10 dicas de cerveja escura para curtir antes do verão chegar
Intensa e potente, a cerveja escura é uma ótima companhia para curtir com calma os dias mais frios da meia-estação.
Basta esfriar um pouquinho e muitas pessoas já pensam logo em uma taça de vinho tinto. Mas as cervejas não devem ser esquecidas quando a temperatura cai. Seja pela sensação de aquecimento, pela temperatura de serviço mais alta ou pelos sabores quentinhos que ficam mais tempo na garganta e no peito na hora que descem, as escuras potentes merecem ser saboreadas quanto os termômetros oscilam para baixo nesta meia-estação – antes que o verão chegue de vez e declare a supremacia de pilsens, witbiers e outras rainhas do verão.
Feitas com maltes intensamente tostados ou torrados, as escuras bem alcoólicas ganham sabores doces repletos de toques caramelizados, notas de biscoito amanteigado, chocolate preto e café torrado.
Antes de continuarmos, porém, é bom esclarecer que, diferentemente do que muitos pensam, a força alcoólica da cerveja não tem a ver com a sua coloração. Nem toda cerveja escura tem teor alcoólico alto, assim como nem toda cerveja clara é leve. A cor da bebida é determinada pelo modo de secagem do malte utilizado.
“As cervejas escuras com teor alcoólico mais elevado são bastante ‘encorpadas’, como é comum de ouvir, mas, na verdade, gostamos de dizer que são cervejas complexas, com uma infinidade de sabores e aromas. Isso por si só já estimula um consumo mais calmo, a fim de apreciar perfis sensoriais tão ricos”, afirma Gabriel Thuler, sócio e mestre-cervejeiro da Cervejaria Alpendorf, de Nova Friburgo, na serra fluminense.
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A temperatura também é importante na degustação de uma cerveja escura opulenta. Ela não deve ser servida abaixo de 10 ºC. À medida que a bebida esquenta durante o consumo, ela exala ainda mais aromas e sabores que nem sempre são percebidos quando está mais gelada – ah, sim, cerveja é um produto que muda de perfil sensorial durante a experiência. Bebendo vagarosamente, há como observar a variação dessas nuances.
“Enquanto o fast food é uma opção rápida, em que a pessoa está mais preocupada com a economia do tempo do que propriamente em aproveitar o momento que é a refeição, o slow food quer resgatar o prazer de saborear o alimento com calma e responsabilidade. Acho que é um pouco sobre valorizar o produto e saber apreciar o melhor dele. Quem disse que cerveja não pode ser extremamente complexa e refinada?”, reflete Bruno Mesquita, beer sommelier da Cervejaria Malteca, de Niterói.
A seguir, você confere dicas de cerveja para apreciar com moderação e beber sem pressa, curtindo a bebida:
Barley Wine
Este estilo britânico tem cervejas tão alcoólicas, complexas, densas e untuosas quanto um vinho do Porto. Pensando em combinar o melhor dos dois mundos, a Barley Wine foi criada para a aristocracia, lá no século 18, que estava cansada em ver o fornecimento de vinho interrompido pelas guerras com a França.
Envelhecida em barris de madeira, ela é forte, com teor alcoólico que alcança 14% e é perfeitamente sentido no paladar, junto a uma sensação de aquecimento. Uma boa Barley Wine tem aroma com notas de toffee e caramelo, frutas escuras e Jerez, e grande intensidade de sabor, que vai de pão a nozes, com dulçor de caramelo escuro e melado.
Foto: Divulgação
Boa pedida: Uma das cervejarias do momento, segundo o Concurso Brasileiro de Cerveja de 2024, a Alpendorf produz uma boa Barley Wine, com notas equilibradas de toffee e caramelo, 10,7% de álcool e corpo agradável, sem pesar muito na boca.
“A gastronomia associada à Barley Wine também é uma ótima pedida para consumir sem pressa. Ela é uma cerveja que, por si só, pode acompanhar todo um jantar, da entrada à sobremesa”, afirma o mestre-cervejeitor Gabriel Thuler, da Alpenderdorf.
