Conversamos com Zendaya e Sam Levinson sobre Malcolm & Marie

No longa da Netflix, filmado sob as restrições da pandemia, um casal revê sua relação ao longo de uma noite.


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Dois personagens, uma casa como único cenário e uma história centrada em diálogos. Este é o cerne de Malcolm & Marie (Netflix), escrito e dirigido por Sam Levinson e protagonizado por Zendaya e John David Washington (de Infiltrados na Klan e Tenet).

Esta estrutura enxuta foi a forma que Sam e Zendaya, respectivamente, criador e protagonista de Euphoria (série da HBO, que deu a ela o Emmy de melhor atriz), encontraram para seguirem criando e trabalhando em meio à crise sanitária causada pelo novo coronavírus. O longa, produzido e financiado pela dupla, foi filmado em junho passado, com uma equipe enxuta, respeitando as restrições impostas pela pandemia.

Filmado em preto e branco, Malcolm & Marie se desenrola ao longo de uma noite, em que Malcolm, cineasta, chega em casa com a namorada, Marie, após a estreia do longa dirigido por ele. Uma longa discussão entre o casal percorre a noite depois que ele (aqui, um breve spoiler) se esquece de incluir a parceira em seu discurso de agradecimento – um episódio inspirado na vida do próprio diretor. E a discussão, com algumas tréguas, percorre vários aspectos da vida do casal.

Nesta temporada de premiações do cinema, o filme pode faturar algumas. Conversamos com os dois por Zoom sobre os bastidores do longa que estreia nesta sexta-feira:

Como a ideia de Malcolm & Marie surgiu em meio à pandemia? O que levou vocês a contar essa história de uma relação que é testada?

Sam Levinson Em parte, foi sobre como conseguimos excluir tudo. O filme é baseado em uma casa, dois atores e é essencialmente um longa que se desdobra, mais ou menos, em tempo real. E há uma ideia simples no âmago disso: uma pessoa esquece de reconhecer a contribuição de outra para seu trabalho e sua vida. É tão simples que nos deu um campo de trabalho para explorar. O filme é também sobre ser grato pelas pessoas à sua volta, seus colaboradores, o reconhecimento das pessoas com quem você trabalha. Foi algo oportuno do jeito que o mundo estava (no contexto da pandemia).

O que foi mais difícil em filmar durante a pandemia? Todas essas limitações ajudaram criativamente de alguma forma? O que foi mais interessante em filmar com uma equipe enxuta?

Zendaya As restrições foram um pouco a diretriz criativa do Sam, que as usou para estruturar o filme. De uma maneira estranha, ele acabou criando um projeto dos sonhos para mim, pude fazer algo como uma peça, algo que sempre quis fazer, porque cresci cercada pelo teatro. Achei que nunca teria a oportunidade de fazer algo como Malcolm & Marie porque a ideia de fazer um filme em preto e branco, com dois atores, em um único lugar, não parece talvez muito lucrativo ou um grande sucesso. A parte mais difícil e mais estressante foi ter certeza de que era seguro (filmar). Esta foi nossa maior preocupação, ter certeza de que nossa equipe técnica e as pessoas estavam tomando cuidado para não colocar ninguém em uma situação de risco. Havia muitos protocolos para se colocar em prática. E uma vez que chegamos lá, isso nos deu a oportunidade de quarentenar juntos, mergulhar no filme, passar um pente fino. Literalmente, tivemos uma discussão sobre cada linha (do roteiro), o que é bem especial, nunca pude ter isso. Às vezes, você chega em um set e há tanta coisa acontecendo, você não consegue realmente “viver” o material, questionar ou dar uma mexida. Sob esta perspectiva, Malcolm & Marie foi muito diferente, foi feito por todos nós, foi financiado por nós. Isso nos permitiu questionar e investigar coisas de um jeito diferente e confiar um no outro.

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“Achei que nunca teria a oportunidade de fazer algo como Malcolm & Marie”, diz ZendayaFoto: Reprodução/Netflix

No filme, Malcolm é crítico em relação à crítica de cinema. Como você tenta lidar com isso? Você lê as críticas sobre o seu trabalho? Eles já contribuíram de alguma forma?

Sam Levinson
É interessante porque Malcolm é crítico em relação a uma resenha que é fenomenal, que diz que ele fez um trabalho de mestre, só não é o elogio da maneira como ele gostaria (de receber). Acho que há uma certa ironia e humor em toda essa sequência e um certo absurdo nisso. No fim, acho que o filme é sobre escutar a crítica, porque se você não consegue ouvi-la, não consegue crescer como artista e, o mais importante, como ser humano.

Como foi a preparação com John David Washington para criar essa cumplicidade na tela? Mesmo com a pandemia, você teve o tempo que gostaria para se preparar com ele para o filme? Li que ele é uma pessoa bem detalhista.

Zendaya
Na verdade, tivemos mais tempo do que costumo ter. As sessões em que mergulhamos no roteiro foram cruciais e ajudaram muito. Lembro quando o Sam tinha 10, 15 páginas (do filme escritas) e leu (por telefone) para John David. Nós estávamos tentando fazê-lo embarcar no projeto. Sam leu e perguntou se ele queria fazer parte do filme. E eu estava esperando, ansiosa, no telefone, a resposta. E já naquele momento ele estava fazendo perguntas. É por isso que admiro tanto o John David, pelo quão reflexivo é. Ele está pensando dez vezes adiante de mim, fazendo perguntas que nem eu ou o Sam havíamos feito. Isso somente com dez páginas, sério. Ele estava reagindo como um produtor, ainda sem ter dito “sim” ao projeto. É tão especial assistir uma pessoa tão adorável, tão tranquila se transformar às vezes em um personagem egomaníaco. Ele sempre acha algo positivo em qualquer situação da vida real. Ainda hoje forço ele a dizer algo negativo sobre qualquer coisa (risos). Talvez pelo fato de ser uma pessoa tão positiva, ele pôde usar Malcolm como algo catártico, para deixar sair qualquer negatividade que ele nunca usou na sua vida pessoal. Foi muito especial assistir.

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“No fim, acho que o filme é sobre escutar a crítica, porque se você não consegue ouvi-la, não consegue crescer como artista e, o mais importante, como ser humano”, diz Sam Levinson.Foto: Reprodução/Netflix

Assista ao vídeo da entrevista feita por Zoom abaixo:

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