Shippando muito esse casal

Um guia prático em 10 tópicos mais um para decodificar o primeiro desfile de Miuccia Prada com Raf Simons. #entendedoresentenderão


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Por alguns instantes a engrenagem da moda voltou a funcionar numa quinta-feira deste setembro sem fim. Paramos, todes, diante das telas de celulares e computadores para ver a tão esperada junção de Miuccia Prada com Raf Simons para verão 2021 (esta estação existe? Que ano estamos?).

Para aficionados, fácil shipar essa dupla.


Escapismo poderia ser a solução mais rápida para esse momento tão emergencial no planeta, o que a Moda pode sempre suprir, mas Raf e Miuccia, na Prada, querem oferecer significado, forma, função.

Os dois dizem que fizeram sim o dever de casa, falando de sustentabilidade e inclusão (será?), na entrevista dada logo depois do desfile de coisa de 13 minutos, num cenário acarpetado, onde La Signora respondia perguntas dos internautas num telão, saia branca plissada, malha azul marinho em V sobre blusa branca. Seu novo uniforme, ela disse.

Uniforme é a palavra. Primeiro porque é super Prada; segundo porque os seguidores do culto à marca italiana certamente identificaram, logo ao início do desfile, um certo jeito bem Miuccia (@whatmiucciawears) de vestir, de segurar o casaco, de segurar a bolsa.

Como a moda, a Prada é sobre códigos, e como amante and seguidor da Prada, Raf Simons sabe muitíssimo bem disso, interpretando e atualizando muitos deles aqui neste desfile e nesta coleção. Prada-ness, tenta emplacar a campanha, um esforço meio marqueteiro. Já os dois parecem mais interessados na troca de criatividades entre eles, de admirações, na fome de viver.

O momento é emblemático e a prosa de ambos sintetiza o novo zeitgeist, da Moda em busca de sua relevância, de sua pertinência até, num mundo em que a distopia se tornou realidade, cotidiano. Onde está o Novo, qual a importância dele diante de tudo isso que vivemos? A indústria tem de continuar; o show não.

Numa sala amarela, em tom contido, as modelos caminham entre totens de gruas e câmeras, seus nomes escritos em monitores, suas new faces nos encarando, aqui do outro lado do black mirror. Distantes, isoladas, separadas pelos 2metros protocolares, sem o público nervoso das primeiras filas e seus celulares apontando de modo automático para a “passarela”. Assim, ficou mais fácil para ver as roupas, Miuccia e Raf concordaram depois, na entrevista. Isso era importante para a gente, disseram, num quase contra-senso. Em que momento mesmo as roupas deixaram de ser importantes num desfile?

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Prada, verão 2021.Foto Cortesia | Prada

Para fazer de uma coluna longa, uma curta, seguem 10 tópicos, mais 1, ao calor das primeiras impressões e da emoção, de volta a meu coraçãozinho de galinha num xinxim pandêmico. Esta coleção, com toda sua força e sua fragilidade, Prada com Raf Simons, é o melhor de dois mundos. Entendedores entenderão – e amarão.

A saber:

1. O cenário amarelo meio David Lynch da cenografia do escritório de Rem Koolhaas com as batidas apocalípticas da trilha de Ritchie Hawtin.

2. Náilon preto. Prada raiz. Como as tags de triângulo de metal que apareceram nas mochilas e bolsas lá nos 1990.

3. O cheiro da década de 90 no ar da sala de desfile tem perfume de 9dad, não de revisionismo ou nostalgia. Tem as túnicas, as calças, o náilon (em rosa é de cair de lindo; o branco!!!).

4. O cabelo, as franjas bizarras, os frisados errados, o esquisitismo da feiúra da Prada encontra o modernismo de Raf Simons e dá liga. Cadê a tesoura?

5. As kitten heels em cores contrastantes afundando no chão acarpetado, com lingüetas, super Raf.

6. O futurismo é pastel.

7. Pelerines geniais muito lôkas, trenchs desconstruidões, Raf Simons dá o nome. É possível (sonho de qq fã de moda q se preze) visualizar os dois estilistas conversando sobre uma mesa de corte, na prova de roupa, debatendo o comprimento preciso dos casacos e das saias corolla do new look RafPrada.

8. Os gilets de pegada grunge q ele ama; nas malhas. E que delírio ver isso no feminino, suave aceno ao esportivo nas cores, lá pro final.

9. As etiquetas Prada, destroyed, outra ref 90, logomania pós-fim do mundo.

10. As estampas e escritos, também reunindo o melhor das duas marcas, dois universos.

+1 A entrevista after-show dos dois. Tão icônica quanto o desfile. Miuccia Prada em versão acessível; Raf Simons nervoso, cabelo comprido estilo 40tena; ela com a mascarinha branca do lado.

Respiramos.

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