade.

No mês em que celebramos internacionalmente o orgulho LGBTQIA+, o Pivô fala da importância e da influência de todas essas letras na história da indústria da moda.

Eu sou o Gabriel Monteiro. E eu sou Patricia Oyama. E você está ouvindo o Pivô, podcast que reúne as principais notícias de moda da semana, comentadas pela equipe da ELLE Brasil.

Para entrar neste assunto é necessário lançar mão de teoria, porque apesar de evidente, a relação entre a população LGBTQIA+ e a moda não é uma história amplamente contada. Pesquisas voltadas para este campo crescem, mas a perspectiva da moda por esta lente muitas vezes fica restrita à academia ou a publicações relativamente caras.

Um dos nomes que se debruçou sobre o tema foi Valerie Steele, historiadora de moda e diretora do museu do Fashion Institute of Technology. Steele é autora do livro A Queer History Of Fashion: From the Closet to The Catwalk. Ele foi lançado em 2013 e tem um preço salgado, está por volta dos 400 reais.

Mas ele é um dos poucos que traça este histórico importante de contribuição LGBT+ ao longo das décadas. Principalmente depois da segunda metade do século 20, esse legado vai desempenhar um papel central na criação da moda moderna.

A moda é um instrumento de comunicação, de experimentação e de expressão para todo mundo, mas muito especificamente para pessoas LGBT. Sexualidade, identidade e o jeito como a gente se veste estão em constante interconexão. E, não à toa, a autora Virginia Woolf escreve em Orlando da capacidade das roupas de mudar a nossa visão do mundo e a visão do mundo sobre nós.

São várias as enumerações levantadas por Valerie Steele para esta relação mais íntima entre moda e LGBTs. Uma delas é o fato de que a opressão e até mesmo a criminalização em torno de sexualidades e identidades de gênero fizeram com que esta população frequentemente criasse códigos de vestimenta. Eles serviram como ferramentas de comunicação, de identificação e até mesmo de proteção.

A autora também lembra que a moda é um setor criativo, o que acabou por envolver muitos LGBTs. Ela faz até uma associação bonita, senão psicanalítica, de que esta relação próxima entre a comunidade e os setores criativos fala não só de um desejo de expressão mas também de uma possibilidade de criar um mundo alternativo de beleza.

E esta é uma relação de vaivém, porque também foram as pessoas LGBT em grande parte responsáveis por criar e estabelecer essa indústria onde ela está. E aí você pode justificar que, apesar de agregar muitos profissionais LGBT a moda não é necessariamente LGBT. Mas, ainda que o trabalho criativo deste profissional não tenha o componente da sexualidade e da identidade de gênero como um fator de inspiração, no âmbito coletivo e social a sua pura presença no setor tem um significado enorme.

Mas vale lembrar que isso não fez da moda um ambiente acolhedor ou menos propagador de LGBTfobia. Apesar de refúgio para muitos LGBT, acumulando em sua história um catálogo extenso de profissionais da comunidade, a moda foi e é um espaço contraditório, no sentido de ter sido responsável em cristalizar e reforçar imagens e ideias dominantes e opressoras. Valorizando, creditando e sustentando sobretudo os homens, os cisgêneros, os brancos, e por aí vai.

A história é bem mais antiga, mas para entender sobre a moda moderna vale voltar até pelo menos o século 18, quando o termo macaroni era já uma tag pejorativa para identificar homens de modos efeminados, chamados de afetados e que valorizavam o estilo próprio. Do século 19, Oscar Wilde é peça fundamental não só para entender a história da homossexualidade, como da literatura e da moda. Foi uma das grandes figuras do dandismo associado aos homossexuais que viviam nos grandes centros urbanos europeus.

No início do século 20, as lésbicas olhando para a praticidade do vestuário da elite masculina criaram o look À La Garçonne, que na década de 1930 entrou para a história com a atriz Marlene Dietrich, que inspirou anos depois Saint Laurent a fazer o Le Smoking. E nem só de roupas masculinizadas veio a contribuição feminina. A imagem de Katharine Cornell, a atriz alemã lésbica apelidada de a primeira dama do teatro, foi igualmente imortalizada como imagem de moda.

Mas até pelo menos a década de 1950 a relação entre LGBTs e a moda, apesar de sabida, permaneceu velada. Quem escreveu sobre isso foi o historiador de arte Christopher Breward, no ensaio A Alta-costura como autobiografia queer, onde faz uso de obras biográficas de designers como Christian Dior para entender a sexualidade de criadores de um jeito mais próximo, ainda que não dito literalmente.

