Demi Moore tem retorno triunfal no body horror “A substância”

Filme premiado em Cannes, com Margaret Qualley no elenco, discute o que as mulheres fazem aos seus próprios corpos.


Demi Moore se olha no espelho em cena de A substância
Demi Moore em cena de "A substância" Fotos: Divulgação



Estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, A substância, que estreia nesta quinta-feira (19.09) nos cinemas brasileiros, não é para estômagos fracos. O filme dirigido, escrito e editado pela francesa Coralie Fargeat, que ganhou o prêmio de melhor roteiro no último Festival de Cannes, tem muito sangue, cortes, feridas, vísceras expostas.

Tudo para falar do que as mulheres, pressionadas por um mundo machista, são capazes de fazer a si mesmas, na busca do corpo e do rosto perfeitos e da juventude eterna.

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O longa-metragem está sendo visto como o retorno triunfal de Demi, que teve poucas oportunidades de brilhar nos últimos tempos – justamente quando atingiu a idade em que sua personagem, Elizabeth Sparkle, é descartada pela indústria do entretenimento. No filme, a atriz de 61 anos, uma das maiores estrelas das décadas de 1980 e 1990, despe-se de suas próprias inseguranças e expõe seu corpo, aparecendo inclusive em nu frontal. 

A trama de A substância é um tanto maluca. Elizabeth é uma estrela que perdeu seu brilho – a decadência é mostrada em uma sequência brilhante na Calçada da Fama de Hollywood. Atualmente, ela dá aulas de ginástica na televisão. Mas mesmo esse fiapo de fama e reconhecimento vai embora quando ela completa 50 anos. Como diz o chefão do canal, não por acaso chamado Harvey e interpretado por Dennis Quaid: “Aos 50, para”. Ao que ela responde: “O que para?”. Ele quer dizer: o corpo feminino para de ser desejável.

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Margaret Qualley em cena do filme

Depois de um acidente de carro, ela recebe do enfermeiro um bilhete e um pen drive falando da tal da “substância”. É um líquido amarelo neon que, ao ser injetado, permite que você se torne mais bonita, mais jovem, mais magra. O que realmente significa: essa versão mais bonita, mais jovem, mais magra sairá de dentro de você. 

Sue (Margaret Qualley) é esta versão, mas repete os mesmos erros de Elizabeth, cedendo à imagem que os homens desejam, e abusa, dando um jeito de ficar acordada além do tempo permitido pela regra – uma semana é para Sue, a seguinte é para Elizabeth, e assim sucessivamente. E isso tem consequências nefastas.

A seguir, saiba mais sobre A substância:

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Demi Moore no longa

Como a diretora escolheu Demi Moore

Coralie Fargeat jamais imaginou que conseguiria Demi para o papel de Elizabeth. Por isso, nem tinha colocado a atriz na sua lista de candidatas ao papel. Mas Demi demonstrou interesse. Foram seis encontros até ser escolhida, mas o fator determinante parece ter sido suas memórias, Livro aberto – A minha história (2019), publicadas no Brasil pela Alta Life. A atriz entregou uma cópia à cineasta em uma reunião em Paris. “Eu achei que era uma maneira de ela me conhecer – minha experiência com meu corpo, e o valor que dei a ele. A tortura pessoal que me fiz enfrentar. Ela viu que eu realmente entendi quem a personagem era”, disse Demi à revista Variety. “Eu descobri alguém que estava em um momento da vida em que já havia confrontado todos os seus medos e fobias, toda aquela violência. Eu realmente encontrei alguém à frente de seu tempo”, afirmou Coralie à revista The Hollywood Reporter.

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Por que Demi Moore sabia do que A substância trata? 

A atriz teve seu auge em uma época muito difícil para as mulheres, em Hollywood em particular. A vida toda teve seu corpo julgado. Em alguns momentos, mais, como quando fez As Panteras: Detonando (2003), aparecendo de biquíni aos 40. Mas não só. Ela foi criticada por posar nua grávida em 1991 para a capa da revista Vanity Fair, por exigir um pagamento melhor para estrelar Striptease (1996) e por interpretar uma mulher passando por treinamento militar rigoroso em G.I. Jane (1997). Mas ela gostou do ponto de vista do roteiro de Coralie. “O filme mostra o que ela está fazendo a si mesma como a coisa mais violenta”, disse Demi à Hollywood Reporter. “Ele pega a violência internalizada contra si mesma e externaliza, de maneira que o público tenha objetividade para ver o que nós fazemos a nós mesmas com essas críticas duras e constantes comparações com as outras.”

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Demi Moore e Margaret Qualley no filme

Um Oscar para Demi Moore?

A atriz esteve em alguns dos maiores sucessos dos anos 1980 e 1990, como O primeiro ano do resto das nossas vidas (1985), como parte do chamado “Brat Pack”, com Rob Lowe, Emilio Estevez e Andrew McCarthy, Ghost – Do outro lado da vida (1990), com Patrick Swayze, Questão de honra (1992), com Tom Cruise, e Proposta indecente (1993), com Robert Redford. Mas sempre foi considerada uma atriz comercial. Pelos riscos que corre em A substância, está cotadíssima para sua primeira indicação ao Oscar. 

A cena mais difícil não foi de nudez

Coralie fez questão de que todos os envolvidos entendessem A substância antes de se comprometerem. Como ia ser filmado, quanto haveria de nudez, como era rodar uma produção independente na França, o tempo necessário para filmar. Demi não teve problemas com nada, pulou de cabeça. Claro que cenas de nudez nunca são fáceis, mas ela tinha uma parceira em Margaret Qualley. Nas maioria das cenas que as duas dividem, as personagens estão nuas, o que fez com que elas entendessem melhor os desafios da outra. Havia também muitas cenas em que usava maquiagem protética, em diversos níveis. Em determinados momentos, Demi chegava a passar sete horas na cadeira de maquiagem e filmava apenas uma ou duas. Mas a cena mais difícil foi uma em que Elizabeth se prepara para um encontro, colocando e retirando maquiagem na tentativa de satisfazer seu ideal de beleza. “É uma das mais comoventes para mim, porque todas podemos nos identificar em tentar parecer mais bonita e só piorar tudo”, contou a atriz à Variety. Como Coralie gosta de fazer muitos takes, chegou a um ponto em que seu rosto estava ficando ferido. A maquiadora interveio, dizendo que não dava mais. 

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Margaret Qualley



Quem é Coralie Fargeat?

Desde pequena, a futura diretora gostava de ver os filmes que seus pais achavam fortes demais para ela. Aqueles de David Lynch, David Cronenberg, John Carpenter, que assistia com o avô. Quando começou a fazer filmes caseiros, eram produções de gênero. Por exemplo, uma versão de Star wars. “Quando você faz um filme realista, precisa entrar em uma fôrma. Há coisas que não pode fazer. Eu gosto dos filmes de gênero porque você pode inventar suas próprias regras”, disse ela à Esquire. Antes de entrar na prestigiosa escola de cinema e TV La Fémis (Paris), ela cursou ciências políticas. Nessa época, já começou a fazer estágios em filmes. Um deles, Paixões paralelas (2000), coincidentemente estrelado por Demi. Seu primeiro longa como diretora foi Vingança (2017), sobre uma mulher que sofre violência sexual em uma viagem e decide se vingar de cada um dos estupradores. É violento e sanguinolento também. A substância, de certa forma, também lida com vingança, como ela disse ao The New York Times: “É a vingança por causa da percepção do corpo feminino”. Mas aqui ela quis falar de algo que conhecia de perto: o julgamento e a pressão por ser perfeita, jovem, fofa.

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