Qual é a do movimento anti-retinol?

Inovações na indústria do skincare vêm balançando o consagrado ativo dermatológico. Mas especialistas garantem: ele ainda tem muito a oferecer à sua pele


Skincare: qual é a do movimento anti-retinol?



Foi em 2011, após a publicação de um estudo pelo British Journal of Dermatology (Jornal Britânico de Dermatologia), que o futuro do retinol no skincare começou a cambalear. Ou pelo menos a ser discutido. A pesquisa – que causou estranhamento e burburinho no universo dermatológico – questionou a eficácia do ativo e constatou que doses elevadas do ácido levam à quadros de irritação que, se evoluem para inflamações, podem causar a destruição das fibras que sustentam a pele (ao invés de estimular a produção de colágeno, função principal do retinol).

A conclusão foi, no entanto, contestada pela grande maioria dos dermatologistas. “São muitos anos de estudo sérios que comprovam a eficácia e os benefícios do retinol para a pele. Não tenho dúvidas quanto à indicação desse ativo tão consagrado”, afirma a renomada dermatologista Denise Steiner, de São Paulo.

A médica frisa, porém, que a grande questão – que pode ser a responsável pela polêmica – é que por poder causar vermelhidão, irritação e dificuldades de adaptação em alguns tipos de pele, principalmente as mais sensíveis e sensibilizadas, os produtos com esse ativo precisam ser bem administrados na rotina de skincare. “É uma questão de modo de uso, de saber os limites de cada pele e a frequência indicada para cada pessoa”, diz a especialista.

Apesar de ser uma substância encontrada facilmente em farmácias e em cosméticos sem a necessidade de prescrição médica, o ideal, claro, é não sair usando sem indicação por aí. “O retinol e outros derivados da vitamina A podem gerar irritação, descamação e fissuras na pele. Por esta razão, pessoas que têm doenças como dermatite atópica, dermatite de contato e rosácea, devem evitar o uso frequente das substâncias mencionadas. Se usado de maneira errônea ele até pode afetar o equilíbrio da pele, mas definitivamente não é um dos principais vilões em seu desequilíbrio“, diz o dermatologista Cristiano Kakihara, de São Paulo.

“Quando o ativo é prescrito, sempre buscamos um equilíbrio ditado pela frequência de uso, veículo, quantidade a ser aplicada e o uso concomitante de outras medicações ou dermocosméticos que possibilitem a melhor adesão e maior tolerabilidade pelo paciente”, explica a dermatologista Julia Rocha, do Grupo Ifé de Medicina, no Rio de Janeiro.

“Esses eventos adversos do retinol podem ocorrer, mas existem muitas maneiras de prevenir-se e contorná-los. Alternar o uso dele com produtos hidratantes é uma boa saída, por exemplo. Fora isso, é fundamental usar a quantidade adequada para a sua pele”, completa Fernanda Porphirio, dermatologista da Clínica Vanité, em São Paulo. Respeitando todos esses cuidados, os especialistas garantem a eficácia e segurança do ativo no skincare.

A diferença entre retinol e ácido retinóico

Muita gente confunde retinol com o ácido retinóico. “O primeiro, também conhecido como vitamina A, é um precursor do ácido. Quando nossa pele absorve o retinol, ocorre a conversão de parte do produto nesta forma mais ativa da molécula chamada ácido retinóico. Esse último possui uma ligação mais forte aos receptores das nossas células, porém com maior probabilidade de causar irritação. O retinol costuma ter uma tolerabilidade maior que o ácido retinóico”, explica Julia Rocha.

Ao penetrar na pele, a vitamina A é capaz de estimular todo o metabolismo, incluindo a produção de colágeno, fazendo com que elas trabalhem melhor a favor da firmeza, elasticidade, atenuação de manchas e regeneração celular.

“Esses eventos adversos do retinol podem ocorrer, mas existem muitas maneiras de prevenir-se e contorná-los. Alternar o uso dele com produtos hidratantes é uma boa saída, por exemplo”, Fernanda Porphirio, dermatologista da Clínica Vanité, de São Paulo.

A eficácia do retinol e seus derivados está definitivamente comprovada e, segundo os especialistas, há diversas formas de aumentar a tolerância da pele para que o ativo se enquadre na maioria dos casos. “A pele precisa estar bem hidratada, antes de tudo”, afirma Denise Steiner.

Além disso, indica-se a utilização em noites alternadas; junto com um creme ou balm de ação suavizante; respeitar categoricamente a quantidade indicada por um profissional e preferir o uso de sabonetes e géis de limpeza menos agressivos. “Também é indispensável a fotoproteção adequada, visto que a substância é fotossensibilizante”, alerta a dermatologista Valéria Campos, de São Paulo.

Bakuchiol X Retinol no skincare

Mas há outro nome por trás da polêmica do retinol: o bakuchiol – considerado, pela indústria, uma alternativa sustentável e mais suave com efeitos semelhantes. Um estudo clínico de 2018, também publicado pelo British Journal of Dermatology, mostrou que sua ação contra os sinais do envelhecimento é comparável ao retinol com um risco reduzido de irritação. Sua fama vem, principalmente, pelo boom dos cosméticos veganos e naturais no skincare – e já faz muito sucesso lá fora.

“Muito utilizado nas práticas ayurvédicas na forma de um extrato das sementes e folhas de uma erva chamada babchi, atua remediando várias doenças da pele e melhorando a textura, o tom e a firmeza“, explica Valéria Campos. Atualmente, o bakuchiol é encontrado em fórmulas de séruns, cremes e ampolas, com funções antissinais e reparadoras, e marcas renomadas como Biossance, Bioderma e ISDIN já utilizam o ativo em cosméticos disponíveis por aqui.

Além do bakuchiol, a especialista explica que existem outros ativos que podem ser utilizados por quem não tolera o ácido ou seus derivados. São eles: resveratrol (anti-inflamatório e antioxidante), niacinamida (também conhecida como vitamina B3, atenua as rugas e diminui a aparência dos poros) e óleo de rosa mosqueta (promove a regeneração celular. Possui retinol na composição, mas em concentrações menores).

Os dermatologistas não enxergam, no entanto, os ativos como concorrentes. “Mais uma vez, é uma questão de indicação e de como a pele se adapta ao tratamento. E isso precisa ser avaliado caso a caso”, afirma Denise. Por ser utilizado há muito mais tempo, o retinol é mais fácil de encontrar, democrático e possui mais estudos que demonstram sua ação no skincare. “Muita gente começou a buscar alternativas, mas minha indicação em 90% dos casos ainda é o retinol”, afirma Valéria. A descoberta do bakuchiol em cosméticos ainda é recente e engatinha por aqui. Mas, provavelmente, ainda ouviremos falar muito sobre esse novo queridinho do universo de beauté.

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