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Bock
Robusta, com percepção de média a intensa de corpo na boca, sabores caramelizados e torrados de pão e espuma castanha clara cremosa, a Bock é uma clássica dos dias frios.
Apesar da graduação alcoólica em torno de 7%, ela não parece forte, muito porque tem amargor moderado, que parece servir para contrabalançar o sabor doce.
Foto: Divulgação
Boa pedida: na categoria, Schornstein Bock, de Pomerode, Santa Catarina, tem destaque por apresentar um aroma de madeira, além das notas tostadas e carameladas. O tom castanho-avermelhado ainda confere beleza à aparência da cerveja.
Doppelbock
No que depender deste outro estilo alemão, o corpo estará aquecido no primeiro gole.
A coloração varia do marrom-escuro, tom da Bock, a quase preto. Já o perfil sensorial é mais tostado do que caramelizado, com aroma e sabor de pão preto de centeio e amargor médio, e as sensações do teor alcoólico (acima de 7%) na garganta e da textura na boca são elevadas. Por isso “Doppelbock”, pois ela é a versão mais forte da Bock.
O curioso é que o estilo surgiu como um alimento nutritivo para ser consumido pelos monges nos dois jejuns que faziam anualmente. Já ouviu falar que cerveja é pão líquido?
Foto: Divulgação
Boa pedida: A Paulaner foi a pioneira no estilo com a Paulaner Salvator, rótulo que ainda existe e é estimado no mercado. “Paulaner”, aliás, é o termo para os seguidores de são Francisco de Paula, monges que criaram a Doppelbock.
Pois estamos diante de uma cerveja generosa em história e características sensoriais. Do seu véu de malte vem cheiro de caramelo, ameixa, frutas secas e até marrom glacê – é só prestar bastante atenção. No paladar, é adocicada e levemente adstringente. Com 7,9% de teor alcoólico, você consegue extrair dela toda a exuberância de seu corpo e sabor ao combinar com espaguete à carbonara.
Dunkel
Uma linda porta de entrada para cervejas escuras. E, como reza a cartilha da degustação, vamos começar por este estilo que tem a menor graduação alcoólica entre os escolhidos.
Dunkel quer dizer “escuro” em alemão, e as cervejas de mesmo nome vão do marrom claro a avermelhado profundo, desfilando gosto de biscoito, chocolate e caramelo, e um bom balanço entre o dulçor e o amargor do lúpulo.
O teor alcoólico de cerca de 5% sugere um corpo médio, mas as Dunkels têm uma intensidade considerável e são complexas, sem serem enjoativas.
Foto: Firma Criadores / Brewpoint
Boa pedida: Medalhada nove vezes em concursos de cerveja no Brasil e no exterior, a Dunkel da Cervejaria Brewpoint, de Petrópolis, é um exemplar querido entre os entusiastas por se tratar de um clássico muito bem executado. Destaque para o leve tostado, que remete ao chocolate, e a cor cobre acastanhado.
Dubbel
O estilo criado por monges na Bélgica traz, na linha de frente, inconfundíveis sabores de caramelo, com notas sutis de ameixas, rum, uvas-passas e chocolate, em líquido marrom-ferrugem profundo, coberto por uma generosa e estável espuma branca. Aqui, a graduação alcoólica já passa para a casa dos 7%.
Boa pedida: La Trappe Dubbel, um exemplar típico do estilo, é feito por trás das paredes do mosteiro Koningshoeven, no sul da Holanda, desde 1884. De espuma densa e duradoura, tem aroma de frutas maduras e malte e é ideal para acompanhar carnes grelhadas e queijos fortes.
