Gabriela Prioli estreia terceira temporada de seu “À Prioli”

Apresentadora falou à ELLE sobre a experiência no programa, as expectativas com a gravidez de uma menina e sua percepção sobre o trabalho que fez com política.


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Entre temas densos e papos descontraídos na piscina de bolinhas com Tiago Abravanel, jogando bilhar com Marta ou quebrando pratos com Cleo, Gabriela Prioli estreia neste sábado, às 23h, a terceira temporada de seu programa semanal de entrevistas, À Prioli, na CNN. Se na primeira recorria a um tablet como aliado para as entrevistas, na segunda já passou a contar apenas com o conteúdo que pesquisa sobre os convidados. Nesta, diz, se viu ainda mais confiante, e o papo segue sem roteiro. “Eu fui amadurecendo com o programa. No começo você pensa ‘esse é meu jeito?’. Você não sabe muito, porque você nunca se viu fazendo aquilo, então tem uma insegurança natural”, conta. “Eu me preparo o máximo possível, não só no sentido de compreender a trajetória daquela pessoa para poder formular melhor as minhas perguntas, mas também tentar entender quem é aquele indivíduo para que eu possa tornar o ambiente o mais acolhedor possível.” Angélica, Dani Calabresa, Laerte, Walter Casagrande, Maitê Proença, Thaynara OG e Baco Exu do Blues completam o time de convidados.

Hoje na faixa soft (bloco voltado ao entretenimento) da CNN, a apresentadora, que conquistou o próprio espaço no canal inicialmente falando sobre política, diz não sentir falta de debater o tema na TV, mesmo em um ano de eleições. Mais do que isso, defende que o À Prioli cumpre este papel. “Isso é o mais legal, tem política. O À Prioli é justamente o que sempre foi a minha vida, e penso eu o que é a vida da grande maioria das pessoas, que não se interessa só por política. A pessoa quer viver a vida dela com leveza, com diversão e discutir política, debater política como um assunto também. Nessa temporada a gente fala de racismo, assédio, abuso sexual contra crianças e adolescentes, etarismo, limite para o humor, defesa da democracia, apreço à cultura regional, isso é política e tá lá num programa de entretenimento”, afirma.

E Gabriela leva para a frente das câmeras alguns ensinamentos dos quase 10 anos como advogada. “Tem muita coisa do direito que senta comigo, acho que eu tenho quase obsessão pelos dados, um pouco porque no direito a gente não pode falar do que não está no processo. Acho que esse preciosismo é muito da minha formação, a forma de estruturar o discurso, de elaborar o raciocínio, a interação com as pessoas”, enumera.

Aos seis meses de gravidez de sua primeira filha, fruto do relacionamento com o DJ Thiago Mansur, a apresentadora conversou com ELLE sobre o impacto da maternidade em seu atual momento e os planos para o futuro.

“Primeiro eu preciso arrumar essa criança para ela me ajudar a arrumar o mundo. A gente se fortalecer individualmente é um jeito de a gente mudar o mundo. Acredito nesse cuidar primeiro da nossa casa, da nossa aldeia.”

Você já falou que vem de uma família muito matriarcal, de mulheres fortes, e agora espera também uma menina. Essa notícia te provocou reflexões nesse sentido?

Eu sempre achei que teria um menino. Quando engravidei, achei que era um menino. Acho que por causa da neutralidade da língua, no masculino: “o bebê”. Quando veio o resultado, ao mesmo tempo que fiquei muito feliz, eu falei ‘cara, que responsabilidade’. Porque eu tenho um discurso de empoderamento, de fortalecimento das mulheres. Mas é maravilhoso. Eu tenho muito orgulho dessa linha matriarcal da minha família, dessas mulheres tão fortes e tão livres. A minha mãe ficou viúva com 32 anos. A minha avó era cantora lírica, artista. Meu avô era funcionário público. A história que a gente mais conhece da minha avó é que, quando eles se casaram, o meu avô falou para ela “agora a gente casou, vamos ter filho e é hora de você parar de cantar, porque essa coisa de ir para teatro…”. E ela falou ‘eu posso até parar, mas você vai me olhar triste todos os dias da sua vida, vai saber que a culpa é sua’. A minha mãe conta sobre a minha bisavó, que o povo falava ‘você é muito brava’. E a frase dela era ‘não sou brava, eu sou enérgica’. E até hoje a gente brinca e fala isso. Eram mulheres cuja fala importava. E isso é incrível.

