Casa de Criadores 53: Rober Dognani 

Rober Dognani cria vestidos pelados e leva potência do desejo para nova coleção na 53ª Casa de Criadores.


Modelo Agnes Nunes desfilando para a coleção de Rober Dognani na Casa de Criadores 53.
Rober Dognani, verão 2024. Foto: Agência Fotosite



No sábado (09.12), Rober Dognani apresentou sua nova coleção na 53ª Casa de Criadores ​​inspirada no corpo nu. E se o corpo pelado tem muitos significados, aqui o principal deles é ser sinônimo de vida.

Este ano foi especialmente difícil para o estilista. No final de 2022, ele apresentou o seu desfile de número 40, comemorando 20 anos no evento. Para isso, decidiu homenagear a sua mãe, Dona Iracema, com uma coleção que transformava o jardim de damas da noite da casa dela em vestidos

Modelo Vivi Orth desfilando para a coleção de Rober Dognani na Casa de Criadores 53.

Rober Dognani, verão 2024. Foto: Agência Fotosite

No começo de 2023, Dona Iracema faleceu em decorrência de um câncer. Sua última apresentação na Casa de Criadiores foi de luto e celebração, levando para a passarela imagens duplicadas, looks importantes na frente e nas costas, para falar dessa mulher que inspirou o filho a costurar com o coração. 

É importante localizar esse momento de vida de Rober para enxergar a coleção desta temporada com as camadas que ela merece. Afinal, o que pensamos quando o assunto é nudez? Geralmente, o pudor faz com que o corpo pelado seja entendido como algo proibido, vulgar, obsceno, depravado, pornográfico. Mas, antes de tudo, trata-se de uma pulsão de vida. 

Tanto, que a escolha por exaltar as formas físicas se relaciona com a primeira coleção que o estilista apresentou na Casa de Criadores, quando ele estava começando tudo, cheio de vontade e inspirado no artista austríaco Egon Schiele. 

Modelo desfilando para a coleção de Rober Dognani na Casa de Criadores 53.

Rober Dognani, verão 2024. Foto: Agência Fotosite

O traço reconhecível de Schiele aparece não só estampado em vestidos e macacões colados ao corpo, como também em um experimento com enchimentos para redesenhar silhuetas, aumentar um pedaço da cintura aqui, saltar um osso ali. 

Em cima de vestidos pregueados ou bodies, o trabalho com látex, recorrente na produção de Rober, se destaca. Agora, está ainda mais bem resolvido, formando um peito com mamilo, uma vagina exposta e um pênis flácido. Essas partes são reveladas aos poucos pelos modelos que seguram capas, quimonos e roupões de seda e cetim. 

Modelo desfilando para a coleção de Rober Dognani na Casa de Criadores 53.

Rober Dognani, verão 2024. Foto: Agência Fotosite

O styling assinado por Davi Ramos e Flavia Pommianosky é parte essencial nessa história – e no seu enriquecimento. Um dos efeitos mais bonitos é o do vestido-camisola usado como saia, como se tivesse caído do corpo ou sendo despido. Há também meias-calças aparentes, tiradas ao longo da apresentação, além de um toque luxuoso de cabaré nos acessórios de cabeças criados por Davi. 

Dá vontade de ver essas roupas em um palco de teatro poderoso. Ainda bem que um cenário foi adaptado com cama, penteadeira, cadeiras e outros objetos com jeito de anos 1920 – e pêssegos jogados por todo o lugar. Quer dizer, os que não foram saboreados pelas modelos.

E a melhor parte é saber que Rober está vivíssimo. Vivendo, criando e com muito desejo. 

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