5 destaques da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Além de O agente secreto, o festival reúne os principais filmes premiados deste ano.
A maior maratona dos cinéfilos brasileiros está de volta. A 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo fez sua abertura oficial nesta quarta-feira (15.10), para convidados, e nesta quinta-feira (16.10) abre ao público, reunindo alguns dos melhores filmes do cinema brasileiro e mundial, além de convidados ilustres, como o escritor Valter Hugo Mãe.
O autor português desenhou o cartaz desta edição e vem apresentar o longa O filho de mil homens, dirigido por Daniel Rezende, protagonizado por Rodrigo Santoro e baseado em seu livro homônimo. O evento também apresenta o documentário De lugar nenhum, de Miguel Gonçalves Mendes, um retrato do escritor.
Na cerimônia na Sala São Paulo, a cineasta martinicana Euzhan Palcy, a primeira mulher e pessoa negra a ganhar o Leão de Prata em Veneza (Rue Cases Nègres, de 1982) e a primeira mulher negra a dirigir um filme de estúdio em Hollywood (Assassinato sob custódia, 1989), recebeu o Prêmio Humanidade, e o quadrinista brasileiro Mauricio de Sousa, o Prêmio Leon Cakoff. Charlie Kaufman, roteirista de Brilho eterno de uma mente sem lembrança (2004), também vai ser homenageado com o Leon Cakoff, no dia 22, e exibe no festival o curta-metragem Como fotografar um fantasma, com roteiro de Eva H.D.
A 49ª Mostra traz os principais premiados deste ano, como a Palma de Ouro Foi apenas um acidente e o Leão de Ouro Pai mãe irmã irmão. Mas também é uma boa oportunidade de descobrir pequenas gemas ou ser apresentado a um/uma cineasta incrível.
Sirât, de Oliver Laxe, que abriu a 49ª Mostra, não é o único pré-candidato ao Oscar de filme internacional no festival – o filme foi selecionado pela Espanha. O agente secreto, escolhido pelo Brasil, também faz sua estreia em São Paulo durante o evento, assim como Left-handed girl, de Shih-Ching Tsou, de Taiwan, The president’s cake, de Hasan Hadi, do Iraque, O som da queda, de Mascha Schilinski, da Alemanha, e A sombra do meu pai, de Akinola Davies Jr., do Reino Unido, entre outros.
A seguir, cinco filmes imperdíveis da 49ª Mostra:
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Foi apenas um acidente, de Jafar Panahi
Durante 15 anos, o cineasta iraniano foi impedido de sair do Irã e de fazer filmes. As obras que conseguiu produzir clandestinamente foram enviadas na surdina para festivais ao redor do mundo, sem a presença do diretor, que também não pôde receber pessoalmente prêmios como o Urso de Prata de melhor roteiro (Cortinas fechadas, de 2013) e o Urso de Ouro em Berlim (com Táxi Teerã, de 2015), melhor roteiro em Cannes (3 faces, de 2018) e Prêmio Especial do Júri em Veneza (Sem ursos, de 2022), além do Humanidade da Mostra em 2018. Sua volta aos tapetes vermelhos, com Foi apenas um acidente, em Cannes, em maio, foi um acontecimento, assim como a Palma de Ouro para o filme. Inspirada em sua experiência na prisão e a de seus amigos, a trama fala de um homem que pensa reconhecer o seu torturador – o tempo todo, ele ficou de capuz, nunca vendo o rosto de seu algoz. Com habilidade e um surpreendente bom humor, Panahi discute a verdade e como resistir à opressão sem se tornar um de seus opressores. O longa é o candidato da França a uma vaga entre os indicados a filme internacional no Oscar e um dos principais concorrentes de O agente secreto.
Pai mãe irmã irmão, de Jim Jarmusch
Com esse tríptico sobre família, o cineasta estadunidense, conhecido por Estranhos no paraíso (1984), Flores partidas (2005) e Paterson (2016), ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza, em setembro, causando certa surpresa – não que ele não merecesse. Aqui, ele trata da relação complicada de pais e seus filhos adultos, em três histórias que se passam em três países diferentes. “Pai”, no nordeste dos Estados Unidos, “Mãe”, em Dublin, na Irlanda, e “Irmã Irmão” em Paris, na França. Na primeira, os irmãos interpretados por Mayim Bialik e Adam Driver – que volta a trabalhar com o diretor – viajam para o interior para visitar seu pai (Tom Waits). Na segunda, Charlotte Rampling é a mãe que vai receber as filhas (Cate Blanchett e Vicky Krieps) para sua visita anual para o chá em família. Na terceira, os gêmeos vividos por Indya Moore e Luka Sabbat revisitam o apartamento dos pais, que morreram recentemente em um acidente.
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No other choice, de Park Chan-wook
Se o Leão de Ouro para Jim Jarmusch foi meio que uma surpresa, mais chocante foi o diretor sul-coreano ter saído sem nenhum prêmio do Festival de Veneza. Em compensação, foi eleito pelo público como melhor filme internacional no Festival de Toronto. Estrelado por Lee Byung-hun (Round 6) e Son Ye-jin (Pousando no amor), o filme trata de um pai de família que, depois de 25 anos trabalhando em uma companhia, é demitido. Sem conseguir se recolocar, ele cria uma solução: eliminar outros candidatos a vagas. Conhecido por filmes como Oldboy (2003), A criada (2016) e Decisão de partir (2022), Park usa a criatividade visual de sempre e boas doses de humor. No other choice, selecionado pela Coreia do Sul para ser seu representante na briga por uma vaga entre os indicados ao Oscar de produção internacional, é um dos principais adversários de O agente secreto na disputa.
Blue moon e Nouvelle vague, de Richard Linklater
Vai ter Richard Linklater em dose dupla na 49ª Mostra. O diretor da trilogia Antes do amanhecer (1995), Antes do pôr do sol (2004) e Antes da meia-noite (2013) lança dois filmes de época sobre artistas reais neste ano. Em Blue moon, que se passa em 1943, o compositor Lorenz Hart (Ethan Hawke, entre os atores que mais trabalhou com o diretor), em fase difícil, reflete sobre si mesmo, enquanto seu ex-parceiro Richard Rodgers (Andrew Scott, vencedor do prêmio de melhor interpretação coadjuvante em Berlim) estreia o musical Oklahoma!. Juntos, Rodgers e Hart escreveram algumas das mais famosas canções estadunidenses, como “My funny Valentine” e “Blue moon”. Em Nouvelle vague, exibido em competição no Festival de Cannes, Linklater mostra como Jean-Luc Godard filmou Acossado (1960), com Guillaume Marbeck no papel do cineasta, Aubry Dullin como Jean-Paul Belmondo, e Zoey Deutch como Jean Seberg.
A incrível Eleanor, de Scarlett Johansson
A atriz estreia na direção com este longa-metragem sobre Eleanor (June Squibb), uma senhora de 94 anos que, após uma perda, muda-se da Flórida para Nova York na esperança de se reconectar com a família. Mas nada sai como planejado. Solitária, ela acaba entrando sem querer em um grupo de apoio para sobreviventes do Holocausto, algo que ela não é, e começa uma amizade com uma jovem jornalista. Scarlett não é a única passando da atuação para a direção. Em Urchin, que também está na Mostra, Harris Dickinson (Babygirl) fala de um morador de rua que tem dificuldades de mudar de vida. Ambos os filmes foram apresentados na mostra Um Certo Olhar da seleção oficial do Festival de Cannes, com Urchin levando os prêmios de melhor ator (Frank Dillane) e da crítica.
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