Uma exceção….
Completamente! Um ambiente em que a minha mãe dizia ‘você pode falar o que você quiser para quem você quiser’. Eu lembro de mim pequena, só usava saia… E eu podia usar o que eu quisesse. Então imagina que eram umas roupas completamente espalhafatosas. A pluma que eu uso no programa não veio de agora. Às vezes, quando as pessoas me dizem nas redes “por que você precisa se vestir desse jeito?”, eu falo “você pode estar triste, mas a Gabrielinha… [risos]”. Uma vez eu estava sentada e uma moça comentou “senta direito”. E a minha mãe falou “o que é sentar direito?”. Ela disse: “Está aparecendo a calcinha”. E minha mãe falou “se você vê sexualização na cena de uma criança com uma peça de roupa aparecendo, o problema não é dela”. Isso é maravilhoso! Esse é o exemplo que eu tenho. Uma vez a minha mãe me deu uma ordem, meu pai ainda era vivo. E meu pai falou uma outra coisa contrária. Minha avó paterna estava na cozinha, e eu falei “ah, mas o papai disse…”. E a minha avó falou para ela “cuidado, você não pode desautorizá-lo”. E aí minha mãe disse: “A minha autoridade ninguém tira”. Essa é minha mãe.

Não são só as plumas que não vêm de hoje na sua história, então, né? Você parece carregar também essa característica contestadora das mulheres da sua família…
A minha mãe bancou essa contestação. Porque era dirigido a ela também, e ela se sentava, explicava e argumentava. Eu fui muito respeitada como indivíduo, muito, e eu quero continuar essa trajetória com a minha filha. Sem dúvida nenhuma.

Você está envolvida em uma série de projetos distintos: o Clube do Livro (com Leandro Karnal), o programa, o livro sobre política (Política é para todos). Com a gravidez, bateu alguma vontade de se aprofundar em outros temas ou se viu sensível a assuntos que até então passavam batido?
Eu já tenho um conteúdo direcionado para o público feminino em palestras, nas minhas redes, mas eu não tenho um livro publicado sobre esse assunto. Não tenho um produto de mentoria nesse sentido, por exemplo, como eu desenvolvi em outras áreas. Então me deu mais vontade, sim, e eu acredito que eu volte da licença-maternidade mais focada nesses projetos especiais. Eu até já tô estruturando os meus estudos nesse sentido, conversando com a minha equipe. Eu já tinha vontade, mas a gravidez aprofundou isso, junto com a sensação de que na política, por exemplo, a minha contribuição quase fecha uma totalidade. Eu tenho um curso sobre o funcionamento da nossa política, o nosso sistema eleitoral, a distribuição dos poderes e tudo mais, eu tenho um curso sobre ideologias e cada uma dessas matérias vai ter um livro publicado mais o YouTube. Então acho que está entregue o conteúdo mais institucional.

E falar sobre o feminino e criar uma filha é política também, não?
Sim! Esse recorte do feminino me interessa muito porque permite a nós como sociedade uma compreensão do respeito ao indivíduo que é muito importante. O respeito ao outro e a nós mesmos, que muitas vezes a gente deixa de lado, a dificuldade de impor limites, de entender sobre a construção da nossa trajetória, da possibilidade de a gente desenvolver ambição e isso não ser visto com maus olhos, de a gente ter desejos ousados e se esforçar para trilhar o nosso caminho nesse sentido. Tenho muita vontade de falar sobre essas coisas que eu considero que foram o grande diferencial na construção da minha carreira. E a construção da minha carreira me orgulha muito porque eu sinto que eu construí o lugar que eu queria. Eu adoraria poder contribuir com ferramentas para que outras pessoas também sentissem essa satisfação de construção desse lugar.

E bateu aquele sentimento de “preciso arrumar o mundo para essa criança que vai chegar”?
Eu acho que primeiro eu preciso arrumar essa criança para ela me ajudar a arrumar o mundo, sabe. Eu acho que é isso, que a gente se fortalecer individualmente é um jeito de a gente mudar o mundo. Eu acredito nesse cuidar primeiro da nossa casa, da nossa aldeia. E aí a gente vai ampliando espaços, porque senão a possibilidade de frustração reiterada gera um desmotivador muito complicado. A gente precisa dessas pequenas vitórias para construir. Mas com a maternidade… eu gosto muito de educação. Tudo isso que eu falo, aperfeiçoamento da visão de si, tem a ver com educação. Então eu tô mais ligada ainda em educação, realmente me vendo muito como instrumento para a construção da minha existência feliz.

