Christina Ricci fala à ELLE sobre a nova temporada de “Yellowjackets”

Yellowjackets ofereceu em sua primeira temporada uma combinação atípica: um elenco quase todo feminino, com personagens que passam por traumas na adolescência após um acidente de avião e lidam com eles – ou não – no tempo presente, fazendo algumas coisas bem más. Tudo embalado por uma trilha rock dos anos 1990 irresistível. Foi um sucesso de crítica, público e prêmios, com sete indicações ao Emmy e um prêmio Critics Choice de atriz para Melanie Lynskey.

A série criada por Ashley Lyle e Bart Nickerson (roteiristas de Narcos e Narcos: México) volta na sexta-feira (24.03), no Paramount+, com sua segunda temporada e um cover de “Just a girl”, da banda No Doubt, hit dos anos 90, gravado por Florence + The Machine.

A segunda temporada é ainda mais sombria do que a anterior. Nos flashbacks do passado, as adolescentes Shauna (Sophie Nélisse), Misty (Samantha Hanratty), Natalie (Sophie Thatcher), Taissa (Jasmin Savoy Brown), Van (Liv Hewson) e Lottie (Courtney Eaton), perdidas em uma mata depois de um acidente de avião, estão lidando com o auge do inverno, a escassez de comida e a culpa pela morte, por hipotermia, de Jackie (Ella Purnell).

No presente, o trauma dos anos 1990 assombra as mulheres de maneiras diferentes, da dona de casa Shauna (Melanie Lynskey) à política Taissa (Tawny Cypress) e as maluquetes Natalie (Juliette Lewis) e Misty (Christina Ricci). Elas também precisam lidar com confusões atuais, como Shauna ter assassinado um homem com quem estava tendo um caso por acreditar que ele estava ameaçando contar tudo o que tinha acontecido naquela floresta, o que incluí canibalismo.

A série, que conta com algumas estrelas dos anos 1990, como Lynskey, Lewis e Ricci, traz ao elenco Simone Kessell (San Andreas, 2015), no papel de Lottie, e Lauren Ambrose (A sete palmos, de 2001, Servant, 2019-2023), como Van, em suas versões adultas.

Papel de Ricci, que fez sucesso como a Wandinha de A família Addams (1991) e em produções como A tempestade de gelo (1997), Misty é uma enfermeira engraçada e aterrorizante que gosta de dar uma de detetive. Na segunda temporada, ela vai conhecer outro como ela, Walter (Elijah Wood, da trilogia O senhor dos anéis, e que também fez A tempestade de gelo). A atriz falou à imprensa internacional em uma mesa-redonda virtual com a participação da ELLE:

As sobreviventes do acidente em meio ao inverno na nova temporada

Faz muitos anos que você atua, mas nem todos os projetos tiveram o mesmo tipo de sucesso. Em que momento percebeu que Yellowjackets era especial?
Conforme os roteiros (dos episódios) chegavam, eles ficavam cada vez melhores. Mas nem sempre houve uma conexão entre o que realmente gosto e o que faz sucesso. Então, não foi até a evidência do sucesso da série que eu pensei: Uau, as pessoas realmente gostam da série. Demorou para acontecer.

Como a representação dessas personagens femininas se aprofunda e adquire novas nuances nesta nova temporada?
No caso da minha personagem, ela é lançada em mais situações de exposição emocional. E claro que a conhecemos melhor, explorando sua história e seu comportamento em situações com as quais nos identificamos.

Como está sendo ter a oportunidade de interpretar essa mulher muito traumatizada, mas também cheia de falhas, às vezes perigosas, algo que ainda não é tão comum?
Realmente pensei que havia uma data de validade para minha capacidade de desempenhar papéis de destaque. Sempre houve uma luta para interpretar mulheres complicadas e imperfeitas de uma forma que não fosse fofinha, pedindo desculpas ou certinha para não chatear o público. Finalmente conseguir fazer isso de uma maneira direta e sem medo é realmente maravilhoso. Na verdade, sempre acho incrível que as pessoas queiram me ver.

Christina Ricci como Misty e Elijah Wood como Walter

Hoje em dia, há uma onda de programas de TV e filmes que abordam o canibalismo em suas tramas. Por que esse tema deixa as pessoas tão curiosas?
Esse não é um dos maiores tabus? Uma das coisas que realmente não devemos fazer é comer uns aos outros. Tipo, não tenham filhos com parentes e não comam uns aos outros.

Mas não acha que essas obras são metáforas para alguma coisa? A série fala de raiva da adolescente, autodescoberta, despertar sexual.
Há algo curioso na ideia de mulheres, que são mães e criadoras da vida, destruindo a vida dessa maneira. Não é só matar uma pessoa, mas é ingeri-la completamente, devorando a vida de uma forma que acho muito sombria. Acho que talvez pareça mais horrível ver mulheres fazendo isso porque deveríamos ser as criadoras e protetoras da vida, mas não tenho certeza.

Juliette Lewis como Natalie

Misty está lidando com coisas muito pesadas desde a primeira temporada, mas a segunda traz novas camadas. Você sabe a história dela completa? Senão, como lida com o fato de não ter ideia do que aconteceu quando elas estavam na natureza selvagem?
Sim, definitivamente há coisas que surgiram em que eu pensei: Bem, teria sido ótimo saber quando estávamos fazendo aquela cena na última temporada! Se nós somos as versões adultas e nossas ações representam a história do que passamos, às vezes não conhecer a história em detalhes significa que não podemos interpretá-la. Mas devo dizer que meio que funciona para mim interpretando Misty, porque ela não tem necessariamente esse tipo de resposta emocional normal para tudo. Ela não sente vergonha do que aconteceu na floresta. Não tem necessariamente uma ligação emocional típica com as pessoas. Então, funciona. Mas seria ótimo saber tudo.

Misty vai continuar explorando esse lado detetive que ela tem, que foi muito importante na primeira temporada?
Começamos a (trama da) segunda temporada um ou dois dias depois do fim da primeira. E ela rapidamente descobre que Natalie (Juliette Lewis) está desaparecida – ela foi sequestrada, como vimos no fim da primeira temporada. Então, esse seu hábito de bancar a detetive desempenha um papel importante no início da segunda temporada.

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