Jenny Beavan fala à ELLE sobre figurino de “Furiosa”
Inglesa, que assina o guarda-roupa da prequela de "Mad Max", contou sobre seu processo, das dificuldades de filmar no deserto e da expectativa de ganhar mais um Oscar.
Mad Max: Estrada da Fúria arrebatou a temporada de premiações do cinema em 2016. O longa foi indicado a dez categorias do Oscar e levou seis estatuetas. Não à toa, sua prequela, Furiosa: Uma história Mad Max, chega aos cinemas na próxima quinta-feira (23.05) na expectativa de corresponder às expectativas e repetir a quantidade de prêmios do antecessor.
A inglesa Jenny Beavan, que assina o guarda-roupa do primeiro filme, chamou atenção ao subir no palco e receber a estatueta de melhor figurino não com um vestido de gala, mas com uma jaqueta de couro tal qual as usadas pelos personagens de Mad Max, que ganhou seu primeiro filme em 1979. Jenny segue na franquia dirigida por George Miller assinando também o figurino de Furiosa. “Acredito que haja uma expectativa de repetir a proeza”, diz ela em entrevista exclusiva à ELLE.
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O longa acompanha mais uma vez a personagem que batiza a continuação. No primeiro filme, Furiosa foi interpretada por Charlize Theron e agora é vivida por Anya Taylor-Joy. A produção conta sua história desde a infância até o início de Mad Max: Estrada da Fúria (2015), quando já é conhecida como a Imperatriz Furiosa.
Em vez de voltar as atenções à “estrada da fúria”, onde se passou a obra de 2016, a sequência introduz o espectador a outros ambientes de Wasteland, o deserto australiano em que vivem os humanos após guerras nucleares e catástrofes ambientais.
Os novos cenários, como o Paraíso Verde, deram a Jenny mais possibilidades no que se refere aos figurinos. Apesar da protagonista vestir apenas nove roupas do início ao fim do filme, diferentes locações pediram guarda-roupas distintos para o restante do elenco, enriquecendo o visual do longa. Confira o papo da ELLE com Jenny, também vencedora do Oscar por Cruella (2022) e Uma janela para o amor (1986):
Anya Taylor-Joy como Furiosa
Você pode nos contar um pouco mais do seu processo ao fazer o figurino de um filme e como ele se adaptou a Furiosa?
O processo é sempre o mesmo, tanto para um filme ambientado no século 17 quanto um no futuro. Primeiro, levo em consideração o roteiro, converso com o diretor para entender cada personagem e suas necessidades, se eles vão precisar de dublês, as mudanças e envelhecimento de seu figurino na história, além de pesquisar roupas e tecidos. Gosto de trabalhar com protótipos para dar vida às minhas ideias. Acho muito melhor do que um croqui, um desenho bidimensional, porque dá para mim e para todos uma noção muito melhor para aonde estamos indo! Com Furiosa, que é ambientado em um futuro apocalíptico, encontramos pedaços de tecidos estranhamente maravilhosos no processo de pesquisa, como de pára-quedas antigos, tendas, macas de hospital. A partir dele, fizemos diversas amostras de peças até encontrar nosso caminho para Wasteland. Não muito diferente de como foi com Mad Max: Estrada da fúria.
Quais os principais desafios em criar o figurino de Furiosa?
Diferente de Mad Max: Estrada da fúria, Furiosa não foi filmado no deserto, mas sim em estúdios em Sydney, na Austrália. Gravamos também em algumas locações em Broken Hill, no interior do país, muito mais fácil de trabalhar! Estrada da fúria foi gravado no Deserto da Namíbia, enfrentamos dificuldades como amplitude térmica, de calores insuportáveis a temperaturas congelantes em um só dia. Tinha areia por todos os lados, uma equipe enxuta e um grupo muito talentoso e disposto de artesãos locais que eram brilhantes, mas não acostumados a filmar horas a fio. Não é como se não tivéssemos enfrentado desafios climáticos na Austrália, mas era um lugar muito mais fácil de obter suprimentos e tínhamos uma equipe muito mais experiente. Furiosa é um filme muito maior em todos os sentidos. Então, teríamos sofrido se ele não tivesse sido gravado em uma cidade cinematográfica.
