Paris Fashion Week: Dior verão 2024

Quase toda em preto e branco, coleção de verão 2024 da Dior dá toque de sofisticação a algumas das principais tendências da temporada, em desfile no segundo dia da Paris Fashion Week.


Modelo com alfaiataria oversized no verão 2024 da Dior durante a Paris Fashion Week.
Dior, verão 2024. Foto: Getty Images



No segundo dia da Paris Fashion Week, os assuntos que mais renderam depois do desfile de verão 2024 da Dior foram a instalação de vídeo da artista italiana Elena Bellantoni e o tema da coleção – uma homenagem às mulheres rebeldes, muitas vezes chamadas de bruxas, que desafiaram as normas masculinas com independência e conhecimento. Sobre as roupas mesmo, falou-se pouquíssimo.

Parece que nada se sustenta por si só, não é mesmo? Tudo precisa de um storytelling, uma narrativa e um discurso engajado. Isso é especialmente verdade – e útil – para engrandecer criações de pouco valor ou significado. O que não é o caso da Dior, muito menos desta coleção. Aqui, na real, acontece o inverso.

Modelo com camisa de um ombro só no desfile de verão 2024 da Dior durante a Paris Fashion Week.

Dior, verão 2024. Foto: Getty Images

Ao todo são quase 80 looks, muitos deles bem alinhados com os temas da temporada. Sabe a tendência do minimalismo preto e branco, que vem rolando desde a semana de moda de Nova York? Então, fazendo jus à Paris Fashion Week, ela aparece com sotaque francês e muito savoir faire.

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Os melhores exemplos são as camisas brancas, nas mais variadas versões: clássica, ampla, vestido, quadrada, seca, transparente…em várias versões. A mais interessante, porém, é a com decote de um ombro só, outra trend forte do verão 2024.

Look com detalhes de aparência queimada no desfile de verão 2024 da Dior durante a Paris Fashion Week.

Dior, verão 2024. Foto: Getty Images

A alfaiataria meio oversized, outro assunto recorrente da temporada, aqui fica mais delicada – afinal estamos falando de Dior –, mas nada exagerado. Só um leve ajuste na cintura, um tecido com textura e toque mais macio e pronto. A diretora de criação Maria Grazia Chiuri não tava muito a fim de firula nesta estação.

Tanto que os vestidos de contos de fadas, pelos quais a estilista é famosa, são raríssimos. E ainda assim parecem mais sair de um pesadelo do que de um sonho. A ideia é justamente essa, subverter o que se entende por feminilidade e o que é adequado para a mulher.

Daí as peças com faixas de seda e de chifon esvoaçantes, as barras queimadas e os tecidos rasgados ou desgastados. Chega até lembrar algumas coleções do começo dos anos 2000 da época do Galliano: como a da revolução francesa e do Matrix.

Voltando ao presente, é uma coleção cheia de produtos bem desejáveis e que, apesar da imagem bem amarrada, funcionam perfeitamente em outras combinações. Lembra que falamos disso no desfile da Gucci? Das roupas que independem da narrativa em que são apresentadas? Maria Grazia faz isso desde que chegou à Dior, em 2016.

Top com rendas no verão 2024 da Dior durante a Paris Fashion Week.

Dior, verão 2024. Foto: Getty Images

Acontece que tudo isso se perde no meio de tanto auê. A instalação de Bellantoni, por exemplo, não tinha nenhuma conexão visivelmente direta com a coleção. Após a apresentação, a artista italiana afirmou que a obra foi concebida de forma totalmente independente da coleção.

Existe um link conceitual, além da iniciativa da Maria Grazia em usar os desfiles para dar visibilidade ao trabalho de criadoras mulheres. No entanto, as imagens são bem distintas. Talvez uma exposição ou ação separada tivesse mais eficácia? Quem sabe, mas longe de mim dizer o que a Dior deve ou não fazer.

É que as reproduções e ressignificações de publicidades sexistas feitas pela italiana eram super coloridas e pop. A coleção, por outro lado, é praticamente toda em preto e branco. E todo comunicador – publicitário mais ainda – sabe do poder das cores em roubar a atenção.

A história das bruxas independentes e desafiadoras também não ajuda muito. Faz sentido, mas ignora a realidade de como muita gente consome e reproduz informação. Vide boa parte dos posts nas redes sociais. E aí, o que importa mais: falar das bruxas ou do que vale a pena investir no próximo verão?

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