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Foto: Lucas Mennezes

A gente está em um ano de eleição e a sua ascensão se deu meio junto com a do atual presidente da República, com você fazendo um trabalho de aproximar a política do cotidiano de todos. Passados quatro anos, que balanço você faz nesse sentido? Vê as pessoas com quem você troca ali nas redes sociais mais interessadas, abertas à política?
Totalmente. Não só mais interessadas, o que já seria bom, mas compreendendo que a política tá em todos os lugares, que pra gente falar de política não precisa falar num ambiente duro, não precisa ser sisudo e não precisa ter termos difíceis, e ela deve ser de todo mundo. [Vejo as pessoas] com uma convicção de que falar sobre qualquer assunto, não só sobre política, deve ser um falar consciente, preparado, coerente. Porque se o meu público pensasse “é interessante discutir política, mas vamos falar um monte de coisa que a gente tirou da nossa cabeça”, o meu trabalho não estaria feito. [Vejo as pessoas compreendendo que] É importante a gente construir repertório, pensar na nossa vida, na satisfação dos nossos desejos, nas nossas ambições. É político também que a gente tenha liberdade de querer, de almejar, de construir, e por isso a gente tem que dar tanta importância, tratar com tanto cuidado toda a expressão da nossa existência no mundo. As pessoas às vezes compartimentam os assuntos, eu realmente acho que tá tudo conectado. Teve uma vez na Bienal do Rio que chegou uma menina de 13 anos, o pai veio junto, e ela me abraçou, falou que gostava muito do meu trabalho, que tinha lido o livro. E o pai falou assim “sabe, Gabriela, chega determinada idade, eles vão se afastando da gente, e aí você apareceu para tomar conta deles quando a gente não tá por perto, e eu fico muito feliz”. O que eu vou querer mais?

Você está falando que as pessoas tendem a compartimentar as coisas e você sempre teve esse discurso de que está tudo conectado. Em que medida é um desafio ou uma questão o fato de se propor a ser uma influenciadora mesclando amenidades com mais profundidade, fazendo publicidade e se preocupando em não esvaziar o conteúdo?
Acho que é mais natural do que uma questão. O difícil para mim seria não ser assim, seria ter que fazer um conteúdo só em determinado sentido e não poder me mostrar múltipla. Eu sou múltipla, então num dia a gente vai ter um papo-cabeça, no outro a gente vai falar de creme hidratante porque a minha vida é assim.

Mas eventualmente vêm críticas, né? Você acha que essas coisas estão coexistindo melhor hoje na cabeça das pessoas?
Eu acho que mais importante do que isso existir na cabeça das pessoas foi a legitimação de quem já tinha isso na cabeça. Ainda hoje há uma insistência de que as coisas estão compartimentalizadas. Mas eu já era essa pessoa. Quando eu surgi no debate [no programa O Grande Debate, da CNN], eu já usava brilho, eu já tinha os meus sapatos, eu já ia no show da Anitta, já usava hidratante. Tudo que eu faço hoje eu já fazia naquela época e fazia quando eu era advogada e estava no tribunal. A questão é que as pessoas viram um pedaço de mim. Eu apareci nas redes, elas começaram a me acompanhar e ver o todo, mas não é que o todo começou a existir depois que eu fiquei mais conhecida, existiu desde sempre. E quando eu falei ‘eu não vou deixar de mostrar a minha multiplicidade, eu sou isso, eu vou mostrar o que eu sou’, algumas pessoas me disseram ‘o público não vai entender’. E eu falei ‘não é possível, tem mais gente por aí como eu’. Quando eu fiz esse conteúdo para essas pessoas, a gente se encontrou. O que eu mais ouço nas minhas redes é ‘obrigada por mostrar para tanta gente aquilo que eu dizia que eu era e ninguém acreditava’. Quando eu era adolescente, uma adolescente que já gostava de creme hidratante, de moda, de sapato, de festa, de filosofia, poesia, as pessoas me diziam “tem que escolher, os dois não dá”. E eu achava tristíssimo; pensava por que eu vou ter que cortar um pedaço da minha existência que vai me fazer falta, que vai doer tirar? Perceber que eu pude, com a minha persona pública, mostrar que não precisa cortar nada, é a melhor coisa, é a melhor sensação que eu tenho quando eu falo que esse lugar é o lugar que eu queria construir, é esse lugar que legitima minha existência. Nós somos seres visuais, a nossa imagem pessoal importa. Você pode usar isso numa perspectiva de negócios. Quanto movimenta a indústria da moda? Não é algo que você possa ignorar. Sobre as publicidades, por que a gente deslegitima? Estou fazendo uma publicidade, essa marca me contratou a partir do meu posicionamento, da minha marca construída arduamente por mim e eu fico feliz lisonjeada que eu possa celebrar essa parceria profissional. A ELLE vende publicidade e entrega conteúdo. Esse equilíbrio não é uma novidade na mídia tradicional.

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