Cinco fatos sobre Chloé Zhao, a diretora de Nomadland

Depois de trabalhar como bartender e corretora de imóveis, a cineasta se tornou a segunda mulher a levar o Oscar na categoria de melhor direção.


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Na noite do próximo dia 25 de abril, a cineasta Chloé Zhao, 38 anos, tornou-se a primeira mulher chinesa a levar o cobiçado Oscar de melhor direção. Nomadland, o filme que a colocou na disputa, é o terceiro longa da diretora e foi inspirado no livro de não-ficção da jornalista Jessica Bruder. A obra retrata a jornada de pessoas afetadas pela recessão de 2008 nos Estados Unidos, que passaram a morar em trailers e a viajar de cidade em cidade pelo país, em busca de trabalho. No filme, Frances McDormand interpreta Fern, uma dessas nômades frutos da recessão, papel pelo qual foi indicada ao Oscar. O que torna o filme ainda mais interessante é o fato de a protagonista contracenar com nômades retratados no livro de Jessica, misturando ficção e realidade. Das seis indicações ao Oscar (melhor filme, roteiro adaptado, edição e fotografia, além de direção e atriz), o longa abocanhou três: filme, direção e melhor atriz, para Frances McDormand. A estreia no Brasil está prevista para o próximo dia 15.

Chloé já fez história ao ser a primeira mulher asiática a ganhar o Globo de Ouro de melhor diretora e a segunda a receber o prêmio nesta categoria por Nomadland. Também está entre as pouquíssimas diretoras que tiveram seu trabalho reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Até 2020, apenas cinco mulheres foram indicadas ao Oscar de direção em toda a história da premiação. E somente uma ganhou: Kathryn Bigelow por Guerra ao terror (2010).


Nomadland | Trailer legendado | Em breve nos cinemas

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Chloé nasceu em Pequim, mas seguiu com seus estudos na Inglaterra e nos Estados Unidos. Ela se formou em ciências políticas pela Mount Holyoke College, universidade no estado de Massachusetts, frequentada só por mulheres. Trabalhou como bartender, promotora de festas e corretora de imóveis antes de estudar cinema na New York Tisch School of Arts. Seu longa de estreia foi Songs my brothers taught me (2015), exibido no Festival Sundance. O segundo, Domando o destino (2017), recebeu elogios da crítica e ganhou indicações de melhor filme e melhor direção no Independent Spirit Award, além do prêmio máximo na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes.

A seguir, cinco fatos sobre a diretora:


The Rider | Official Trailer HD (2017)

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Infância: Batizada na China como Zhao Ting, Chloé considera que foi uma criança rebelde em meio a uma infância pobre. No entanto, seu pai foi beneficiado pela industrialização chinesa e tornou-se um alto executivo de uma das maiores siderúrgicas do país. Depois, passou a investir no ramo imobiliário. A mãe trabalhava em um hospital e se divorciou do pai de Chloé quando ela era adolescente. Ele se casou novamente com Song Dandan, uma conhecida atriz chinesa de comédia.

Influência: Chloé se apaixonou na adolescência pelos filmes do chinês Wong Kar-wai, de longas como Amor à flor da pele (2000). Seu preferido do diretor é Felizes juntos (1997), que narra a história de um casal de namorados de Hong Kong que vai passar férias em Buenos Aires. Chloé diz que até hoje assiste ao filme antes de começar um projeto, quase como uma cerimônia.

Fãs: a curta e bem-sucedida trajetória da diretora chamou a atenção do coreano Bong Joon Ho, vencedor de três Oscars com Parasita. O diretor colocou Chloé na lista dos 20 diretores mais promissores desta década. Outro fã declarado é o ex-presidente Barack Obama. Para ele, Nomadland está entre os melhores filmes de 2020.

Críticas à China: Chloé costuma dizer que às vezes se esquecia de que era asiática, já que andou pelo mundo desde muito cedo. Aos 14 anos, deixou Pequim para estudar em um colégio interno em Londres, seguindo depois para os Estados Unidos. Em fevereiro deste ano, ao ser premiada com o Globo de Ouro, a mídia chinesa cobriu Chloé de elogios. Foi chamada de “o orgulho da China” e Nomadland teve estreia agendada para o dia 23 de abril no país. A comoção durou pouco. Dias depois, as menções a Zhao, tanto na imprensa oficial quanto nas redes sociais, começaram a sumir. Nomadland desapareceu dos principais sites de venda de ingresso. Os motivos para isso podem estar ligados ao conteúdo de uma entrevista que Zhao deu em 2013 para a revista estadunidense Filmmaker em que ela diz que na China há mentiras por todos os lados. O comentário foi feito por ela ao lembrar de sua mudança para Londres, onde reaprendeu sua história e a de seu país. Esse trecho da entrevista foi removido em fevereiro da versão online da revista, mas foi encontrado nos arquivos na internet. Nas redes sociais, alguns chineses acusaram a diretora de difamar o país e pediram boicote ao filme.

Blockbuster: Em 2018, Chloé mal havia se consolidado como diretora, mas logo foi contratada pela Marvel. Segundo a cineasta, foi ela quem abordou o estúdio, e não o contrário. Chloé assina a direção de Os eternos, em fase de pós-produção depois de ter o lançamento adiado por causa da Covid. O longa traz o primeiro super-herói gay do universo Marvel, além de Angelina Jolie no elenco. O filme custou US$ 200 milhões, quase 40 vezes mais do que Nomadland. Paira no ar uma preocupação de que Chloé, uma legítima representante do cinema de autor, possa ter seu trabalho ofuscado por um blockbuster. O fato é que ela não está sozinha nesse time: Emerald Fennell, concorrente de Zhao na disputa pelo Oscar de melhor diretora por Bela vingança, foi contratada para assinar o roteiro de Zatanna, filme sobre a heroína da DC Comics.

Esta reportagem foi atualizada em 26 de abril de 2021.

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