Conheças os figurinos indicados ao Oscar 2023

Afrofuturismo, new look de Dior e o estilão de Elvis são alguns dos destaques da premiação, que traz apenas figurinistas mulheres na lista de competidores.


fotomontagem e ilustração com personagens dos filmes Elvis, wakanda e outros que concorrem ao oscar de melhor figurino



Um passeio pela Hollywood de 1927. Pelos Estados Unidos das décadas de 1950 a 70. Por Londres e Paris dos anos 50. Pelos reinos fictícios de Wakanda e Talokan. E pelos dias de hoje, com viagens a multiversos.

Foram esses os desafios enfrentados pelas figurinistas – todas mulheres – indicadas ao Oscar da categoria neste ano, respectivamente por Babilônia, dirigido por Damien Chazelle, Elvis, de Baz Luhrmann, Sra. Harris vai a Paris, de Anthony Fabian, Pantera Negra: Wakanda para sempre, de Ryan Coogler, e Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert.

A seguir, detalhes sobre o trabalho de cada uma:

A roupa da Babilônia

Esta é a quarta indicação de Mary Zophres, que concorreu anteriormente por Bravura indômita (2010) e A balada de Buster Scruggs (2018), ambos dirigidos por Ethan e Joel Coen, e La la land – Cantando estações, produção de 2017 também de Damien Chazelle. Babilônia se passa na Los Angeles dos anos 1920, que cresce vertiginosamente por causa da indústria cinematográfica e vê a chegada do cinema sonoro.

É um período de excessos. E o diretor queria justamente fugir dos clichês da época, como os vestidos sem cintura e mangas, abaixo dos joelhos. Ao todo, Zophres e sua equipe criaram 7 mil figurinos, baseados em fotos da época, música e pinturas.

O filme inspirou-se em pessoas e situações reais, mas a maior parte dos personagens é fictícia. No caso de Nellie LaRoy, a aspirante a estrela interpretada por Margot Robbie, o vestido vermelho que ela usa na festa, que deixa o corpo bastante exposto, dá a impressão de ter feito pela própria, em casa, sem grandes recursos.

Mas há também as roupas elaboradas da jornalista Elinor St. John (Jean Smart), todas feitas à mão. “Há algo de afrontoso nela, uma atitude de ‘eu que mando nesse lugar, e você vai prestar atenção em mim’”, explicou Zophres no material de imprensa do filme. 

O armário de Elvis

Catherine Martin tem função tripla na produção dirigida por seu marido Baz Luhrmann: produtora, figurinista e designer de produção. Por isso, concorre a três Oscars, que podem se somar às quatro estatuetas que tem em casa, pelo figurino e direção de arte de Moulin Rouge! – Amor em vermelho (2001) e pelo figurino e design de produção de O grande Gatsby (2013). Seu maior desafio nos figurinos é Elvis Presley ser muito famoso e ter um visual marcante, desde seu início nos anos 1950 até sua morte em 1977.

“Os figurinos vieram do estudo do guarda-roupa de Elvis e de uma extrapolação dessas roupas”, disse ela em entrevista à ELLE. “Se tentássemos apenas recriar essas peças, virariam caricaturas. Tínhamos de adaptá-las ao físico de Austin Butler, e sua interpretação de Elvis influenciou, sutilmente, nossa abordagem do figurino. Porque houve apenas um Elvis Presley e, infelizmente, ele morreu.”

Assim, alguns paletós são mais compridos, os bolsos estão em outras posições. “Queríamos que o público de hoje entendesse como ele confrontava a geração de seus pais, como era sexualizado, como seu visual, cabelo, movimento estava revolucionando as normas comportamentais dos anos 1950.” Martin também colaborou novamente com a Prada, que desenvolveu principalmente os figurinos de Priscilla Presley (Olivia DeJonge). 

