SPFW N60: Led
Fechando o sétimo dia da SPFW N60, a Led se inspira na construção do Carnaval e cruza os limites da passarela com uma bateria de escola de samba.
Sobre um tapete branco, com a imagem de Leci Brandão no meio da passarela e Luciana Gimenez como a primeira modelo, a Led desfilou uma coleção sobre o Carnaval. Mais especificamente, sobre os barracões, onde fantasias e carros alegóricos ganham formas. Mais do que uma celebração da exuberância e trabalho artesanal envolvidos na festa, a apresentação contempla a importância da folia na vida (e no lazer) dos brasileiros.
Led, SPFW N60. Foto: Zé Takahashi / Agência Fotosite
Led, SPFW N60. Foto: Zé Takahashi / Agência Fotosite
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Célio Dias, fundador e codiretor criativo da marca ao lado de Cleu Oliver, explica que o documentário Estou me guardando para quando o Carnaval chegar (2019), de Marcelo Gomes, exerceu influência no processo criativo. O filme retrata a vida dos habitantes de Toritama, cidade no sertão pernambucano conhecida como a capital do jeans. Nela, boa parte dos moradores atuam na produção de vestuário e quase a totalidade de suas rendas são destinada a viagens durante aqueles dias entre sexta e quarta-feira, no caso, a da de cinzas.
Nas roupas, referências clássicas à folia se misturam a elementos do universo fabril. O verde e rosa da Mangueira, os costeiros e cabeças com contas metálicas (uma parceria com a designer mineira Sofia Penido, da Aloe), os volumes fofos do Arlequim em vestidos e blusões e as saias rodadas da Porta-Bandeira são combinados a macacões de sarja e conjuntos de denim decorados com charms de tesouras e fitas métricas.
Led, SPFW N60. Foto: Zé Takahashi / Agência Fotosite
Led, SPFW N60. Foto: Zé Takahashi / Agência Fotosite
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Há nove anos na SPFW e com 17 desfiles, a Led recorre à festividade popular para representar o seu amadurecimento criativo e comercial. O crochê, técnica que deu origem à etiqueta, assume agora um papel mais aspiracional. A manualidade é construída com uma mistura de fios de algodão e seda que forma bodies franjados, deixando a pele à mostra, ou em looks esculturais, com bases de arames, espumas e aros de bambolê.
O restante da coleção atende a demandas comerciais, com variedade de ofertas e acenos à iconografia nacional. Há camisas bordadas com os nomes de Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola, estampas que remetem ao fuxico, frases de efeito no casaco Garoa, no moletom Sueño latino-americano e nas camisetas Piranhuda e Boca Livre, além de bolsas que lembram sacolas de feira. A paleta de cores vai além dos tons vibrantes, incorporando também marrons e beges que evocam os visuais de artistas de samba antigos.
Led, SPFW N60. Foto: Zé Takahashi / Agência Fotosite
Led, SPFW N60. Foto: Zé Takahashi / Agência Fotosite
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Novos materiais naturais entram em cena nos produtos que são mais procurados pela clientela. Entre eles, destaque para o cânhamo em vestidos longos e calças amplas e o linho em diversas gramaturas – mais rígido, com aspecto de juta, nas jaquetas entre o paletó e a bomber, e mais delicado em saias balonê, shorts e bermudas.
No início do ano, a Led foi escolhida para criar as camisetas de um camarote patrocinado por uma cervejaria durante os desfiles das escolas de samba paulista. A parceria foi renovada para 2026, o que ajuda a entender o mote da coleção. Contudo, não se trata apenas de interesse ou artimanha comercial. A etiqueta mineira sempre foi associado ao fervo e à diversão. O próprio Carnaval não é um tema estranho ao seu repertório. No fim, o desfile foi uma solução muito bem resolvida, uma estratégia esperta para manter o bloco na rua. Não à toa, os integrantes da equipe fecharam a apresentação usando camisas com os dizeres “não deixe a moda nacional morrer”, antes de saírem para além da passarela, ao som da bateria de uma escola de samba.
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