Angelina Jolie solta sua voz em “Maria Callas”

A atriz estudou italiano, ópera e canto para interpretar a soprano no filme de Pablo Larraín.


Angelina Jolie como Maria Callas
Foto: Pablo Larraín/Netflix © 2024.



Antes de Maria Callas, filme de Pablo Larraín que estreia nesta quinta-feira (16.01), Angelina Jolie ficou um tempo longe das telas – seu último longa como atriz foi Eternos (2021), uma produção da Marvel.

Em meio a um longo divórcio de Brad Pitt, que foi finalizado em dezembro de 2024, depois de oito anos de disputa, a atriz quis dedicar seu tempo aos seis filhos, com idades entre 16 e 23 anos. Mas nesse período ela também lançou uma grife, Atelier Jolie, ganhou um Tony como produtora por The outsiders – A new musical (2023) e dirigiu Without blood (2024), com Salma Hayek, exibido no Festival de Toronto, em setembro.

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Esse retorno como atriz não poderia ser mais desafiador: interpretar a maior cantora de ópera de todos os tempos, em seus últimos dias, quando ela tentava voltar a cantar, mas com flashbacks dos momentos áureos de sua carreira. “O processo todo foi aterrorizante”, disse a atriz em entrevista coletiva à imprensa internacional com participação da ELLE. “Mas que coisa maravilhosa ter toda uma carreira e encontrar nesse estágio da minha vida algo que me intimida como artista. É um presente não ter certeza de poder fazer algo novamente e precisar trabalhar tão duro, cercada de pessoas em quem confio e que vão me aparar se eu cair.”

A trilogia de Pablo Larraín

Maria Callas é uma cinebiografia com a cara de Larraín. O cineasta chileno completa sua trilogia sobre mulheres emblemáticas do século 20, depois de Jackie (2016), com Natalie Portman no papel da ex-primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy (1929-1994), e Spencer (2021), com Kristen Stewart interpretando a Princesa Diana (1961-1997). Tanto Natalie quanto Kristen foram indicadas ao Oscar por suas performances. Angelina, por enquanto, está cotada, embora tenha perdido o Globo de Ouro de atriz dramática para Fernanda Torres e não esteja indicada nem ao SAG Awards nem ao Bafta.

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Angelina Jolie como Maria Callas Foto: Netflix © 2024.

Os três filmes pegam essas mulheres em momentos de crise. Jacqueline Kennedy, nas horas e dias após o assassinato de seu marido, John F. Kennedy (1917-1963), na sua frente. A Princesa Diana, no Natal na propriedade real de Sandringham, quando decide se divorciar de seu marido, o então Príncipe Charles. E Maria Callas (1923-1977), em seus últimos dias de vida, quando ela tentava retornar aos palcos tendo como testemunha apenas seu mordomo Ferruccio (Pierfrancesco Favino) e sua cozinheira Bruna (Alba Rohrwacher).

Curiosamente, há uma relação entre Jackie e Maria Callas: durante muitos anos, a cantora teve um relacionamento com Aristóteles Onassis, que se casou com Jacqueline Kennedy pouco depois de terminar com Callas, em 1968. A personagem de Jacqueline aparece brevemente em Maria Callas

Larraín, que vem de uma família proeminente – seus pais foram ministros de Estado –, cresceu assistindo a óperas em Santiago. “Quando chegávamos em casa, minha mãe dizia: ‘Agora vou mostrar o que é bom de verdade’. E colocava uma fita-cassete da Callas”, contou o cineasta. “Cresci admirando essa cantora icônica que obviamente nunca tive chance de ver ao vivo. Minha mãe também tinha muito interesse na vida privada dela, do caso com Onassis. Ela ainda fala disso. Então essa figura misteriosa fez parte da minha vida.”

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Angelina com Haluk Bilginer, que vive Aristóteles Onassis no longa de Pablo Larraín Foto: Pablo Larraín/Netflix © 2024

A cantora, assim como Luciano Pavarotti, sempre tentou popularizar a ópera, e o diretor espera que o filme tenha o mesmo efeito. Afinal, o gênero nasceu popular, mas foi se elitizando com o tempo.

Angelina Jolie, a atriz para o filme

Quando começou a trabalhar no projeto, Larraín precisava encontrar alguém com a disciplina necessária. “Maria Callas não era somente uma cantora de ópera, mas também uma atriz. E ela nasceu com o talento, mas ao longo da vida trabalhou sua voz para chegar àquele nível. Achei que a Angie teria a mesma disciplina.” Em seu primeiro encontro com a atriz, ela disse: “Sou uma trabalhadora. Estou aqui para trabalhar”. 

Angelina credita ao diretor ter as condições necessárias para isso. “Por causa de seu respeito por Maria e seu entendimento de ópera, ficou muito claro que não íamos trapacear. Íamos fazer o que era preciso, pois essa era a única maneira de fazer um filme sobre ópera”, disse ela. “E sua crença em mim tornou possível que eu interpretasse o papel, porque às vezes eu duvidava.”

No primeiro encontro do diretor com a atriz, ela disse: ‘Sou uma trabalhadora. Estou aqui para trabalhar’.

Claro que é impossível reproduzir Maria Callas. Angelina cantou todas as músicas na filmagem e sua voz foi mixada com a da soprano na pós-produção. Nas cenas de seu auge, a porcentagem utilizada da voz da atriz é pequena. Mas ela cresce conforme nos aproximamos do presente no filme (diferentemente dos flashbacks). “Sempre há um fragmento de Angelina, mesmo que pequeno”, explicou Larraín. 

Por sete meses, ela fez aulas de italiano para pronunciar as letras corretamente e estudou ópera, canto, postura e respiração. “Descobri que não era tão má cantora quanto pensava”, disse Angelina, rindo. “Mas a verdade é que nunca tinha tentado. Alguém na minha vida tinha sugerido que eu era incapaz, então deixei de lado. Tive sorte aqui de ter pessoas me ajudando a encontrar minha voz. Isso foi muito emocionante para mim. Amei cantar. Me senti transportada.”

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Foto: Netflix © 2024

Após sua última cena, Angelina caiu de joelhos e nunca mais cantou. Para a atriz, ainda é difícil separar-se de Maria Callas. “Porque agora tenho uma memória de me lembrar da minha mãe quando canto ‘Ave Maria’, por exemplo. Associo algumas das músicas com algo que compartilhei de mim com ela. Espero que um dia eu consiga separar as coisas. Por enquanto, é muito pessoal.”

A dificuldade para Angelina não foi só encarnar essa figura mítica e aprender a cantar, a respirar, a falar italiano. Quando ouvia ópera na sua juventude, não compreendia. “Acho que é preciso crescer e ter experiências de vida mais profundas para apreciar”, disse. “É preciso ter um certo nível de dor e alegria dentro de si. Muitas vezes na vida, você não encontra um som que corresponda àquela dor até você ouvir ópera, aquele som imenso.” Hoje, ela recomenda que todos façam aulas de ópera. Para ela, foi uma espécie de terapia para liberar as emoções, encontrar sua voz e expressar-se, uma experiência emocional intensa que, por isso, é difícil de reviver. 

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