SPFW N57: Catarina Mina

Catarina Mina mostra trabalho de 15 anos com artesãs cearenses em estreia na SPFW N57.


Look do desfile da Catarina Mina na SPFW N57.
Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia



A estreia nas passarelas da SPFW N57 foi hoje, sexta-feira (12.04). Mas a Catarina Mina já acumula 15 anos de história valorizando o trabalho manual. 

O começo foi em 2008, quando Celina Hissa, a fundadora da etiqueta, decidiu criar bolsas com tipologias manuais como o crochê. Conforme aumentava suas ideias de possibilidades de acessórios, aumentavam suas conexões com diferentes artesãs. Corta para hoje, e a Catarina Mina virou uma rede de mais de 30 comunidades, com aproximadamente 450 artesãs atingidas.

Look do desfile de Catarina Mina na SPFW N57.

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia

Leia mais: Catarina Mina, como empreender com foco no trabalho artesanal.

Na estreia da SPFW, essas artesãs são chamadas de Guardiãs da Memória, o nome também da coleção de 40 looks, feita em cima de 6 técnicas artesanais diferentes e que marca a entrada oficial da Catarina Mina no universo do vestuário. 

Algumas técnicas são bem conhecidas, como o crochê. Aqui, ele é feito com fio de cetim, o que dá rigidez e toque específicos às peças. Existe também o crochê no ponto pipoca, formando uma textura especial em vestidos de rede. E tem ainda ele misturado com linho ou seda pura, mostrando a versatilidade da técnica ao construir de calças jogger a sobretudos e kaftans. 

Look do desfile de Catarina Mina na SPFW N57.

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia

As tipologias manuais surpreendem pelas possibilidades. O bordado forma padronagens gráficas. A tecelagem com palha de carnaúba não se limita a bolsas e aparece na passarela como top ou vestido. E a renda de bilro ganha aplicações de cristais que a tiram do lugar comum.   

“A gente brinca que nossa renda de labirinto é a joia do Ceará, pois se trata de uma das tipologias com maior o risco de extinção”, explica Celina, enquanto mostra uma peça feita pela dona Bia, artesã de 82 anos. Se 50% das artesãs que trabalham com a marca têm em média entre 20 e 40 anos, no caso da renda labirinto, a faixa etária das artesãs pula para os 70 e 80. 

Look do desfile de Catarina Mina na SPFW N57.

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia

A técnica minuciosa consiste em desfazer o tecido – no caso da coleção, um chiffon de seda – puxando os fios, como se abrisse nele pequenas frestas de luz. Ou seja, o processo virou uma joia, um trabalho manual tão nosso quanto possível de sumir. 

Com esses artesanatos delicados, a sutileza é o fio condutor da coleção. Isso fica evidente nos vestidos em tons de verde escuro, feitos de renda filé. A trama fina reproduz os espinhos do mandacaru vistos de cima. “A renda filé é feita no Vale do Jaguaribe e é guardada por uma associação de artesãs. A gente brinca que, quando o rio seca e a rede não traz o peixe, a renda é quem bota o peixe na mesa”, diz Celina.

Look do desfile de Catarina Mina na SPFW N57.

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia


Look do desfile de Catarina Mina na SPFW N57.

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Agência Fotosite/Marcelo Soubhia

A estreia da Catarina Mina, no quarto dia da SPFW N57, é com um desfile bastante completo. A marca apresenta peças comerciais, propostas possíveis, mas que saem do banal, e imagens mais conceituais, com silhuetas geométricas e volumes interessantes. Bonito que isso esteja atrelado a um trabalho que vai além do discurso. A etiqueta é membro do Pacto Global da ONU e conta com células internas de transparência como dividir os valores de tudo com as artesãs. 

No final, algumas das artesãs, que estavam sentadas na fila A do desfile, levantaram e receberam os merecidos aplausos dos convidados.

Leia também: O Cariri cearense por Marina Bitu. 

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