Nicole Kidman: “É raro uma mulher conseguir fazer um papel assim, nessa idade”
Em "Babygirl", a atriz interpreta uma executiva que arrisca seu emprego e sua família ao se envolver com um estagiário.
Conhecida por seus papéis ousados, Nicole Kidman arrisca-se uma vez mais em Babygirl, dirigido por Halina Reijn (Morte morte morte, de 2022), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (9.1). Por sua interpretação, ela recebeu a Coppa Volpi de melhor atuação feminina no Festival de Veneza e foi indicada ao Globo de Ouro de atriz em drama, perdendo para Fernanda Torres, de Ainda estou aqui.
Em Babygirl, ela interpreta Romy, CEO de uma grande companhia que aparentemente é perfeita: linda, bem-sucedida, poderosa, inteligente, casada com o famoso dramaturgo Jacob (Antonio Banderas), mãe, vivendo em um apartamento daqueles em Nova York. Mas o estagiário Samuel (Harris Dickinson, de Triângulo da tristeza) acaba tirando Romy do prumo e fazendo com que ela exponha as facetas que gostaria de esconder sob sua fachada de perfeição. Os dois embarcam em um affair quente com uma relação de poder ambígua e complexa.
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“Nunca tinha lido nada assim”, disse Nicole Kidman à ELLE, quando indagada sobre as razões pelas quais aceitou o papel. “O roteiro continha verdade e honestidade, era divertido, mas também perturbador, provocativo e emocionante. Fora isso, tinha sido escrito por uma mulher, que também dirigiria. Era bem a minha cara.” Alguns anos atrás, Nicole se comprometeu a trabalhar com diretoras a cada 18 meses e tem cumprido sua promessa.
Não que tenha sido fácil. “Tenho muito orgulho agora, mas foi um filme e tanto para fazer porque estou em todas as cenas. Nós rodamos durante o inverno (de 2023), no período de Natal, e foi duro, mas também empolgante e satisfatório.” O elenco teve tempo de ensaiar, mas as filmagens foram bem aceleradas. “Isso ajudou, no fim, porque você não pode ficar pensando demais. É um filme visceral. Nós todos ficamos em um estado de exaustão, de adrenalina.”
“O roteiro continha verdade e honestidade, era divertido, mas também perturbador, provocativo e emocionante. Fora isso, tinha sido escrito por uma mulher, que também dirigiria. Era bem a minha cara.” Nicole Kidman
Tudo feito com muita segurança, segundo ela. “Eu e o Antonio (Banderas) estamos acostumados a fazer filmes que lidam com sexualidade, mas eu nunca tinha trabalhado com uma mulher em um filme tratando do tema, por exemplo. Halina estava sempre disposta a nos ouvir.”
Para a atriz de 57 anos, é uma personagem incomum, mesmo nos dias de hoje. “É muito raro uma mulher conseguir fazer um papel assim, nessa idade, um filme que pareça novo e moderno e uma mirada diferente nesse gênero.”
A holandesa Halina Reijn, que também é atriz, inspirou-se em peças como Hedda Gabler, de Henrik Ibsen (1828-1906), e nos filmes de Michael Haneke (A professora de piano) e Paul Verhoeven (Instinto selvagem), além de outros thrillers eróticos dos anos 1980 e 1990 como Atração fatal, 9 1/2 semanas de amor e Proposta indecente, todos dirigidos por homens. “Fui educada por eles, mas queria ter um ponto de vista feminino e dar uma resposta a todos esses diretores homens”, disse Reijn em entrevista coletiva. “No final, sempre havia uma punição. Para mim, era importante que não reproduzíssemos isso aqui.”
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A diretora Halina Reijn e Nicole Kidman nas filmagens de Babygirl
Nicole acredita ser fundamental ter filmes assim dirigidos por mulheres. “Espero que tenhamos sucesso porque acredito ser importante para nossa jornada ao futuro que contemos essas histórias com mulheres no comando.”
Facetas escondidas
Halina começou a trabalhar no roteiro de Babygirl pensando em como integrar todas as partes de si mesma. “Sempre senti que havia coisas que não queria mostrar para o mundo. Em alguns casos, inclusive, tinha uma tremenda vergonha. E me perguntava se era possível amar e aceitar todas as nossas facetas. Foi por isso que comecei a escrever.”
Romy, a personagem de Nicole, descobre quem é de verdade ao explorar sua sexualidade, longe das amarras impostas por sua criação, sua posição, o que se espera de uma mulher. “Ela está em uma crise existencial, porque alcançou tudo o que queria. E começa a se sentir inquieta”, contou Nicole. “De repente, Samuel aparece. Esse jovem tem algo de anjo e de demônio e a habilidade de causar disrupção. E causa. Só que isso acontece porque havia uma abertura ali para isso.”
Para a atriz, o filme fala de desejo, segredos, mas principalmente de ter tudo e se autossabotar por não saber o que quer. “Desejos secretos são muito complicados no ambiente de trabalho porque o homem é sempre muito dominante, mas o jogo que acontece entre os dois com consentimento de ambos é fascinante. Há mudanças no equilíbrio de poder entre eles.”
Nicole e Harris Dickinson no longa
Masculinidade
Dickinson acha que seu personagem reflete as maneiras de ser homem nos dias de hoje. “Ele ainda está entendendo seu lugar no mundo e nessa dinâmica sexual também. Há muitas maneiras de ser um homem moderno, e isso é confuso para muitas pessoas. Samuel está lidando com essas complicações.” Para Halina, além de discutir a feminilidade e o olhar feminino, Babygirl também trata de masculinidade. “O que ela significa hoje, tanto para os meninos e jovens quanto para alguém como Jacob, um homem maduro.” A cineasta se disse fascinada com a juventude de hoje e suas ideias sobre sexualidade, amor-próprio, positividade sexual e de corpo. “Eles me dão esperança.”
Halina espera que o público sinta com um filme um certo perigo e risco. “É para deixar as pessoas um pouco incomodadas. Mas também que elas achem um pouco sexy.”
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