Paris Fashion Week: Dior inverno 2024
A diretora de criação Maria Grazia Chiuri se inspira na linha Miss Dior, de 1967, em busca de modernidade e juventude.
Faz quase oito anos que Maria Grazia Chiuri divide opiniões acaloradas com suas coleções para a Dior. A de inverno 2024, apresentada na terça-feira (27.02), segundo dia da semana de moda de Paris, não foge à regra
O ponto de partida é a linha Miss Dior, criada em 1967 pelo então diretor de criação, Marc Bohan, e desenhada por seu assistente, Philippe Guibourgé. Como uma espécie de segunda marca, mais acessível e mais jovem, foi a entrada da maison no prêt-à-porter.
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
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O caminho foi aberto um ano antes por Yves Saint Laurent, que antecedeu Bohan e sucedeu Christian, com sua Rive Gauche. Antes, quem quisesse – e pudesse pagar – uma roupa Dior, precisava marcar hora, tirar medidas e dar seus pitacos sobre os modelos exclusivos disponíveis nos salões de alta-costura.
Aí, vieram os anos 1960 e muita coisa começou a mudar – liberação sexual, pílula anticoncepcional, o terremoto jovem (ou youthquake), os movimentos estudantis de maio de 1968, e toda aquela baguncinha gostosa.
É esse cenário e contexto que inspiram a coleção de inverno 2024. Porém sem a parte bagunçada. Na interpretação de Maria Grazia tudo é organizado e bem comportado.
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
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Da moda 60’s, vêm as minissaias, as blusas de gola alta justinhas, as jaquetas estilo mod e aquelas de lã felpudas, os vestidos coluna com galas decoradas com pedrarias, as meias calças, as botas flats de cano alto, os padrões geométricos e as linhas retas que orientam boa parte dos designs.
Tudo em tons neutros de bege, branco, cinza e preto – salvo uns dourados aqui, uma oncinha ali e um azul-marinho acolá.
Dando continuidade a algumas ideias do verão 2024 de alta-costura, a estilista segue eliminando estruturas rígidas, suavizando silhuetas emblemáticas da maison e deixando a alfaiataria confortável, bem soltinha. As brincadeiras com as formas e tecido do trench coat também migram para o prêt-à-porter, embora contidas, limitadas a mangas encurtadas, variações de modelagem e proporção e maxiestampas das palavras Miss Dior.
Após algumas temporadas sem lançar novos merchandisings, a diretora de criação retoma os prints que, apesar de polêmicos, foram sucesso de vendas no passado. Lembra das camisetas com os slogans “we should all be feminist” (verão 2017) e “why have there been no great women artists” (verão 2018)? Então, é isso.
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Diz que as estampas são referências aos cartazes de protestos feitos por estudantes francesas nas marcas de 1968. Por isso, o nome Manifesto Miss Dior. Acontece que de rebelde Christian Dior não tem nada. Sua marca também. Pelo contrário, dá até para argumentar que ela tem um pézinho (talvez dois?) no conservadorismo.
A revolução New Look, em 1947, foi mais estética do que técnica . A segunda guerra havia recém-terminado, e as roupas do couturier, com camadas e camadas de tecidos, pesadíssimas, eram o puro suco da nostalgia, o retorno de um glamour sequestrado pelos nazistas.
As exceções nessa história são John Galliano e, em menor grau, Raf Simons. Galliano é ainda responsável por fixar em nossas mentes a ideia – e muitas memórias – de uma Dior cenográfica, superlativa e contestadora.
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Maria Grazia até tem sua dose de rebeldia. Só não é uma rebeldia visual. É mais de comportamento ou de pensamento. Por isso, sempre que existe a intenção de se rebalar, o resultado é esquisito. Parece forçado, uma fantasia. Não é de verdade.
Nesta coleção, por exemplo, tem minicomprimento, blusa de alcinha, vestido transparente, mas tem o corpo coberto por meias-calças e segundas peles. Tem lenços e jaquetas com estampas manifesto, porém em produções e peças quase formais. Tipo look de quem participa de manifestações populares da sacada ou pelas redes sociais.
Desde que chegou ao atula cargo, em julho de 2016, a estilista bate na tecla da funcionalidade. Seu objetivo é oferecer roupas reais, práticas, capazes de fazer a diferença e facilitar a vida das clientes.
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
É uma ótima ideia. E uma ideia que vende bem. Nos sete anos de Maria Grazia na direção criativa, a Dior triplicou de tamanho, segundo relatórios financeiros do grupo LVMH, da qual a marca faz parte. Contudo, é uma ideia que cansa fácil e rapidamente quando trabalhada apenas com pragmatismo.
Que a gente espera mais da Dior não se discute. E nem precisa ser as maluquices de Galliano. Dar mais espaço para a criatividade e não só para as planilhas comerciais já seria maravilhoso. Tem muita marca de luxo provando que essa combinação é, sim, possível.
Dior, inverno 2024. Foto: Divulgação
As armaduras e as imagens nas paredes da sala de desfile, são da artista indiana Shakuntala Kulkarni. E não, elas não têm muita relação com a coleção.
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