De Chic Show a Rita Lee, In-Edit exibe maratona de documentários musicais
Entre os mais de 60 títulos, filmes sobre Letrux, Michael Jackson e New York Dolls.
Se você gosta de música e cinema, é bom reservar alguns espaços na agenda de junho porque nesta quarta-feira (14.06) começa a 15ª edição do festival In-Edit Brasil, festival dedicado a documentários musicais. Nada menos do que 68 títulos serão exibidos em sete salas espalhadas pela cidade de São Paulo. Neste ano, uma das novidades é a Mostra Teenager, que celebra os 15 anos do evento e traz oito títulos que giram em torno de fenômenos adolescentes – de Elvis Presley a Backstreet Boys. O documentarista homenageado será o canadense Ron Mann, que já abordou do jazz ao twist, com três filmes na programação; todos eles terão sessões com presença do cineasta.
Rita Lee, que nos deixou no último 8 de maio, será homenageada no encerramento do evento (25 de junho, na Cinemateca) com a exibição de Ovelha negra (Roberto de Oliveira, 2007). O filme mergulha na biografia da artista a partir de uma entrevista com ela, entrecortada por imagens de arquivo e cenas de dois shows, realizados em 2000 e 2006.
O festival oferece ainda a oportunidade de assistir na telona e em sequência os seis episódios de The beat diaspora. Com produção da MyMama Entertainment em parceria com Coy Freitas e KondZilla, a série do YouTube investiga a influência dos tambores africanos na música periférica de São Paulo, Salvador, Recife, Kingston (Jamaica), Lagos (Nigéria) e San Juan (Porto Rico).
A programação completa você confere no site oficial. Assistir tudo presencialmente é impossível, então fique de olho também na programação online, de 19 a 25 de junho. A seguir, a ELLE destaca outros cinco filmes:
Chic Show (2023)
Você não precisa ter vivido na época do Chic Show, nos anos 70 e 80, para já ter ouvido falar dele. O baile é citado no hit do rap “Senhor tempo bom” (Thaíde & DJ Hum, 1996) e já foi assunto do podcast Mano a mano (que o rapper Mano Brown apresenta desde 2021). O documentário Chic Show é um dos destaques da programação do In-Edit deste ano e foi escolhido como filme da abertura do evento nessa quarta-feira (14.06), no Cinesesc. O longa, em pré-estreia mundial, terá ainda uma sessão especial na Cinemateca, no sábado 17 de junho, seguida de festa com DJs, que reviverá o clima do baile original. Depois, entrará na programação da Globoplay. Com direção de Emílio Domingos – cineasta de filmes premiados, como Batalha do passinho (2012), Deixa na régua (2016) e Favela é moda (2019) – e Felipe Giuntini, Chic Show traz uma profunda pesquisa de arquivo para resgatar imagens que ajudam a explicar o fenômeno que não só agitava a São Paulo com uma opção de entretenimento para a população negra da cidade como fomentou movimentos musicais como o soul, o rap, o pagode e o funk. O documentário traz depoimentos de Emicida, Ice Blue, Mano Brown e Rappin Hood.
Elis & Tom, Só tinha que ser com você (2022)
Quando se ouve Elis & Tom (1974) e a descontração que transparece na versão de “Águas de março” (em que a intérprete ri ao mesmo tempo que canta na parte final da música), não se imagina o quão foram tensas as gravações desse álbum. Tratava-se de um disco de carreira de Elis Regina e, portanto, ela tinha voz ativa nas decisões em torno dos detalhes da produção. O repertório era todo de canções de Tom Jobim e o maestro, àquela altura, não se contentaria em ser um mero coadjuvante da obra. Ele resmungou sem discrição ou delicadeza quando soube que o arranjador seria Cesar Camargo Mariano: “Você com suas pobres notinhas brasileiras?”, questionou. Também ficou ressabiado quando notou que havia muitos instrumentos elétricos no estúdio – piano, baixo, guitarra. As gravações aconteceram em Los Angeles, onde ele morava à época. A incompatibilidade de gênios atingiu um ápice em que Elis chegou a arrumar as malas para voltar ao Brasil, determinada a cancelar o projeto. Para a sorte da música, aos poucos o clima entre eles arrefeceu, cada um cedeu um pouco e o encontro entre a maior cantora do Brasil com o compositor mais consagrado fora do Brasil no período se materializou no disco que, quase 50 anos depois, é reconhecido como uma obra-prima. O diretor Roberto de Oliveira (o mesmo de Ovelha negra) estava presente no estúdio com uma câmera 16mm e registrou os bastidores da histórica gravação. O material de arquivo – até então inédito – tem de tudo um pouco: desde os momentos de beleza sublime da criação artística aos takes que capturam com sensibilidade a angústia que pairava no ar.
