Em O esquema fenício, Benicio del Toro é empresário que se reaproxima de sua filha
Novo filme de Wes Anderson tem visual elaborado e um leve toque sombrio sobre nossos tempos.

Em O esquema fenício, novo filme de Wes Anderson que já está em cartaz no Brasil, logo depois de participar da competição do 78º Festival de Cannes, Benicio del Toro interpreta um milionário europeu dos anos 1950 que só se preocupa com sucesso, dinheiro e legado. Mas, depois de sobreviver a mais um acidente de avião, outro atentado à sua vida, Anatole Zsa-Zsa Korda decide garantir o futuro de suas empresas. Por isso, ele contata Liesl (Mia Threapleton), a filha que não vê há anos, depois de mandá-la para um convento.
O esquema fenício do título é um projeto ambicioso que foi elaborado por Zsa-Zsa durante três décadas, envolvendo diversos parceiros, para levar eletricidade, indústria e transporte para uma região de potencial inexplorado. Com a companhia do tutor Bjorn (Michael Cera), especialista em insetos, o empresário e sua filha fazem uma peregrinação para convencer outros a entrarem no projeto, do Príncipe Farouk (Riz Ahmed) aos californianos Leland (Tom Hanks) e Reagan (Bryan Cranston), passando pelo nova-iorquino Marty (Jeffrey Wright), o terrorista Sergio (Richard Ayoade), o mafioso Marseille Bob (Mathieu Amalric), a Prima Hilda (Scarlett Johansson) e o misterioso Tio Nubar (Benedict Cumberbatch).
Foto: TPS Productions/Focus Features © 2025
A peregrinação de Zsa-Zsa e Liesl acaba sendo transformadora para ambos. “Minha teoria é que todo esse empreendimento do personagem, sem ele saber, é para reconquistar sua filha. Ele criou esse ritual que eles precisam fazer juntos”, disse o diretor na entrevista coletiva do filme em Cannes.
Curiosamente, sua intenção, junto com Roman Coppola e Benicio, que criaram a história ao lado de Anderson, era fazer um filme sombrio. “Esse é um cara que não está preocupado com a maneira como as grandes decisões que ele se deu o direito de tomar estão afetando populações, forças de trabalho, paisagens. É o lado sombrio de um certo tipo de capitalista. Mas fomos levados para outro caminho. Sinto que precisamos do divã de um psiquiatra para entender.”
O esquema fenício tem tudo o que se espera de Wes Anderson: visual elaborado, movimentos inusitados de câmera e dos atores, diálogos ditos de maneira específica. Mas, mesmo olhando para a influência desses milionários e bilionários narcisistas pelo mundo, acaba sendo sobre seu tema favorito: a família. Aqui, no caso, sobre pais e filhas – Wes, Roman e Benicio são pais de meninas.
A inspiração para Zsa-Zsa, de O esquema fenício, foram empresários reais e fictícios
O diretor foi buscar em personagens do cinema, como Charles Foster Kane criado por Orson Welles em Cidadão Kane, o modelo para Zsa-Zsa. Mas não só. Ele pesquisou milionários europeus como Aristóteles Onassis (amante de Maria Callas e marido de Jacqueline Kennedy), Árpád Plesch, Calouste Gulbekian e Gianni Agnelli. “Quis pensar em certo tipo de empresário que sempre consegue mudar de rumo e tem pouca obrigação de honrar a verdade”, disse Wes Anderson.
Ele também homenageia seu sogro, Fouad Malouf, empresário libanês e pai de sua mulher Juman. “Esse personagem tem muito a ver com ele, que era uma grande pessoa. Era muito alfa. Sua primeira impressão sobre ele era de certo medo. Eu me lembro de perguntar como eram as pessoas com quem trabalhava. ‘Todos leões’ foi a resposta. E eu pensei: ‘Não sei se tenho leões trabalhando comigo’.” Um dia, Fouad chamou a filha e disse, como Zsa-Zsa faz com Liesl: “Quero que você esteja pronta caso eu não seja mais capaz de cuidar dos meus negócios”. E apresentou a ela caixas de sapatos, cada uma contendo uma ideia de projeto mirabolante – exatamente como o protagonista faz com Liesl.
Benicio del Toro sempre foi o único nome para o papel
Wes nunca pensou em outro ator e disse que não conseguiria escalar alguém – pelo menos não dessa era. Para ele, Zsa-Zsa é um personagem que poderia ter sido interpretado apenas por Anthony Quinn ou Jean Gabin. Exatamente quatro anos atrás, quando Benicio e Wes apresentaram A crônica francesa no Festival de Cannes, o cineasta disse ao ator que tinha um projeto para ele. Depois de lançar Asteroid City (2023), o diretor enviou as primeiras 20 páginas do roteiro. Mas, a partir daí, começou uma colaboração entre os dois e Roman Coppola para desenvolver a história e o personagem. Ao contrário do que Benicio pensava, era um protagonista de verdade e não uma participação pequena, como em A crônica francesa.
Foto: TPS Productions/Focus Features © 2025
Como é o set de um filme de Wes Anderson
O elenco principal ensaiou durante duas semanas. No almoço, havia o Lunch Club, um piquenique ao ar livre. Não havia trailers, todos os atores conviviam durante os intervalos, enquanto esperavam por suas cenas. Todas as noites, como é de praxe, Wes promovia jantares com os chefes de equipe e o elenco. Mas nem sempre Benicio estava presente, dada a quantidade de cenas para preparar. Ele fez questão, no entanto, de participar da despedida de cada um dos atores que terminavam sua participação.
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Cenários falsos, obras de arte de verdade em O esquema fenício
Adam Stockhausen foi o responsável por criar todos os cenários nos estúdios de Babelsberg, na Alemanha. As referências foram a casa de Calouste Gulbenkian em Paris e um palazzo em Veneza. Villas nos arredores de Berlim deram a ideia de usar trompe l’oeil. Um empresário do porte de Zsa-Zsa obviamente coleciona arte. Mas, em vez de fazer cópias, Wes queria quadros verdadeiros. Foi uma negociação complicada, mas a equipe conseguiu um Renoir da Coleção Nahmad, um Magritte da Coleção Pietzsch e peças da Hamburger Kunsthalle.
As roupas cheias de detalhes
Milena Canonero novamente ficou responsável pelos figurinos, que usam referências trazidas pelo diretor. Ele aprova cada detalhe e só depois os figurinos são mostrados para os atores. Eles também encomendaram peças únicas, como uma mochila feita pela Prada e um cachimbo cravejado de joias da Dunhill. A adaga que aparece na tela foi feita por Harumi Klossowoka de Rola.
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