Catarina Mina leva conexão de artesãs à SPFW N57 

Estreante na SPFW N57, a marca cearense Catarina Mina soma uma história de 15 anos conectando artesãs e fortalecendo o trabalho manual brasileiro. 


Fundadora da marca Catarina Mina, Celina Hissa, sentada ao lado de uma modelo com usando roupa da coleção apresentada na SPFW N57.
A fundadora da Catarina Mina, Celina Hissa, sentada ao lado de modelo com look da SPFW N57. Foto: Thiago Brito



“No quilômetro 30, você dobra.” Foi assim que, pela primeira vez, a artesã Dona Aldenice indicou o caminho para sua casa, no interior do Ceará, a Celina Hissa, fundadora da marca Catarina Mina. As duas trabalham juntas há mais de dez anos e agora se preparam para ver suas roupas e acessórios, que têm o trabalho manual como a base de tudo, estrear na SPFW N57.

A Base de tudo, porque a Catarina Mina, além de uma etiqueta, é uma rede de mais de 30 comunidades, com aproximadamente 450 artesãs brasileiras. Elas criam bolsas, cintos, brincos, sapatos, itens de decoração e peças de vestuário construídos por tipologias manuais, como a renda e o crochê.

Modelo com look Catarina Mina da SPFW N57.

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Thiago Brito

Criada em 2008, a marca está presente em 17 países e não pára de conquistar a atenção internacional – 20% do seu faturamento anual vem de fora. Além disso, a etiqueta é membro do Pacto Global da ONU. Para Celina Hissa, isso evidencia o quanto a peculiaridade artística brasileira coloca o nosso país como “grande potencial no mercado de moda sustentável”. 

Na próxima sexta-feira (12.04), a Catarina Mina estreia na SPFW N57. Para a primeira apresentação, a coleção, chamada Guardiãs da Memória, mostrará 40 looks produzidos a partir de seis técnicas artesanais junto a peças de alfaiataria de linho e seda. A expectativa, conta Celina, “é refletir na passarela tudo aquilo que trabalhamo há tempos”. 

SPFW N57: a estreia de veteranas 

Os destaques da coleção são as tipologias manuais, o carro-chefe da Catarina Mina desde a sua origem. Uma delas é o bilro, um tipo de renda característica do município cearense de Trairi que nasce das mãos de mais de cinco mil mulheres. “Não à toa, a cidade é chamada de ‘A Cidade da Renda de Bilro’ e exporta esse artesanato desde os anos 1980”, explica Celina.  

Artesãs da Catarina Mina.

Conceição e Fátima, artesãs do filé. Foto: Thiago Brito

Outra é o labirinto, uma renda minuciosa em grande risco de extinção. “A maioria dessas artesãs são senhoras. A Dona Bia, mestra no labirinto, tem 82 anos”, fala Celina. A diretora cita ainda o filé, bordado característico da cidade de Jaguaribe; a tecelagem com palha de carnaúba, palmeira típica do Ceará, Piauí e Maranhão; além do bordado manual e do crochê.

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Todas as artesãs envolvidas com a Catarina Mina participaram ativamente da criação dos looks de passarela e algumas delas estarão no desfile, em São Paulo. 

Catarina Mina: uma trajetória de impacto

A história da Catarina Mina se mistura com a história de sua fundadora e diretora, Celina Hissa. Formada no curso de publicidade e propaganda, a recifense, filha de pais arquitetos, nasceu em um ambiente criativos e, desde cedo, se interessou por design. Ela, então, trabalhou com direção de arte, profissão que proporcionou seu primeiro grande contato com o artesanato cearense. Veio daí a ideia de fazer bolsas. 

A primeira delas foi feita em 2008, usando como base o tecido de um vestido antigo do próprio guarda-roupa. Na época, surgiam no mercado algumas opções de bolsas de crochê, o que, naquele momento, era um tanto raro. “Pensei em usar o crochê, esse artesanato tão conhecido, mas com outros materiais. Foi quando tudo virou linha para a gente”, lembra Celina, que já contava com apoio de artesãs locais.

Modelo com look Catarina Mina da SPFW N57

Catarina Mina, SPFW N57. Foto: Thiago Brito

Daí em diante, o processo de desenvolvimento da marca aconteceu de forma orgânica, fazendo parcerias e conectando saberes. No início, o foco era produzir para outras empresas. Mais tarde, no entanto, a diretora percebeu que para fortalecer a grife e seu propósito era necessário ter um negócio próprio, com mais autonomia.

Esse foi o estopim da ampliação da Catarina Mina para como a conhecemos hoje e como uma marca importante no quesito de responsabilidade social. O lema nunca mudou. A grande bandeira da fundadora e, consequentemente, da etiqueta é: mais importante do que o artesanato, é a artesã. “Primeiro, a gente tem que olhar para quem guarda a memória do artesanato”, afirma Celina. 

É por isso que a grife tem uma célula de impacto interna, que mede os efeitos das atividades. “Uma tipologia artesanal pode acabar se ela não for trabalhada. Para isso, você precisa cuidar das pessoas que a preservam. De nada vale a gente chegar num grupo, desenvolver um projeto e depois mudar para outro”, defende Celina, que ao longo dos anos criou vínculos fortes com as comunidades. 

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Um método desta célula se chama #UmaConversaSincera, em que os custos envolvidos no processo de produção de cada peça é declarado. Essa busca por maior transparência surgiu em 2015, depois de inquietações de Celina sobre sustentabilidade financeira. O nome, explica a diretora, é realmente um convite para “chamar as pessoas para perto” e refletir sobre remuneração justa e respeito aos saberes ancestrais.

O impacto da marca na vida das mulheres passa pela geração de renda e trabalho digno, mas não se limita a isso. Celina conta que a tal ressignificação do artesanato ganha corpo mesmo quando são conquistadas histórias reais de artesãs que fortaleceram a sua autoestima por meio do trabalho manual. “Mais do que uma marca que faz produtos, nós articulamos parceiros e comunidades, para que eles próprios tenham força”, finaliza. 

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