Cyndi Lauper: “Acho que influenciei a moda dos anos 80 sendo eu mesma, assumindo riscos”

Cantora, que se apresenta no Rock in Rio às vésperas de sua turnê de despedida, fala à ELLE sobre seus 40 anos de carreira.


Cyndi Lauper de perfil para câmera no VMA
A cantora no MTV Video Music Awards, neste mês. Foto: Roy Rochlin/Getty Images for MTV)



Cyndi Lauper reencontra a plateia brasileira nesta sexta-feira (20.09), no Rock in Rio, às vésperas de sua turnê de despedida dos palcos. “É o mesmo amor e esforço com a energia do show, com o cuidado na seleção das músicas e dos membros da banda. Mas o show do Rock in Rio será mais curto”, responde à ELLE sobre as diferenças entre a apresentação no festival carioca e os shows de sua última turnê, que começará no próximo mês, no Canadá, e terminará em fevereiro, na França.

Em mais de 40 anos de carreira, Cyndi foi de um dos maiores nomes do pop da década de 80, com hits como “Time after time” (1983), “Girls just want to have fun” (1983) e “True colors” (1986), a experimentações com o blues, com o disco Memphis blues (2010), e country, com o álbum Detour (2016). E ainda escreveu composições para um musical de sucesso Kinky boots, que estreou em 2012. Neste ínterim, vendeu mais de 50 milhões de discos vendidos e recebeu 16 indicações ao Grammy.

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Neste 2024, a cantora andou presente nas plataformas de streaming. Primeiro, no documentário A noite que mudou o pop (Netflix), sobre a gravação de “We are the world” (1985), que reuniu as maiores estrelas dos pop dos anos 80 para a faixa beneficente. Depois, com o documentário que revê sua trajetória, Let the canary sing, lançado em junho e disponível na Paramount +. Na produção, ela repassa sua carreira de “altos e baixos”, a convivência com um padrasto abusivo, sua defesa pela causa feminista e pela comunidade LGBTQIA+ antes que ambas estivessem no centro das discussões. 

Na entrevista à ELLE, a nova-iorquina fala sobre como influenciou a moda dos anos 80, deixando uma marca pessoal e colorida, os desafios da comunidade LGBTQIA+ e suas expectativas para as eleições presidenciais estadunidenses:

Por que decidir fazer uma última turnê? E como tem se sentido sobre isso?
Queria fazer essa última turnê porque estou me sentindo ótima, minha voz está forte e queria ter a chance de comemorar com meus fãs. Eles têm sido tão maravilhosos comigo ao longo dos anos e essa é minha maneira de agradecê-los. É ótimo!

Como foi rever sua carreira em um documentário? Foi diferente de quando você escreveu seu livro de memórias (publicado em 2012)?
Eu não queria fazer o documentário inicialmente porque ainda não morri. Eu brinco muito que, “ei, alerta de spoiler, eu vivo no final!”. Mas foi muito bom ver todos que foram entrevistados e as coisas boas que eles tinham a dizer sobre mim. Trabalhei muito duro, superei muitos obstáculos e estou aqui. Acho que (a diretora) Alison Ellwood fez um ótimo trabalho compartilhando minha história.

“Eu não queria fazer o documentário inicialmente porque ainda não morri. Eu brinco muito que, “ei, alerta de spoiler, eu vivo no final!”

Você sentiu que o documentário a conectou com um público novo ou mais jovem?
Não tenho certeza, mas espero que sim. Posso dizer que artistas mais jovens ao longo dos anos me disseram que foram inspirados pela minha história, minha perseverança e pela maneira como usei minha plataforma. Então, espero que minha história continue a inspirar pessoas, jovens e velhas. O rock pode salvar o mundo. Eu realmente acredito nisso.

Como você acha que influenciou a moda dos anos 80?
Era sempre divertido olhar para uma multidão e ver as pessoas inspiradas por mim – pelo o que eu estava vestindo, meu cabelo, como me movia ou dançava. É uma viagem e realmente algo para ser grata por estar alcançando e tocando as pessoas. Acho que influenciei a moda dos anos 80 sendo eu mesma, assumindo riscos. Era realmente intencional com muitas coisas que eu usava – os espartilhos não eram apenas espartilhos, as correntes não eram apenas correntes (Cyndi se apropriava e personalizava esses itens, com um estilo muito próprio e colorido). Estava sempre fazendo uma declaração, sempre representando as mulheres.

 

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Você comentou recentemente sobre como evitou ser comparada a Madonna e uma suposta rivalidade com ela nos anos 80. É algo que você ainda observa hoje no universo pop, uma comparação insistente ou rivalidade entre duas cantoras?
É uma história tão antiga quanto o tempo. Coca-Cola ou Pepsi. Burger King ou McDonald’s. Britney ou Christina. Nicki ou Cardi. Não é justo, mas as pessoas fazem isso o tempo todo. Há espaço para todas e todas trazem algo diferente. Gosto de ver mulheres defendendo a si mesmas e umas às outras. Somos mais fortes juntas do que separadas.

Você foi do pop ao blues e country. O que a motiva e inspira como artista?
Tudo me inspira. A luz, a Lua, um som, mas realmente um sentimento. Sou uma grande fã de música. Então, quando tenho a chance de me aprofundar em gêneros diferentes, sempre aproveito! Sou motivada por compartilhar boa música com meus fãs. Tenho sorte que eles continuaram nessa jornada comigo.

“Gosto de ver mulheres defendendo a si mesmas e umas às outras. Somos mais fortes juntas do que separadas”

Você tem 70 anos. Como tem sentindo a passagem do tempo?
Eu me sinto bem, contanto que siga aprendendo e crescendo. Continuo criando e fazendo o que amo, perto das pessoas que amo, isso é o que importa. Sou muito grata.

Você tem defendido os direitos LGBTQIA+ desde os anos 80. Quais são os desafios mais urgentes que ainda precisam ser superados nos EUA?
Ainda estamos lutando por direitos iguais para todos. Se o governo está legislando uma parte do seu corpo (proibindo o aborto, por exemplo), então não temos os mesmos direitos que todos, os mesmos direitos que os homens. O governo deve ficar fora de nossos úteros e de nossos quartos. Mas, ao mesmo tempo, você não pode legislar para afastar o ódio. Educação e representação são muito importantes. Todos devem se sentir seguros em ser quem são, amar quem amam e não ter que temer por suas vidas porque se isso. Percorremos um longo caminho, mas ainda temos mais um pela frente.

Os Estados Unidos terão eleições presidenciais em novembro. Quais são suas expectativas?
Espero que todos votem. Seu voto é sua voz e ela importa. Pode parecer que não, mas importa. Então, gostaria que todos aprendessem tudo o que puderem sobre as questões, os candidatos e exerçam seu direito de votar.

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