“O deserto é duro com os tecidos. Então, muitos dos personagens vestem roupas usadas e reaproveitadas”
Existe algum tipo de tecido ou particularidade que uma roupa deve ter para ser usada em um filme ambientado no deserto?
Acredito que não. Somos movidos pelo enredo, acho que as roupas devem refletir isso. O deserto é duro com os tecidos. Então, muitos dos personagens vestem roupas usadas e reaproveitadas, decoradas com os despojos do deserto, como ossos e crânios.
Você poderia nos dar alguns números do figurino de Furiosa?
A protagonista tem cerca de nove figurinos do começo ao fim do filme, ou seja, da infância até a Furiosa de Charlize Theron. Todo o guarda-roupa foi feito em nossos estúdios em Sydney. Tínhamos uma equipe enorme, formada talvez por cem pessoas. Por vezes, tínhamos duas ou três unidades em set simultaneamente, não saberia dizer os números exatos.
O que você aprendeu em Mad Max: Estrada da fúria que foi útil aos figurinos de Furiosa?
Só como a personagem deveria parecer no final do filme Furiosa (o look é idêntico ao do início de Estrada da fúria)!
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Como foi trabalhar com a Anya Taylor-Joy? Ela teve algum papel na criação do figurino de sua personagem? E quanto a Chris Hemsworth?
Ambos são ótimos atores em cena. Divertidos, inteligentes e sabem trabalhar em equipe. No entanto, George Miller é um autor no sentido literal da palavra, então muito do figurino foi decidido antes dos atores sequer fazerem as provas de roupa — nesse sentido, eles colaboram menos se compararmos com outros longas. Mas cada filme é um filme, um sempre muito diferente do outro. Os do George Miller são muito divertidos e os atores passam por muita preparação antes de chegarem ao set.
A Furiosa foi primeiramente interpretada por Charlize Theron. Você teve alguma dificuldade em caracterizar a Anya Taylor-Joy para interpretar a mesma personagem?
Não, a história de Furiosa é bastante clara!
Você trabalhou com alguma marca em específico para fazer o figurino de Furiosa?
De forma alguma. Figurino não tem nada a ver com moda, a não ser que você esteja fazendo um filme sobre moda, como Cruella ou Sra. Harris vai a Paris (ambos assinados por Jenny).
Você ganhou o Oscar pelo figurino de Mad Max: Estrada da fúria. Existe alguma expectativa em repetir o feito com Furiosa?
Provavelmente, existem expectativas sobre mim. Eu, particularmente, não tenho nenhuma, para ser honesta.
“Figurino não tem nada a ver com moda, a não ser que você esteja fazendo um filme sobre moda”
Como é trabalhar com George Miller?
Maravilhoso e irremediavelmente de última hora, sempre emocionante e um grande desafio. Ele é um ser humano incrível e um diretor por quem tenho muito respeito.
Além da franquia Mad Max, você já trabalhou em vários outros filmes, muitos dos quais foi indicada ao Oscar. Qual a maior diferença entre criar o figurino de Sra. Harris vai a Paris, em que você trabalhou próxima da Dior, e Furiosa?
O processo é basicamente o mesmo, mas as formas de obter o produto final são adaptadas às circunstâncias.
Quais seus próximos projetos?
Estou fazendo um filme incrível, The Choral, escrito por Alan Bennet e dirigido por Nick Hytner. Trata-se de um coral em Yorkshire, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, se preparando para sua grande performance anual. É, ao mesmo tempo, triste, engraçado, perspicaz e tem personagens incríveis (no elenco estão Ralph Fiennes, Jim Broadbent e Simon Russell Beale). Estou muito feliz por fazer parte desse projeto.
Chris Hemsworth em cena de Furiosa
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