Nas memórias de Bill Blass, por exemplo, o estilista fala que viveu a maior parte de sua vida em uma posição muito contraditória — uma parte, segura dentro do armário, enquanto que a outra aparecia aberta ali para tudo nessa indústria criativa. Estes aspectos ocultos, não ditos, no entanto, vão desaguar em construções muito elaboradas: o camp. O termo ganha destaque com Susan Sontag, em 1964, no artigo Notas sobre o Camp, como um estilo de influência LGBT que encontrou ressonância na moda, nas artes plásticas e no design, caracterizado pelo pastiche, pela subversão, pela ironia e pelo drama.

Da segunda metade do século 20 em diante que as coisas vão começar a vibrar em outro tom, de maneira bem menos velada. Vê-se uma maior emancipação sexual, após Stonewall e as manifestações de direitos sociais do final da década de 1960. A descriminalização da homossexualidade, por exemplo, possibilitou com que LGBTs falassem mais abertamente de suas vidas e de suas criações.

Isso fica evidente, por exemplo, na biografia dupla de Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld, escrita por Alice Drake. A autora fala de uma nova geração de designers menos reticentes em trazer à tona o conteúdo queer de seus trabalhos.

E daí a gente vai acompanhar uma série de ícones LGBT marcantes, como Jean Paul Gaultier vestindo homens em saias, fetichizando o marinheiro e colocando na passarela uma garota de smoking flertando com uma garota de vestido. E Thierry Mugler, no Century Plaza Hotel, em Los Angeles, chamando a drag queen Lypsinka para performar.

Já neste milênio, o repórter Pedro João, da Elle, lembra de outro personagem que marcou sua adolescência e que hoje, em retrospecto, fez com que ele entendesse a importância da representatividade.

“E daí um grande personagem, que foi fundamental pra mim nessa época, foi o Marc Jacobs, porque na época o Marc Jacobs era muito badalado, ele era muito legal, ele era o estilista da Louis Vuitton, ele tinha a própria marca, ele falava de cultura pop com a moda dele, era uma coisa muito diferente, divertida e legal, e ele tava bombando. E ele tinha um namorado brasileiro, enfim, tinha toda uma coisa e eu achei aquele mundo dele muito legal e eu queria muito fazer parte daquilo de alguma maneira ou me aproximar, enfim, desse tipo de pessoa, que era uma possibilidade de existência pra mim.”

Mas talvez nada seja mais icônico e simbólico do que, em 1973, quando o estilista Stephen Burrows participou da lendária batalha promovida entre marcas francesas e marcas norte-americanas, em Versalhes. Num ambiente majoritariamente branco, o designer não só colocou mais modelos negras para desfilar como também fez referências diretas à poses camp, famosas pelos movimentos da dança voguing.

A referência feita era à Ball Culture da época, os espaços de encontros com festas e desfiles promovidos pela população LGBTQIA+, sobretudo negra e das periferias norte-americanas.

A gente convidou a Ísis Vergílio, que além de repórter aqui da ELLE Brasil tem uma relação próxima com os movimentos brasileiros de Ball Culture, por meio do coletivo Amem LGBTQI+, que ela participa. A Ísis chamou alguns nomes bem icônicos para ajudar a contar essa história:

“Moda e beleza dentro das Balls e o que isso significa. No meu entendimento, enquanto pessoa que já participou, acompanha, assiste as Balls que acontecem no Brasil é um espaço de ressignificação de símbolos, quando a gente fala sobre beleza, sobretudo quando você entra na categoria face ou runway, de desfiles. Anterior a tudo isso estamos falando de pessoas que estão em situação de extrema vulnerabilidade social. São pessoas que inclusive não detém o privilégio de comprar looks. É um lugar de ressignificação e de conscientização ao transformar e customizar peças. Criativo no ponto de vista das makes. Quando falamos de ressignificação de um lugar que é extremamente estigmatizado, que o Estado já empurra para as margens. É um espaço onde as pessoas conseguem respirar. Onde as pessoas conseguem produzir conhecimento, intelectualidade com os recursos que elas têm. Eu convido todos que estão ouvindo a participarem de uma Ball, sobretudo no Brasil. A gente gosta tanto de Pose e Legendary, mas quantas pessoas vocês conhecem no Brasil que são ícones, são lendas. É importante essa valorização aqui.”

