Semana de moda de Milão: Gucci verão 2024

Em sua estreia como diretor de criação da Gucci, o estilista Sabato de Sarno olha para os anos 1960, 70 e 90 para apresentar uma coleção de peças fortes, independentes e altamente desejáveis na semana de moda de Milão.


Modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, marcando a estreia de Sabato de Sarno na direção criativa, durante a semana de moda de Milão.
Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images



Nesta semana de moda de Milão, o desfile mais aguardado aconteceu na manhã desta sexta-feira (22.09): era o de verão 2024 da Gucci, com a estreia de Sabato de Sarno na direção criativa. E como foi? Foi como esperado. A imagem é bem mais limpa, a oferta de produtos segue a linha clássica do momento, a influência de Tom Ford é evidente, bem como a vontade de destacar peças emblemáticas da marca.

Para recordar, Sabato (ex-Prada e ex-Valentino) chegou para substituir Alessandro Michele. O então diretor de criação foi responsável por colocar a casa florentina no topo da lista de desejos de muita gente. O sucesso comercial foi estrondoso, até que não foi mais.

Michele deixou a empresa em novembro do ano passado, assim, meio de repente, sem muitas explicações. Quer dizer, mais ou menos sem muitas explicações. É que a Gucci saiu da pandemia vendendo e crescendo menos do que a concorrência. E, na cabeça dos executivos, quando isso acontece é “beijo, obrigado”.

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

Eis que chega Sabato. Antes, porém, quero falar do Daniel Lee, da Burberry. Em entrevista ao The Business of Fashion, ele diz que a moda nãoé mais sobre uma determinada silhueta, uma estética, ou um jeito específico de combinar as peças. É sobre objetos. “As pessoas respondem a objetos singulares”, nas suas palavras.

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O desfile verão 2024 da Gucci não tem tema, narrativa nem alguma história por trás – e isso não é um xoxo. É um alívio. Em entrevista ao The New York Times, Sabato de Sarno afirma ser mais real, diz que não quer construir um mundo alternativo e que detesta cenários. Aliás, a apresentação de hoje, terceiro dia da semana de moda de Milão, aconteceria na rua, mas por conta da chuva foi transferido para o QG da marca.

A coleção consiste de um bom mix da Gucci dos anos 1960 e 70, quando se tornou queridinha da elite jetsetter, e do período em que Tom Ford comandou a casa, nos anos 1990, com muito apelo sexual. É um recorte que já vinha acontecendo antes mesmo da saída do Michele. A diferença é que, agora, as referências são diretas e retas.

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

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Tem (respira fundo) os vestidos evasês, as jaquetas mod, os casacos navy (a primeira peça que Sabato comprou foi um desses, azul-marinho, guardado até hoje), camisetas e regatas brancos, blusas frente única com boyfriend jeans de cintura baixa, vestido camisola, suéteres de tricô e moletons cinzas, camisas tipo bata (com botões sempre abertas fazendo as vezes de decote), saias lápis com fendas generosas e uma alfaiataria bem precisa. 

Nos acessórios, o famoso mocassim Gucci ganha salto plataforma e nas bolsas o destaque é os novos modelos da Jackie.

Lembra dos objetos? Cada peça do verão 2024 da Gucci sob direção criativa de Sabato de Sarno funciona sozinha, independente do styling e do contexto do desfile. Parece bobagem, mas é coisa rara atualmente. E provavelmente vai vender horrores. 

São roupas que conversam diretamente com uma série de vontades e necessidades das consumidoras da casa. É aquela peça que faz a diferença, que dá para combinar de sei lá quantas maneiras, que resolve, ajuda e não decepciona. E ainda te deixa bonita, elegante e sensual. Só faltou mostrar isso de forma mais diversa. Mas aí é assunto de outro texto (#vemaí!).

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

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É um produto em perfeita sintonia com o que muita gente quer vestir já. Ou melhor, com o que muita gente já está vestindo. E aí começam os problemas.

Faz mais ou menos um ano que a moda entrou numas de reduzir tudo ao básico, ao essencial. É o que vende mais fácil, tem menos riscos. Afinal, estamos falando de clássicos, peças atemporais, tudo muito bem feito.

Acontece que isso já tá rolando. E diversas pesquisas de mercado atestam que sim, é tudo verdade: os consumidores estão buscando e comprando mais exatamente esse tipo de roupa. A coleção vista hoje na semana de moda de Milão só chegará às lojas daqui uns seis meses. Em tempos de sem tempo irmão, tudo instantâneo, a vida é agora, ainda vale a pena esperar? 

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

modelo no desfile de verão 2024 da Gucci, na semana de moda de Milão, marcando a estreia de Sabato de Sarno como diretor de criação.

Gucci, verão 2024. Foto: Getty Images

Tá, são peças clássicas, à prova do vaivém das tendências, com todo um trabalho manual exclusivo. Mas isso a concorrência também tem. Inclusive a concorrência interna do grupo Kering, do qual a Gucci faz parte.

Complicado, né? Mais ainda com a aparência genérica, sem toque pessoal da coleção. Não fossem os logos, monogramas e etiquetas, seria fácil confundir esses produtos com os de outra marca. E o fato de parte das propostas lembrarem um tantinho looks de coleções recentes de outras grifes, algumas em que Sabato já trabalhou, não ajuda.

Tudo bem, é a primeira coleção, ele nunca esteve num cargo como esse, a pressão com certeza não é pouca  (a Gucci responde por mais da metade do faturamento da Kering), e sabe-se lá quais são as exigências dos executivos. Porém, em uma estreia, espera-se ver ou conhecer um pouco do estreante, suas ideias, suas visões, suas particularidades. E dessa vez isso não rolou.

Torcendo pela próxima.

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