Criolo aprofunda o mergulho no samba em filme-concerto

Primeira das três partes do especial, com direção de Monique Gardenberg, tem estreia gratuita nesta sexta-feira, 30; rapper passeia por um repertório que vai da sofrência a sambas voltados ao protesto social


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Na tentativa de criar vias alternativas de comunicação em um tempo em que a relação entre palco e plateia está suprimida, Criolo se uniu à cineasta Monique Gardenberg para conceber o filme-concerto Samba em 3 tempos, cuja primeira parte fica disponível gratuitamente a partir desta sexta-feira, 30 de julho, a partir das 21h, pelo site do Teatro Unimed.

Seis anos depois de se tornar nacionalmente conhecido pelo seu segundo disco de rap, Nó na orelha (2011), Criolo decidiu ampliar o campo musical e apresentou Espiral de ilusão (2017), todo constituído de sambas criados por ele. O novo projeto mergulha mais fundo no território brasileiríssimo do samba e coloca Criolo também no papel de intérprete de outros compositores.

No primeiro tempo da apresentação, o rapper paulista aparece sentado em um cenário despojado, ao lado de quatro músicos, interpretando um repertório que classifica como de “sofrência”, num chamado às origens do samba. A primeira canção é “Carinhoso” (1928), de Pixinguinha e João de Barro, reinterpretada em tom brincalhão, com impostação vocal e erres puxados à moda da interpretação de Orlando Silva nos anos 1930. A seguir, o clima de dor de cotovelo prossegue com “Que será”, gravada em 1950 por Dalva de Oliveira. A atmosfera espairece nos dois sambas seguintes, os históricos “A flor e o espinho” (1956) e “Luz Negra” (1966), ambos de Nelson Cavaquinho.

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Foto: Divulgação/Monique Gardenberg/Teatro Unimed

Os segundo e o terceiro ato serão publicados semanalmente, também às sextas-feiras. Nesses dois, o cenário (sempre no Teatro Unimed) se transforma numa espécie de roda de samba, e no segundo tempo, batizado de “luta”, Criolo canta sambas voltados ao protesto social, casos de “Barracão de zinco” (1953), consagrado na voz de Elizeth Cardoso, “Canto das três raças”, lançado em 1976 por Clara Nunes, e “Agoniza, mas não morre”, de Nelson Sargento, gravado pela primeira vez por Beth Carvalho, em 1978. A essa galeria Criolo acrescenta sua própria “Hora da decisão” (2017), dos versos “tempo fechou na favela/ é fera engolindo fera/ quem não tem proceder já era”.

No tempo final, batizado de “alegria”, Criolo abrange um arco que vai de Noel Rosa (“Palpite infeliz”, de 1935) a Cartola (“Corra e olhe o céu”, de 1974) e Caetano Veloso (“Desde que o samba é samba”, de 1993), abrigando também duas composições próprias, “Linha de frente” (2011) e “Calçada” (2017). Samba em 3 tempos integra o projeto Backstage Invisível, um movimento de arrecadação e distribuição de recursos em apoio a profissionais dos bastidores da música, impedidos de trabalhar pela pandemia.

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Foto: Divulgação/Monique Gardenberg/Teatro Unimed

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