“Vocês sabem que são os chanters dentro da cultura Ballroom? Eles são os MC’s, os mestres de cerimônia, os comentaristas, os apresentadores. Pessoas, figuras fundamentalmente necessárias durante uma Ballroom. Ele que vai apresentar todas as categorias. Ele que vai pegar toda a vibe e jogar lá em cima. E nós, como não deitamos, convidamos apenas uma figura icônica no Brasil para apresentar as nossas digníssimas convidadas. Eu, para não passar vergonha, vou deixar que ele mesmo se apresente…”

“Olá, eu sou Félix Pimenta, pioneiro da comunidade Ballroom São Paulo, Pai da House of Zion Capítulo Brasil e pai da Kiki Casa de Pimentas. A categoria de hoje é: a importância da moda e da beleza na comunidade Ballroom. Vocês estão preparades? Para a categoria de hoje temos duas importantes convidadas da cena Ballroom do Brasil. A categoria está aberta!”

“A primeira é Akira Avalanx, ela que é pioneira da comunidade Ballroom São Paulo e mãe da House of Avalanx.”

“A Ballroom surge a partir de um momento que as pessoas pretas querem mostrar que elas conseguem ser tão importantes quanto as pessoas brancas, naquela época. Você tem grandes referências da moda, a partir disso. E a gente sabe que a moda é centralizada na Europa. Esta era ideia de beleza. Então a galera começa a se inspirar nas revistas a partir disso e criar suas poses, a sua própria moda e levando para as passarelas das competições. Você tem categoria como The Best Dress, que seria a melhor roupa da noite, você tem The Best Make, que é a melhor make da noite, você tem a categoria Face, que fala de beleza, quem tem o rosto mais bonito, com os ângulos mais parecidos. A categoria Runway é sobre desfiles de moda. Ela tem uma ligação com moda, tanto é que várias casas têm nomes de empresas como a Revlon e a Gucci, ou de estilistas, como West. Essa ligação é nítida com a moda. O Voguing, por exemplo, vem do momento em que se imita as poses das revistas. A primeira categoria dançada foi o Pose, na qual você dançava de acordo com as batidas da música, junto das movimentações. Ballroom e a moda são completamente interligadas.”

“A segunda convidada é Fênix Zion, ela que é pioneira da comunidade Ballroom representando o nordeste e que tem uma importante atuação e pesquisa da moda relacionada à comunidade Ballroom.”

“A moda é o fundamento principal da comunidade Ballroom e das Balls, seja nas categorias, nos temas das categorias, seja nos nomes das Houses. Este contexto faz com que essa moda dite o comportamento e a estética das pessoas que transitam nesses espaços, sendo que lógico de uma maneira bem diferenciada. Embora exista uma referência à uma moda tradicional, eurocêntrica, hegemônica, os corpos que habitam, que transitam, que caminham e estão nas houses são negros e transgêneros. Já à partir daí a gente enxerga a subversão e a transgressão. Mesmo que a gente use uma Chanel, a história e o corpo que usa esta Chanel é por outras questões. São outras histórias de vida e outros motivos pelo qual usamos na categoria ou nos espaços das Balls.”

Taya Carneiro, comunicadora e ativista da coletiva LGBT Corpolítica, em um estudo para a Universidade de Brasília escreve sobre a relação das travestis e das transexuais com a moda. Segundo ela, a moda tem um caráter estratégico que ajuda no reconhecimento da identidade de gênero desta população, facilitando não só na inserção social como também no empoderamento pessoal.

Todas essas figuras sedimentaram o chão para o que hoje a gente chama de moda queer. Ou seja, uma moda feita e pensada por e para um público LGBTQIA+. Vicki Karaminas, professora da Universidade de Tecnologia, em Sidney, escreve em seu livro Queer Style que o estilo queer é o outro, instável e estranho à heteronormatividade.

Enquanto a heteronormatividade está alinhada à códigos legíveis de vestimenta, como o homem vestir terno e a mulher vestir saia, o estilo queer pode ser compreendido como a resistência à isso. Em termos mais visuais e materiais ela vai ressaltar que o queer tem uma tendência à ruptura, e mais interesse à fantasia do que à funcionalidade.

E aí a gente pode citar alguns nomes da atualidade que são notáveis da moda queer. Pesquise Charles Jeffrey, Palomo Spain, Matty Bovan e Thom Browne para ter uma ideia da imagem. No Brasil, ainda que não necessariamente usando essa tag, uma série de criativos também se destaca com uma produção que segue esse estilo, feita por e para pessoas LGBTQIA+, como Célio Dias, da LED, Rober Dognani, Felipe Fanaia, Vicente Perrota e o paraibano Rodrigo Evangelista, que falou um pouco sobre a sua produção com a gente

