Mia Goth fala sobre o figurino de “Frankenstein”, da Netflix
A atriz e a figurinista Kate Hawley destacam a importância das roupas no novo filme de Guillermo del Toro, que uniu referências históricas e contemporâneas.
Fascinado desde criança pela obra de Mary Shelley, o diretor Guillermo del Toro finalmente realiza um de seus projetos mais pessoais – e ambiciosos: uma adaptação de Frankenstein, em parceria com a Netflix. O filme, disponível na plataforma, une drama existencial, visuais impressionantes e o terror gótico característico do cineasta de A colina escarlate (2015).
Na trama, Oscar Isaac é o cientista Victor Frankenstein, enquanto Jacob Elordi encarna a criatura, Christoph Waltz vive o mecenas Heinrich Harlander e Mia Goth se reveza em dois papéis: a mãe de Victor e Elizabeth Harlander, a noiva de William, o irmão do cientista interpretado por Felix Kammerer.
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“Este filme conclui uma missão que nasceu quando eu tinha 7 anos, época em que assisti pela primeira vez aos filmes de Frankenstein, dirigidos por James Whale. Os olhos de Boris Karloff provocaram uma epifania em mim: o terror gótico se tornou a minha religião, e ele passou a ser o meu messias”, disse Del Toro.
Ambientado entre o Ártico e os campos de batalha da Guerra da Crimeia (1853-1856), o longa mergulha em temas universais como solidão, culpa e a busca por pertencimento, semelhante a outros trabalhos do diretor, como o O labirinto do fauno (2006) e a A forma da água (2017).

Mia Goth e Oscar Isaac em cena Foto: Netflix
Scream queen
Para viver Elizabeth, Del Toro escolheu a atriz inglesa, neta da brasileira Maria Gladys, que vem se destacando por suas performances no terror, como em Suspiria (2018) e na trilogia X (2022-24). O convite veio diretamente do cineasta, e Mia lembra o momento com entusiasmo. “Não estava acreditando no que estava acontecendo. Foi a experiência mais surreal que já vivenciei. Comecei a ligar para todo mundo que conheço”, diz ela.
A conexão com sua personagem ganhou forma ao experimentar o figurino criado por Kate Hawley, em janeiro de 2024. “Só me conectei mesmo com a personagem quando vesti o figurino no set. A partir daí, tudo se alinhou”, conta.
“Elizabeth entra na trama depois de ter estudado em um convento. Da mesma forma, cheguei a Toronto (onde aconteceram o início das filmagens) para viver uma experiência completamente nova. Comecei a enxergar muitos paralelos entre mim e Elizabeth pelo que estava vivenciando fora do set. Foi desafiador perceber finalmente isso nos meus momentos mais silenciosos, quando podia ser eu mesma da maneira mais autêntica. É aí que ela surgia.”
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O figurino assinado por Kate Hawley Foto: Netflix
Figurino histórico, com uma dose de fantasia
A figurinista indicada ao Emmy por O senhor dos anéis: os anéis de poder (2022) começou a construir a identidade visual dos personagens inspirada pela ambientação do longa e nas referências históricas do século 19, mas sem abrir mão da liberdade criativa que marca o cinema de Del Toro. “No fim das contas, estávamos trabalhando com uma fantasia, então, pudemos fazer concessões”, diz ela.
“Só me conectei mesmo com a personagem quando vesti o figurino no set. A partir daí, tudo se alinhou” Mia Goth
Os looks de Elizabeth foram pensados para traduzir sua delicadeza e fascínio pela natureza. Inspirada pela entomologia (estudo dos insetos) e pela botânica, Hawley analisou a anatomia de insetos e estruturas celulares para desenvolver estampas originais em tecidos como seda, tafetá e damasquim. “Guillermo queria que Elizabeth fosse bem leve, por isso, há uma certa iridescência e efemeridade em algumas dessas cores, e os tecidos nos ajudaram a alcançar esse efeito. Tudo lembra insetos, mas de acordo com a época.” O resultado são peças que remetem ao brilho de besouros e a asas translúcidas.

Detalhes das peças usadas por Elizabeth Foto: Netflix
Acessórios marcantes, como xales geométricos típicos da Guerra da Crimeia e boinas com véus coloridos também foram criados por ela. “A linguagem religiosa é muito presente na Elizabeth, e essa boina funciona como se fosse um halo (peça de proteção). Usei véus coloridos para a estética se afastar um pouco do tradicional. Mia tem um rosto incrivelmente expressivo e, em uma das primeiras provas de figurino que fizemos, colocamos essa boina nela, com o véu amarelo. Foi impressionante como ela simplesmente se transformou em outra pessoa”, conta a figurinista.
A Tiffany & Co. convidou a figurinista para conhecer os bastidores do arquivo da grife e escolher os acessórios da personagem. O resultado são joias referência dos 200 anos de história da grife , como o colar The Wade, com mais de 40 quilates de diamantes, e a gargantilha The Beetle, em formato de escaravelhos de vidro e 18k em ouro.

Elizabeth e a criatura, interpretada por Jacob Elordi Foto: Netflix
Para atender ao pedido do diretor de não deixar as peças de época antiquadas, Hawley combinou silhuetas clássicas com elementos modernos, criando um visual único para Victor Frankenstein, que mistura a elegância do século 19 à irreverência contemporânea. David Bowie e Prince foram inspirações. A figurinista cita o bailarino Rudolf Nureyev como sua principal referência. “Adoro a grandiosidade que o cerca e seu jeito irreverente de se vestir. Guillermo queria que Victor fosse um almofadinha com um toque punk”, afirma.
“Guillermo queria que Victor fosse um almofadinha com um toque punk” Kate Hawley
O mesmo contraste é visto na criatura. Inicialmente envolto em ataduras brancas, exibindo as próteses corporais usadas pelo ator, o personagem ganha um casaco enorme após vagar pelo mundo. “Fizemos muitas provas com o casaco, numa tentativa de preservar a expressão corporal de Jacob e o jeito de se mover que ele desenvolveu”, completa Hawley.
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