Old Ale
Certamente uma cerveja de impacto. Talvez a palavra que melhor a definiria seria “envelhecida”. Quando surgiu, um dos motivos para ser chamada de Old Ale era sugerir um método antigo de fabricação, pois é uma cerveja que envelhece em barril de madeira ou garrafa por quase um ano ou mais, ganhando notas vinificadas, ácidas e desenvolvimento aromático. Forte e com tendência para um sabor frutado e a doçura do malte, é um estilo indicado para paladares mais apurados. Quando envelhecida em madeira, chega a apresentar, em baixa concentração, notas fenólicas e de couro.
Boa pedida: A Old Ale da Brewine Leopoldina, marca da vinícola Casa Valduga, é uma Old Strong Ale, devido ao seu teor alcoólico bem elevado de 11%.
Com 10 meses de maturação em carvalho francês e segunda fermentação dentro da própria garrafa (a típica sino, usada em espumantes, com vedação de cera sobre a tampa) ela tem gosto de frutas secas, nozes, mel e vinho do Porto.
“Complexidade é o que essa cerveja apresenta, com uma rica paleta de sabores, incluindo notas maltadas, frutadas e toques de caramelo ou toffee somadas a notas integradas de baunilha e chocolate por conta de sua passagem por barricas de carvalho francês. Harmonize com palha italiana e terá uma experiência excelente”, afirma Rodrigo Veronese, mestre cervejeiro da Leopoldina.
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Russian Imperial Stout
O estilo com origem na Inglaterra está no line-up de bares e cervejarias o ano todo, mas viraliza mesmo quando o friozinho vem. E o motivo de ser tão apreciado passa pela sua versatilidade. Os fãs gostam não apenas da versão clássica, como também das repaginadas, como a versão envelhecida (as chamadas wood aged) ou pastry, em que os alquimistas cervejeiros adicionam cereja, morango, chocolate, amendoim, café e outros produtos que fazem essas cervejas lembrarem sobremesas.
O grande trunfo do estilo é justamente incorporar esses desejos em seu corpo elevado e sabores intensos de forma harmoniosa, sem parecer uma bagunça alcoólica.
Com alto teor de álcool (pense em graduação na casa dos 12%), as Russian Imperial Stouts (RIS) têm aromas e sabores de maltes escuros, como caramelo, balanceados com aromas cítrico, floral e herbal do lúpulo, além de ameixas e passas.
Boa pedida: quatro Russian Imperial Stouts lançadas recentemente são dignas do desembolso que pedem.
Foto: Divulgação
A Cervejaria Hocus Pocus lançou uma linha limitada de três RIS envelhecidas em barris de whisky Bourbon. Com apenas 200 garrafas produzidas de cada uma, elas apresentam 15% de teor alcoólico e custam R$ 129, cada, podendo ser compradas no bar da cervejaria em São Paulo ou no Rio de Janeiro.
A Time Travel 3, envelhecida por 27 meses, representa uma perfeita fusão entre os maltes torrados, o dulçor dos maltes caramelizados e os toques intensos de whisky Bourbon. Já a BBA Elephants’ Graveyard, traz notas de amendoim e chocolate, adquirindo uma densidade semelhante a óleo após 22 meses de maturação em barris de bourbon. Por fim, a BBA Rabbit Hole, com suas nuances de coco, nozes pecan e chocolate, oferece uma experiência licorosa e profunda, também envelhecida por 22 meses.
“O tempo em barril faz com que as notas da própria cerveja sejam abertas e que novos aromas surjam. Unindo isso às notas de bourbon e chocolate e outros adjuntos, elas acabam se transformando em bebidas que têm um número grande de gostos e aromas a ser explorado”, explica Pedro Butelli, um dos sócios da Hocus Pocus.
Foto: Divulgação
Quer mais edição limitada? A Bug do Milênio, da Cervejaria Malteca, é um blend de uma Russian Imperial Stout maturada a frio por 54 meses com uma base que fermentou com a levedura selvagem Brettanomyces em barril de carvalho.
Ela tem uma delicada pegada de vinagre balsâmico e aromas e sabores de estábulo, feno e couro vindos da levedura, que dão uma complexidade maior à cerveja.
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