“A principal causa deste movimento é a valorização da diversidade e da liberdade para a gente ser e amar quem a gente bem entender. A minha marca surgiu deste desejo: fomentar a diversidade, a aceitação, a resistência. A minha forma de expressão artística é falar sobre esses temas que são importantes para a sociedade. Eu uso esta plataforma para além de fazer roupas e produtos ser voz e dar voz à nossa comunidade. O meu primeiro desfile, o Feral aconteceu ano passado, na Casa de Criadores, e foi sobre A Noite dos Leopardos, que foi um espetáculo gay que aconteceu nos anos 1980 e 1990, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Eu escolhi falar sobre este tema porque eu queria trabalhar com a história brasileira e era um espetáculo sobre liberdade. E pude contar inclusive com a própria Eloína dos Leopardos, idealizadora desta festa, no meu desfile. Foi incrível ter ela comigo. Quis fazer uma ponte também com o momento em que estamos vivenciando no nosso país. Achei necessário falar de saúde pública, uma vez que o índice de contaminação por IST tem aumentado anualmente no país. Uma pauta ainda mais urgente diante da situação política que a gente se encontra, onde a gente nem sequer Ministro da Saúde tem. E a luta contra o preconceito não é uma prioridade deste governo. Cada vez mais o consumidor tem atuado ao lado das marcas, mostrando os seus desejos, apontando críticas e inclusive apontando posicionamento, porque quando a gente consome não só estamos comprando um item como também a ideologia e o discurso daquilo. Acredito sim que o aumento é progressivo da pluralidade de corpos, cores, sotaques e gêneros em todos os âmbitos. É um momento de muita mudança. A geração mais jovem está mais preparada para isso e não há mais como retroceder. O mundo será cada vez mais colorido e orgulhoso disso.”

E, falando ainda de todo este legado na moda, a marca Loewe fez uma homenagem àquela que já foi chamada de A Drag Queen do século. Divine, com seus cílios imensos e sua cabeleira branca, é o tema da nova coleção da grife espanhola, lançada na semana passada.

Divine nasceu Harris Glenn Milstead, nos Estados Unidos, e morreu em 1988, aos 42 anos, de problemas cardíacos. Durante sua carreira emplacou hits nas pistas, como I’m so beautiful, que a gente acabou de ouvir um trechinho, e também estrelou diversos filmes, em que fazia questão de chocar o público com uma interpretação que era um escracho total.

Um dos filmes icônicos de Divine é o Pink Flamingos, do diretor John Waters, em que ela se vangloria de ser a pessoa mais sórdida do mundo. Pra Jonathan Anderson, diretor criativo da Loewe, Divine “antecipou a glorificação do trash, a mistura do high and low e o apagamento das barreiras de gênero”.

O plano inicial da grife era soltar uma coleção completa, que incluía sapatos de salto plataforma, acessórios, vestidos com plumas e maxi t-shirts estampados com Divine. A pandemia do novo coronavírus, no entanto, paralisou a produção e o lançamento teve que se resumir a uma coleção cápsula com camisetas e uma bolsa estilo sacola.

As peças têm edição limitada e 15% da renda obtida com as vendas vão ser destinados às organizações Visual Aids, que promove a luta contra o HIV por meio da arte, e Baltimore Pride, centro que levanta fundos pra comunidade local LGBTQ+. Baltimore, por sinal, é a cidade natal de Divine e local onde se passa o filme Hairspray, um dos grandes sucessos da carreira da drag.

Além de estrelar a coleção cápsula, Divine também está na mostra virtual no site da Loewe. Lá você pode conferir retratos do artista, clicados por Greg Gorman, além de reproduções de pôsteres, capas de disco, roupas, objetos pessoais e fotos de Divine desmontada, na pele de Harris Glenn. A exposição pode ser acessada até o final de setembro no site loewe.com, lembrando que loewe é com w: l-o-e-w-e.

E sobre o calendário da moda em tempos de coronavírus, temos novidades Gabe?

Sempre tem, Pat. Na segunda passada, a Dior confirmou que vai apresentar a sua coleção cruise no dia 22 de julho em Puglia, na Itália, mas sem convidados. Na coletiva de imprensa virtual, o CEO da Dior Pietro Beccari e a diretora de criação Maria Grazia Chiuri destacaram que a decisão de realizar o desfile foi tomada pela empresa para mostrar apoio não só à cadeia de fornecedores e parceiros da grife, mas também à própria Itália, um dos países mais afetados pela Covid-19. A escolha de Puglia para sediar o evento não foi por acaso – e havia sido feita antes mesmo do início da pandemia. Maria Grazia é apaixonada pelo artesanato local, além de ter raízes na região – o pai da estilista é de lá. Para o desfile, foram encomendados vários trabalhos aos artistas locais, de bordados a luminárias. Para setembro, a Burberry planeja um desfile ao ar livre em Londres, só com a presença de modelos e o staff da grife. Já a Fendi pretende reunir alguns convidados para apresentar a coleção em sua sede, em Roma, no dia 22.

