“A casa do dragão” dobra sua aposta em mulheres complexas
Assistimos aos quatro primeiros episódios da segunda temporada da série da HBO, em que esquenta a briga entre Alicent e Rhaenyra.
Em Westeros, assim como no nosso mundo além da ficção, mesmo as mulheres na liderança precisam lutar contra o patriarcado, como mostram Rhaenyra (Emma D’Arcy) e Alicent (Olivia Cooke) na segunda temporada de A casa do dragão, que estreou nesse domingo (16.6), na HBO e Max. A ELLE assistiu aos quatro primeiros episódios de oito, que vão ao ar semanalmente, sempre aos domingos, às 22h, e participou de uma entrevista com o elenco e o showrunner Ryan Condal.
A série, que se passa cerca de 200 anos antes dos eventos de Game of thrones (2011-2019), é muito mais centrada nas personagens femininas do que sua antecessora e do que a própria obra de George R.R. Martin em que se baseia, Fogo & sangue, uma espécie de livro da história da dominância da Casa Targaryen em Westeros.
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As personagens foram grudadas na adolescência, até Alicent ser obrigada a se casar com o pai de Rhaenyra, o rei Viserys (Paddy Considine). Na temporada passada, Alicent, que teve quatro filhos com Viserys, manipulou para que o mais velho, Aegon (Tom Glynn-Carney), tomasse o Trono de Ferro após a morte do rei. Antes de se casar com Alicent, Viserys tinha escolhido Rhaenyra como sua herdeira. Nem todos aceitaram, pois ela é mulher, e os Sete Reinos nunca foram governados por uma rainha.
Na segunda temporada, elas estão em pé de guerra. Rhaenyra pede a cabeça de outro de seus meios-irmãos, Aemond (Ewan Mitchell), segundo filho de Alicent e responsável pela morte de Lucerys (Elliot Grihault), seu segundo filho.
Esses eventos desencadeiam a chamada Dança dos Dragões, uma guerra sangrenta pelo Trono de Ferro entre os meios-irmãos Aegon e Rhaenyra Targaryen, ainda mais perigosa porque os dois lados têm dragões.
Alicent (Olivia Cooke)
Alicent perde poder
Em Fogo & sangue, Rhaenyra e Alicent vão aparecendo cada vez menos. Mas o showrunner Ryan Condal e a roteirista Sara Hess sabem que A casa do dragão é contada sob o ponto de vista das mulheres e o conflito entre as duas só fica mais complicado.
E que delícia acompanhar duas personagens femininas complexas, que usam de maneiras diferentes as armas que têm para encontrar seu lugar nesse mundo de homens. Elas não precisam empunhar espadas, necessariamente, nem cair nos clichês da “personagem feminina forte”.
Alicent é odiada por muitos dos fãs da série. Olivia, no entanto, não a vê como perversa. “Para mim, ela tem razão boa parte do tempo”, disse a atriz em entrevista com participação da ELLE. “Mas precisa manipular para ser ouvida, para afastar esses homens do caos e da implosão.”
A personagem deveria estar mais poderosa do que nunca, agora que conseguiu, junto com seu pai Otto Hightower (Rhys Ifans, excelente), colocar seu filho Aegon no Trono de Ferro. “Mas tanto Aegon quanto Aemond a ignoram cada vez mais”, disse Olivia.
Rhaenyra (Emma D’Arcy)
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A própria Alicent provavelmente não imaginou que ia ficar em segundo plano ao roubar o trono da ex-amiga. “No minuto em que Aegon é coroado, o poder de Alicent diminui, porque ela não é mais a rainha dos Sete Reinos”, disse Condal. “Ela é a viúva, a ex-rainha. Há um deslocamento de poder. Nesta segunda temporada, ela precisa lidar com o fato de ter sido preparada desde os 14 anos para colocar sua família no trono, ter conseguido, mas agora estar meio sem função.”
Daemon (Matt Smith)
Rhaenyra ganha poder
Já Rhaenyra começa a temporada fraca, depois de tantas perdas. Mas precisa lutar pela coroa que é sua de direito, reunindo aliados para uma provável guerra. Para Emma, sua personagem ficou boa parte da vida à margem, até ser escolhida como herdeira por seu pai.
“Ela sente uma síndrome de impostora”, disse Emma. “Mas na segunda temporada ela vai ficando cansada de pensar duas vezes, de exercer seu poder de maneira mais suave, de ter de usar manipulação ou persuasão cuidadosa para que o preconceito dos outros por ser mulher não seja usado como arma contra ela.”
É algo com que toda mulher em alguma posição de destaque consegue se identificar. Aquela sensação de andar na corda-bamba ao tratar com egos dos homens. Interessante como a série evita, pelo menos por enquanto, cair no clichê da líder que replica comportamentos masculinos.
Mas a transformação de Rhaenyra será percebida ao longo da temporada, com ela buscando se distanciar dos homens, fazer as coisas à sua maneira, procurando novos métodos.
Lorde Corlys (Steve Toussaint) e a Princesa Rhaenys Targaryen (Eve Best)
As vozes da razão em “A casa do dragão”
Emma e Olivia oferecem interpretações fortes dessas mulheres cheias de nuances. Rhaenyra e Alicent podem estar com sangue nos olhos, mas têm responsabilidade. Elas sabem que uma guerra entre Targaryens envolve dragões, ou seja, armas de destruição em massa. Eles não podem ser usados de maneira insensata.
Os homens do Conselho Preto, no caso de Rhaenyra, e do Conselho Verde, no caso de Alicent, estão mais interessados em palavras como honra e glória e em escrever seus nomes nos livros de história.
Jacaerys Velaryon (Harry Collett), filho mais velho de Rhaenyra, e Cregan Stark (Tom Taylor)
Por isso, quem espera cenas de batalha grandiosas, envolvendo essas criaturas, precisa conter a impaciência. Porque a série leva seu tempo, mas o impacto é maior quando elas acontecem.
Em Westeros, porém, tragédias estão sempre à espreita. O que A casa do dragão faz bem é mostrar que, por mais intriga política que esses personagens gostem de fazer, muitas vezes elas são frutos de decisões intempestivas, de erros, de mal-entendidos. É o que acontece logo no primeiro episódio, quando a sede de vingança, “um filho por um filho”, como anuncia o título, piora um conflito que já estava ruim.
Muita gente estava esperando cenas comparáveis ao famoso “casamento vermelho” de Game of thrones. Mas Ryan Condal optou por uma versão menos GoT, deixando a violência fora de quadro.
O som é suficiente para impressionar, bem como o choque de Helaena (Phia Saban), filha de Alicent, e mulher do agora rei Aegon (que, sim, também é seu irmão) e mãe de gêmeos.
Seu assombro é capaz de nos carregar até o próximo episódio e nos preparar para uma temporada de olho por olho, dente por dente, algo que, aqui no nosso mundo ou em Westeros, serve apenas para propagar violência e horror.
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