É possível retardar a menopausa?

Não há como prever a idade em que cada uma de nós vai entrar na menopausa e, menos ainda, quais sintomas teremos (se é que teremos) ou a intensidade deles, afinal, diante das flutuações hormonais dessa fase, cada organismo reage de um jeito diferente. Mas em uma coisa somos todas iguais: só depois que os ovários param de produzir estrogênio e progesterona (e a mulher fica um ano consecutivo sem menstruar), é que podemos dizer que, oficialmente, entramos na menopausa. Ou será que isso também está mudando?

Há quase três anos, uma clínica na Inglaterra vem oferecendo um tratamento que, segundo eles, pode atrasar a menopausa em até duas décadas. O assunto é polêmico e, mesmo com muitas opiniões controversas no meio científico, atrasar o início da menopausa já é uma realidade graças a uma técnica usada há anos para preservar a fertilidade feminina. A novidade, agora, é o novo uso: evitar a menopausa. Como isso é possível? Simples. Os médicos removem uma parte do tecido ovariano (entre um terço e metade do córtex do ovário) onde são encontrados os folículos que podem amadurecer e se tornarem óvulos. Depois, congelam esse tecido para reimplantá-lo quando a paciente entra no estágio da menopausa. Resumindo, a menopausa pode ser atrasada porque, com o reimplante, continuamos ovulando.

Para quem está se perguntando quanto tempo ela pode ser atrasada, Simon Fishel, um dos fundadores da clínica e pioneiro na fertilização in vitro, acredita que em até 20 anos. Como explicou em entrevista à BBC: “Se conseguirmos nove tiras, podemos implantar três na primeira vez. Se durarem seis ou sete anos, quando esse enxerto de três falhar, faremos um novo transplante. Mas, claro, a eficácia depende da quantidade de ‘bons óvulos’ que eles contêm.”

E por que alguém iria querer atrasar a menopausa? Para o pessoal da clínica, a resposta está na ponta da língua: melhorar a qualidade de vida das mulheres que sofrem com os sintomas mais severos dessa fase da vida de toda mulher. Isso até tem fundamento e parece lógico. Mas, sob vários aspectos, a coisa não é tão simples assim, e é bom levar alguns pontos em consideração.

1. Trata-se de uma cirurgia e, mesmo sendo simples, não dá para ignorar os riscos que ela envolve.
2. Nem todas as mulheres sofrem com sintomas severos e muitas conseguem reverter a situação com reposição hormonal.
3. Você só vai saber se terá os sintomas da menopausa ou não quando ela, de fato, chegar. E a cirurgia, para ter resultado, precisa acontecer muito antes disso. É uma aposta no escuro.
4. Ao se retirar o córtex do ovário, parte dos folículos primordiais também são retirados, o que teoricamente faz diminuir a vida do ovário.
5. Algumas mulheres já fizeram a cirurgia, mas, na prática, é preciso que elas cheguem à menopausa para ver se a técnica vai realmente funcionar. Ou seja, infelizmente, ainda não há estudo suficiente que comprove sua eficácia.

Se por um lado a Sociedade Britânica da Menopausa (BMS, sigla em inglês) reconheceu a eficácia dos enxertos de tecido ovariano para preservar a fertilidade, por outro lado ela também declarou que há “várias limitações que deveriam ser mais valorizadas antes de incluir esta técnica na prática clínica padrão para retardar a menopausa”. Em outras palavras, a ideia parece ótima – principalmente porque pode proteger as mulheres de doenças que são ditas da idade, mas que são causadas justamente pela falta de hormônios –, mas falta comprovar a teoria na prática. Em tese, a mulher não só teria as características da juventude restauradas como poderia até engravidar.

Semana passada, a atriz Claudia Raia causou alvoroço nas redes sociais ao anunciar sua terceira gravidez, aos 55 anos de idade! Isso porque sabemos que a mulher produz um número limitado de óvulos durante a vida e, na menopausa, que acontece geralmente entre os 45 e 55 anos, os ovários entram em falência e os hormônios femininos estrogênio e progesterona caem irreversivelmente, fazendo com que a gravidez nessa idade se torne praticamente inviável… Mas nada é impossível. Ainda bem! Porque, diferentemente de muitas pessoas que meteram a boca e julgaram a decisão da atriz (dá para cada um olhar para a sua própria vida em vez de se meter na dos outros, por favor?!), nós, aqui do SHEt, acreditamos que cada uma tem que ser feliz do seu jeito e, por isso, desejamos à Claudia Raia uma gestação maravilhosa e toda a felicidade do mundo!

Idade é um número e pode até indicar algumas coisas, mas não pode ter o peso definitivo de um prazo de validade. Continuamos vivas e a verdade é que enquanto produzirmos, criarmos, planejarmos, sonharmos e nos mantivermos ativas e curiosas, a vida pode nos surpreender, sim!

Mas a gente confessa, Claudia, justo agora que começamos a não ter mais tanto medo de engravidar como tínhamos na adolescência, essa notícia deu até um arrepio na nuca e, infelizmente, não foi de tesão.

E você, querida leitora, se pudesse, atrasaria sua menopausa? Dá para ficar com a pele de bumbum de bebê de novo. Ou, de repente, com um bumbum de bebê grudadinho na sua pele, de novo.

Camila Faus e Fernanda Guerreiro são criadoras do @she____t. Uma plataforma de conteúdo feita para mulheres que acreditam que a idade dos “enta” rima com experimenta.

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