Também pro final de setembro, já está confirmada a Semana de Moda de Paris. De acordo com a Federação Francesa de Alta Costura e da Moda, o evento vai ser realizado entre os dias 28 de setembro e 6 de outubro seguindo todos os protocolos de segurança das autoridades de saúde locais.

Nosso editor de moda Luigi Torre abordou esse assunto no site, na matéria Business as usual?, E conta aqui suas impressões sobre esse movimento de retomada dos desfiles pelas grifes:

A gente pode entender isso como uma resposta ou uma reação às primeiras tentativas de transformar as semanas de moda em algo digital. A gente teve uma primeira experiência nesse sentido com a London Fashion Week, que aconteceu há algumas semanas. Era um evento totalmente digital, sem estação definida, ou seja, não era nem inverno nem verão, e coleções masculinas e femininas eram apresentadas junto. A maioria das marcas optou por explorar novos formatos, e aí valia desde fashion filme, workshops virtuais e até conversas no Zoom sobre processo criativo e a construção de uma coleção. Apesar de ser bastante interessantes os formatos, também um dos formatos mais seguros no momento, enquanto a gente não tem uma vacina para Covid-19, esses eventos não tiveram o engajamento que costuma acontecer com os desfiles presenciais, os desfiles ao vivo. Falta um pouco da emoção de estar na hora ali, do desfile, de se ouvir a música, olhar o caminhar da modelo, perceber a cenografia e como tudo isso contribui para uma mensagem, pra uma narrativa maior. Transmitir tudo isso, para um desfile virtual, ainda é uma tarefa um pouco complicada e parece que um pouco impossível.

Outra questão sobre essa falta de engajamento é econômica. As semanas de moda e até desfiles independentes movimentam muito dinheiro dentro e fora da indústria da moda. Além dos profissionais que são diretamente impactados por esses trabalhos, seja pelo desfile ou pela criação da coleção, hotelaria, gastronomia e até serviços de transportes acabam lucrando quando acontecem as fashion weeks. Isso é um dos principais fatores que está impulsionando essa retomada, seja dos desfiles independentes, como semanas de moda já em formato mais enxuto.

Pois é, mas que ninguém ache que nessa retomada a vida vai ser como antes. Luigi aponta também várias adaptações que os eventos vão ter que fazer para viabilizar a realização dos desfiles no atual cenário mundial.

Os desfiles provavelmente vão ser bem menores, vão ocupar salas ou locações ainda bem pequenas ou então ainda vão acontecer a céu aberto, para evitar risco de contágio. Muitas marcas, e aí principalmente aquelas pequenas e independentes, também devem pular aquela próxima estação que acontece em setembro. Seja por achar isso um pouco arriscado demais no momento, mas principalmente por uma questão de dinheiro. Como muitas delas tiveram perdas drásticas nesses primeiros meses de quarentena e lockdown, fica um pouco inviável conceber uma nova coleção e ainda arcar com os custos envolvidos num desfile.

Outra questão importante é sobre o número de convidados. Eles também devem, até por questões de segurança, ser bem reduzido. Sem contar que muita gente ainda não se sente à vontade ou segura pra sair de casa e participar de um evento como esse. Além disso, tem a questão das restrições de viagem. A União Europeia já anunciou que vai proibir a entrada de passageiros americanos, brasileiros e de alguns países asiáticos, então isso deve impactar diretamente o público que vai frequentar os desfiles. Provavelmente, a Semana de Moda de Paris, agora em setembro, a única confirmada até agora, vai ser basicamente um evento local, pra imprensa, compradores e celebridades locais, já que boa parte do resto do mundo não vai poder estar lá.

    E a última notícia deste episódio é sobre mais uma troca de comando que pegou todo mundo de surpresa. Depois de Leandra Medine se afastar do comando do site Man Repeller e de Christene Barberich desligar-se do Refinery 29, quem anunciou a saída por meio de um post no Instagram foi Sophia Amoruso. A fundadora da plataforma multimídia Girlboss deixou a cadeira de CEO e saiu da empresa juntamente com outros dez colegas. O motivo dessas baixas, como Sophia indica em seu comunicado, é o impacto econômico da pandemia de Covid-19 nas finanças da companhia. Nesta nova fase, segundo escreveu no Instagram, Sophia quer priorizar pela primeira vez na vida o bem-estar, em vez da sua ambição.

    Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes