Os posts que não fiz

Semana que vem foi bem cansativa, adianta a colunista, citando @pedovinicio, resumindo o estado de ânimo de quem, com facilidade, faz amigos e influencia pessoas.


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Ainda acho curioso quando uma pessoa define sua profissão: sou influencer. Ah, tá. Demérito nenhum, todo trabalho é digno. Uns mais, verdade. Mas acredito no trabalho. E, muitas vezes, dá um trabalho danado fazer posts de influencer. Os melhores fazem isso parecer fácil como trocar de roupa no reels. Mas vai fazer.

Pras mais novas gerações que não me conhecem, aqui me apresento: não sou influencer. E, nas vezes que me arrisquei a fazer “entregas” de influencer, sofri à beça. E, sentindo na pele, passei a respeitar quem consegue e ainda executa tudo isso bem, e sem parecer uma besta. Como eu me sinto quando. Mas também, sou tímida, e naturalmente isso não se aplica pra quem já nasceu com a mutação genética do celular como extensão do braço.

Estar na internet demanda atenção integral, presença assídua, coerência mesmo sem fazer sentido, estar com o dedo no pulso do mundo. E postar, e postar e postar.

De quando em quando, um desses influencers surta. Não segura o excesso de exposição, os haters, os lovers, ter que estar ali disponível, ter que estar ali postando. Acho bonito também quando eles contam para quem os segue (será que saberiam fazer diferente?) que até mesmo eles precisam parar. De fato, ninguém aguenta muito, sempre, todo o tempo. Daí eles voltam e fica tudo bem.

Saiu recentemente mais uma daquelas pesquisas do futuro das coisas, dizendo que o varejo será uma experiência live, tipo um shoptime ao vivo, em que você vai comprando ali em tempo real. Baciada digital. Desespero.

Ser influencer é a nova porta da esperança, num país que desvaloriza a educação, que massacra seus mal-remunerados professores, que vem implodindo o sistema educacional e a universidade nos últimos anos. Tem muita gente ganhando muito dinheiro na internet fazendo isso: mostrando produtos, unboxing embalagens, elogiando marcas, dando dykas, sorrindo amarelo, agradecendo “recebidos”, abrindo a câmera do celular e lançando o indefectível bordão: gente!

Por que todo mundo na internet começa tudo com: Gente! Nunca entendi.

Todo mundo “produzindo conteúdo”. Haja conteúdo. Mas tem muita gente legal na internet. Por isso que a gente está lá. Quer dizer, aqui.

Outra pesquisa recente diz que tudo isso faz o maior mal pra autoestima e pra saúde mental. Mas a gente continua, vício maldito. Acordou? Vai pro coiso. Na hora do almoço, vê os stories. Tá com insônia? Mesma coisa. Daí que não dorme mesmo. Impossível a mente acalmar com o excesso de estímulos visuais e sonoros. Fora que, né? Controlamos cada vez menos o que queremos ver. Recebemos o que nos determinam os algoritmos e seguimos, vida de gado.

E fora do stories, você tá como?

Fora dos meus stories repetitivos do lugar onde trabalho, do meu cachorro e da janela de casa, estou quase sempre igual aos posts do @pedrovinicio, que resume o estado emocional de seus 320K seguidores. “Semana que vem foi bem cansativa.” Dentre outras pérolas da pós-pandemia desse adolescente pernambucano que parece saber tudo da existência humana.

E além do Instagram (que não é a verdade e a vida, como diria a Mari), e tudo o que devemos ler na internet, digo jornais, notícias, livros também, ainda tem as redes vizinhas. O twitter para acompanhar tudo de tudo, do tudo. O tiktok, pra saber o que pensam, como vivem, como se relacionam. O Linkedin pra imprimir seriedade e sonhar com o emprego dos outres. O Spotify pra catar as playlists alheias. O FB, que sempre esqueço de apagar. E os app de pegação. Brincadeira, nesses eu não tô.

E tem os posts que não fiz. Quando eu estiver mais triste ou mais contente ou mais me divertindo, pode ter certeza de que não estou postando!

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