Uniformes de bares e restaurantes viram peças-desejo

Com ilustrações de ingredientes e frases espirituosas, camisetas, bonés e outros itens feitos originalmente para a equipe vão parar no guarda-roupa da clientela.


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Camiseta do Mocotó avisa: é bowl não, é cumbuca. Foto: Leo Martins



Foi-se o tempo em que o uso de camisetas, bonés e outros itens do uniforme de bares e restaurantes reduzia-se aos seus colaboradores no ambiente de trabalho. Feitas, hoje em dia, com tecido de boa qualidade, estampas estilosas ou com mensagens que vão além da comida, essas peças, cada vez mais, têm caído no gosto da clientela paulistana, virando artigo de moda, à venda no próprio estabelecimento. É o combo comida, bebida e roupa nova – cobrado em uma só conta.  

A camiseta do time da Paul’s Boutique foi desenhada em 2022,  junto com o designer que desenvolveu a identidade visual da marca. “Desde o primeiro mês de operação da pizzaria, os clientes pediam para comprar esse uniforme, mas a gente não permitia, porque era feito com um tecido mais fino para ajudar a suportar o calor do forno”, conta Jaime Ha, sócio da casa.

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Foto: Leo Martins

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“Percebemos que existia uma demanda forte pelo produto, então, no nosso primeiro Dia da Pizza, decidimos lançar uma blusa de moletom, já que era o pico do inverno por aqui. Foi uma leva de 120 peças, que esgotou em cerca de três semanas”, lembra. De lá para cá, a Paul’s Boutique já colocou para jogo outras cinco camisetas, um boné, que a clientela “pedia muito”, e um tênis em parceria com a ÖUS, cujas cores, detalhe, remetiam às da pizza marguerita.

E as coleções têm tiragem única. “É uma forma de incentivar as pessoas a comprarem logo, deixando claro que não é um produto que vai estar sempre disponível.” Portanto, se apresse se quiser arrematar a camiseta da collab com a Deli Döner, feita pela Treze Clout (R$ 199,99). Restam poucas unidades. A estampa eterniza a Pizza Döner – molho de tomate, muçarela, frango (assado no döner), queijo boursin, picles de jalapeño, cebola roxa com sumac, salsinha e molho de alho –, criação dos chefs Paul Cho e Sono, que foi servida uma única vez, durante o evento que lançou a camiseta.

A cobiça dos clientes pelo uniforme do Mapu Baos também foi mote para a criação de toda uma linha de produtos, lançada para celebrar os cinco anos do restaurante. E já que a iniciativa partiu, sobretudo, da clientela, nada mais justo do que a própria clientela participar de sua concepção. Todos os artistas convidados para colaborar são habitués da casa. Uma coleção “feita por mapulovers para mapulovers”.

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Foto: Divulgação

E essas peças foram parar até na SPFW 2024, uma das mais importantes semanas de moda da América Latina. Camisetas, meias, bonés e bolsas foram colocadas à venda – não sem antes passar pelo crivo dos curadores do evento – na lojinha do Mapu montada na área gastronômica. A linha inclui uma camiseta de modelagem oversized (R$ 129) com baozinhos de diferentes recheios estampados nas costas. Eles foram desenhados por Roberta Abe (@maispequeno) e Erik Kuroo (@kuroow), assim como o boné, todo engraçadinho, que lança o trocadilho “Bao Demais”.

Coleção primavera-verão nos bares e restaurantes

No Tuju, a estampa da camiseta usada pelos colaboradores nos horários de produção – durante o serviço, a equipe usa dolmã e trajes sociais – acompanha o índice pluviométrico do estado de São Paulo. É que os desenhos, feitos por Katherina Cordás, sócia e diretora de hospitalidade e pesquisa do restaurante, refletem os ingredientes usados nos menus sazonais da casa, demarcados pelas temporadas de chuva, seca, ventania e, agora em cartaz, umidade, com seus ouriços, cavaquinhas, alcachofras, pêssegos, mangas… Os clientes que quiserem podem arrematá-la ao final do jantar (por R$ 120), no andar de cima do restaurante, enquanto tomam um café acompanhado da tábua de queijos e doces brasileiros. 

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Foto: Leo Martins

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Criada para expressar a proposta da casa, “focada em produtos, simplicidade e qualidade”, a camiseta da Shihoma Deli (R$ 120) traz na estampa ilustrações de ingredientes que não podem faltar na despensa da deli: farinha, tomate, folhas de manjericão, queijo, cogumelo, azeitonas, uma porção de pappardelle e por aí vai.

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Foto: Leo Martins

Ela foi feita para ser uniforme, mas fez tanto sucesso entre os clientes, que, além da versão desenhada em vermelho, foi criada a opção em azul estonado. Em breve, novos modelos em collab (que já estão em produção) serão lançados.

No Goela, aconteceu o mesmo: a camiseta descolada (R$ 150), com o grafite de uma bocona aberta nas costas – a mesma grafitada nas paredes do bar, criada pelo coletivo de rua SHN –, ganhou outras cores quando virou artigo de moda a pedido dos clientes. Hoje, além da preta, dá para escolher entre a vermelha, marrom, rosa e lilás.     

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Foto: Leo Martins

Juntos por uma causa

Não se trata apenas de usar o uniforme dos bares e restaurantes preferidos. Algumas peças trazem frases que servem para deixar claro de qual lado de determinadas batalhas gastronômicas se está.

Quem é do time dos que amam coentro já pode providenciar a carteirinha – ou melhor, o boné (R$ 85) – na LosDos Cantina. Verde, como não poderia deixar de ser, ele traz estampada a frase que é mote da campanha lançada pelos chefs Caio Alciati e João Gertel: Make coentro great again.

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No Mocotó, a camiseta amarela com a frase “é bowl, não, é cumbuca” em verde veste somente quem vira o olho toda vez que alguém abusa dos estrangeirismos. Outra opção, que tem ainda mais cara do restaurante – e dos seus habitués –, diz: O sertão é do mundo. Ambas custam R$ 59 cada.

De olho nas pautas sociais, Talita Silveira, sócia do Make Hommus. Not War, quis estampar alguns dos valores do restaurante nas camisetas dos colaboradores. “Certa vez li a frase ‘Love kebabs, hate racism’ (que quer dizer: amo kebab, odeio racismo), e me inspirei nela para criar os uniformes”, conta.

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Foto: Divulgação

Cor de rosa, as camisetas (são três opções, R$ 100 cada) trazem nas costas o escrito: amo: hommus/odeio: racismo; amo: hommus/odeio: intolerância; amo: hommus/odeio: machismo.

Para comer e vestir

Não foi do nada que a chef Renata Vanzetto, visionária, decidiu vender “comidas e coisas” na sua Mercearia Maravilha, aberta no ano passado. Pois lá todas as camisetas, moletons e bonés de temática foodie à venda são criações dela. Quiabo, chuchu, jiló, maxixe e coentro brilham na estampa da camiseta batizada de Os Excluídos (R$ 99 na promoção). Já a Manetti Spaghetti, além de vestir, ainda passa a receita do já famoso molho do Ado Manetti (“sócio, amigo & cunhado” da chef) , que combina pimentão, parmesão, creme de leite, páprica e limão.

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Foto: Breno da Matta

Mas são os bonés que têm feito a cabeça da clientela – a mercearia chega a vender cerca de 500 unidades por mês. Bordados, eles trazem mensagens como “fome de leão”, “all’amatriciana”, “negroni” e, claro, “coentro”. 

Preços pesquisados em dezembro e sujeitos a alteração.

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