Sra. Harris vai a Paris – e o new look de Dior

Jenny Beavan é outra figurinista veterana. Esta é sua 12ª segunda indicação ao Oscar, que ganhou três vezes, por Cruella (2021), Mad Max: Estrada da fúria (2015) e Uma janela para o amor (1985), este compartilhado com John Bright. Sra. Harris vai a Paris conta a história de Ada (Lesley Manville), uma faxineira que perdeu o marido na Segunda Guerra Mundial e se encanta por um vestido Dior, na Londres dos anos 1950.

Beavan lembra-se dessa época e de ter poucas roupas no armário. Só por isso, ela entende o impacto que ver um Dior pela primeira vez teria em alguém como Ada. O filme tem cinco réplicas feitas pela Dior a partir dos arquivos, além de recriações a partir de fotografias, desenhos e amostras de tecido.

A figurinista criou duas peças. O vestido escarlate Temptation foi baseado no Diablotine de veludo e paetês da coleção outono-inverno de 1957. Como não tinha o tempo necessário para fazer alta-costura, contou com a ajuda de Jane Law e John Bright. “Eu queria honrar Dior”, disse Beavan à revista The Hollywood reporter.  

Afrofuturismo em Pantera Negra: Wakanda para sempre

Ruth Carter, que concorreu ao Oscar por Malcolm X (1992) e Amistad (1997), foi a primeira pessoa negra a ganhar a estatueta de figurino, por sua mistura de ancestralidades africanas e afrofuturismo em Pantera Negra (2018). Ela concorre novamente pela sequência da produção da Marvel dirigida por Ryan Coogler. Wakanda para sempre é ainda mais amplo do que o filme anterior e lida com a perda do ator Chadwick Boseman, que fazia o rei T’Challa.

Logo no início do longa, há uma cena de funeral, com figurinos todos brancos. A solução foi brincar com texturas e tons, além de acessórios, indo buscar inspiração em diversas culturas africanas. Ela também criou as roupas de Angela Bassett, a primeira atriz a concorrer ao Oscar por um filme da Marvel, cuja Ramonda assume a liderança de seu país.

“Todo figurinista deseja vestir uma rainha”, disse Carter no material de imprensa. “Suas roupas são todas baseadas em beleza, realeza africana e tecnologia.” Com a ajuda de artistas de 3D, desenvolveu uma espécie de coroa inspirada por chapéus chamados isicholo, do povo zulu. Ela é branca no funeral, roxa em uma participação da rainha na Assembleia das Nações Unidas e vermelha no palácio.

Carter também criou as roupas de uma nova civilização, Talokan, um povo mesoamericano que vive embaixo da água. Maias e astecas serviram de inspiração, mas ela incorporou elementos oceânicos, como algas, conchas e contas. 

Muita moda em Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Campeão de indicações ao Oscar, com 11, o filme tem a única figurinista que concorre pela primeira vez à estatueta. Mas não só: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é o primeiro longa-metragem de Shirley Kurata assinando o figurino. Antes, ela tinha trabalhado em campanhas publicitárias, com artistas como Billie Eilish e Sky Ferreira e com grifes como Kenzo e Rodarte.

Na trama, Michelle Yeoh é uma imigrante que tem uma lavanderia, é casada com o dócil Waymond (Ke Huy Quan) e tem conflitos com a filha, Joy (Stephanie Hsu). Mas, de repente, se vê em uma jornada por outros universos, em que explora os caminhos que sua vida poderia ter tomado. Para dar conta da história, Kurata precisou de várias inspirações. Um passeio pela Chinatown de Los Angeles forneceu as roupas de Evelyn, a imigrante.

Mas, para o multiverso, ela foi buscar inspiração na carreira cinematográfica de Yeoh, em filmes como O tigre e o dragão (2000). A figurinista também pediu ajuda a Elie Saab, um dos favoritos da atriz, para escolher um modelo que evocasse a obra do cineasta de Hong Kong Wong Kar-wai.

No caso de Joy, a variedade foi ainda maior, com inspirações vindas do K-pop e da moda de Harajuku, com peças garimpadas de Commes des Garçons e Jeremy Scott, entre outros. A designer baseada em Nova York Claudia Li criou um trench-coat xadrez com máscara e viseira exagerados.

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