Letrux: Viver é um frenesi (2022)
Letrux, alter ego da cantora e compositora carioca Letícia Novaes, lançou seu terceiro disco solo – Letrux aos prantos – em 20 de março de 2020. Depois de um banho de mar para agradecer a realização, ela se deu conta de que a partir daquele mesmo dia os brasileiros se trancariam em suas casas por conta da pandemia de coronavírus. O período que seria de divulgação do novo trabalho se tornou uma fase de isolamento em São Pedro da Aldeia, município da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. A artista, sem condições de pagar o aluguel de seu apartamento na capital fluminense, recorreu à casa da família onde costumava passar as férias na infância e na adolescência. Os meses que passou lá inspiraram uma imersão nas suas memórias afetivas com o lugar: ela reencontra cadernos com anotações antigas, revê vídeos gravados por um tio e lembra da prima mais velha Marina – que a inspirava pelo comportamento contestador e morreu, aos 17 anos, de meningite. A própria Letícia é roteirista desse média-metragem junto com o diretor Marcio Debellian e Diana Vasconcellos. O documentário constrói uma narrativa fragmentada e mescla cenas atuais com material do arquivo familiar e imagens de shows de vários momentos de sua carreira – além de um encontro com Marina Lima, uma de suas principais influências.
Sonic fantasy (2022)
Não é novidade que Thriller (1982) é o álbum mais bem-sucedido comercialmente de todos os tempos – estima-se que tenha vendido algo em torno de 100 milhões de cópias ao redor do mundo – e que a maior parte desse êxito se deve à genialidade do seu intérprete (Michael Jackson) e do seu diretor musical (Quincy Jones). O que é bem menos lembrado é a importância do engenheiro de som Bruce Swedien (1934 – 2020) nesse feito. Sonic fantasy se debruça sobre o trabalho desse personagem anônimo, desvenda curiosidades dos bastidores da gravação e mostra como Swedien transformou o som do álbum em nove dias de trabalho exaustivo – quando o prazo de entrega estava prestes a estourar. Nem Michael nem Quincy estavam satisfeitos com a mixagem e já davam a causa como perdida, mas o técnico de som fez a sua mágica e terminou o disco com sua qualidade definitiva na data combinada. O filme tem o mérito de prender a atenção sem que se ouça a voz do cantor: provavelmente por conta de direitos autorais, nenhuma música do álbum é usada e também não traz nenhuma entrevista de Michael. A exceção é um trecho de áudio em que se ouve os seus exercícios vocais antes de uma sessão de gravação. Com direção do espanhol Marcos Cabotá, o longa mostra como a pressão da indústria fonográfica afetou o processo criativo e, principalmente, a mágica que se fez no estúdio que ajudou a pavimentar o sucesso de um dos maiores nomes da história da música.
Personality crisis: One night only (2022)
O nova-iorquino Martin Scorsese não só é celebrado como um dos principais diretores do cinema – responsável por clássicos como Taxi driver (1976) e Os bons companheiros (1990) – como emprestou sua lente para grandes registros audiovisuais definitivos da música em produções mais recentes. A série documental The Blues (2003), a gravação do show dos Rolling Stones em Shine a light (2006), o documentário sobre um dos integrantes dos Beatles George Harrison – Living in the material world (2011) e o filme que mistura ficção e realidade sobre Bob Dylan (Rolling Thunder Revue: a Bob Dylan Story by Martin Scorsese, de 2019) são trabalhos cultuados e que esmiúçam alguns dos acontecimentos mais relevantes da cultura pop. Em Personality crisis: One night only, ele e David Tedeschi (editor nessas quatro obras citadas) se dedicam em investigar a trajetória e o gênio de David Johansen – que foi vocalista da banda precursora tanto do punk como do glam, os New York Dolls. O filme parte de um show em Nova York, em janeiro de 2020, quando o artista subiu ao palco do Café Carlyle para celebrar os seus 70 anos. O roteiro costura minuciosamente as imagens atuais com valiosos arquivos para tentar decifrar a complexa personalidade do cantor e compositor.
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