Giulia Be se lança em turnê tentando ser dona da própria história

Cantora e compositora leva turnê do álbum "Disco Voador" por Portugal e Brasil com banda 100% feminina, depois de ter sido contratada pela Roc Nation, produtora de Jay-Z.


GIULIA BE 3e.com
Foto: Dimitrow



“Isto é uma afirmação, pode escrever, artista feminista é comigo mesma”, demarca Giulia Be num momento de grande expectativa. Após acrescentar cinco novas faixas ao álbum de estreia, Disco voador (2022), a cantora e compositora carioca de 23 anos finaliza os preparativos para sua primeira grande turnê, que deveria ter acontecido em 2020 e foi postergada devido à pandemia.

A partir de setembro, a Disco voador Tour passará por oito estados brasileiros, depois de cumprir datas de partida em teatros de Portugal, em agosto. Giulia será secundada por uma banda pop-roqueira 100% feminina, enquanto canta versos eloquentes como os da canção disco-pop “O Brasil tá em festa” (“O Brasil tá em festa/ finalmente achei um homem que presta”).

Giulia Be

Foto: Dimitrow

“Quando minha banda toca junta, existe um lugar de segurança que torna mais fácil o ego não entrar na sala, com todo respeito aos homens”, define, ao mesmo tempo que ri dos versos “Ouvi dizer que é uma espécie em extinção/ Mas não desiste, não”, mais condescendentes com o polo masculino. E acrescenta: “Tenho que confessar que tenho vários homens que prestam na minha vida, por mais que eu saiba que é raridade”, diz ela, que namora Conor Kennedy, sobrinho-neto do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy. “Mas estou cultivando uma relação de leveza com minhas musicistas. Por sermos majoritariamente mulheres, a gente tem um senso de compartilhamento de vivência que é meio inexplicável”.

Empresariada pela própria mãe, Adriana Bourguignon Marinho, Giulia fala da origem de sentimentos e atitudes de sororidade. “Estamos num momento muito interessante da história, de correção, de mulheres no topo. E eu disse para mim mesma que, sempre que puder dar uma oportunidade, pode ter certeza que vai ser para uma mulher”, diz, admitindo a presença de (poucos) homens na equipe de produção, mas não na banda. A direção criativa da Disco Voador Tour é de um homem, Batman Zavareze, que vem de turnês com Marisa Monte e Los Hermanos.

“Disse para mim mesma que, sempre que puder dar uma oportunidade, pode ter certeza que vai ser para uma mulher”

A artista evita se estender sobre a profissão do pai, Paulo Marinho (empresário e político que é primeiro suplente de Flávio Bolsonaro no Senado e está rompido com o ex-presidente da República), mas fala sobre sua admiração por ele. “Meu pai começou a trabalhar com 13 anos de idade, vendendo enciclopédia em Copacabana, e sempre me ensinou muito o valor de correr atrás das coisas em que acredito e de sempre aceitar uma oportunidade de trabalho. Nunca digo não ao microfone, porque você nunca sabe quem vai estar ouvindo, e isso veio muito do meu pai.” Reconhecendo-se artista desde sempre, ela brinca que os integrantes de sua família invariavelmente têm de escolher entre as profissões de artista ou advogado. É irmã do humorista e youtuber André Marinho e meia-irmã da advogada Maria Marinho, filha de Paulo Marinho com a atriz Maitê Proença.

Giulia foi contratada em fevereiro passado pela produtora/gravadora estadunidense Roc Nation, que passou a fazer a representação internacional de sua carreira. Tendo como um de seus proprietários o rapper Jay-Z, a Roc Nation gerencia nomes do topo das pirâmides musical e esportiva, como os cantores Rihanna, J Balvin, Alicia Keys e os jogadores de futebol Kevin de Bruyne (Manchester City) e Vini Jr. (Real Madrid). A carioca classifica suas ambições de se tornar uma artista de alcance mundial: “Tenho muito essa vontade, escrevo música em inglês desde que me entendo por gente”. Giulia compõe parte de suas músicas com o irmão mais velho, Danyel Marinho.

GIULIA BE PB 14 Easy Resize.com

Foto: Dimitrow

“Eu só canto porque escrevo. Os artistas que admirei minha vida inteira são compositores exímios, como Carole King, Amy Winehouse, Ed Sheeran e, aqui do Brasil, Caetano Veloso, Marisa Monte, Tim Maia.” A consciência da condição feminina salta à frente: “Conseguir ser hoje uma mulher que se afirma como compositora é fruto de um trabalho grande feito por artistas como Carole King, Shania Twain, Marisa Monte, Rita Lee e Gal Costa. Elas sempre foram mulheres muito à frente do seu tempo”.

Para além da carreira musical, Giulia estreou como atriz no filme dramático Depois do universo (2022), da Netflix, no qual interpreta uma pianista clássica que é portadora de uma doença auto-imune, o lúpus, e aguarda um transplante de rim.

“Sabia que o mercado ia tentar tirar meu tapete, ia tentar falar tantas vezes que não fui eu que escrevi aquelas músicas”

Se Depois do universo escalou posições no top 10 da Netflix em dezenas de países e chegou a ficar em terceiro lugar no ranking mundial da plataforma de streaming, o hit musical mais conhecido de Giulia acumula 208 milhões de audições no Spotify e 220 milhões de visualizações do videoclipe correspondente no YouTube. Trata-se de “Menina solta” (2019), balada que esboça uma história romântica comportada, mas acaba por se revelar libertária e de certo modo feminista.

Para Giulia, foi esse hit que abriu as comportas para que ela passasse a se ver como mulher criadora de música: “Foi a primeira faixa em que nenhum homem no estúdio tentou se intrometer na minha autoria”, diz. “A música é 100% minha. Sabia que o mercado ia tentar puxar meu tapete, falar tantas vezes que não fui eu que escrevi aquelas músicas, por saber que a história fez isso com tantas mulheres”.

A inspiração vem dos exemplos contrários, de conquista de autonomia. “Hoje a gente vê na indústria o movimento de artistas cada vez mais querendo ser donas das próprias músicas. Taylor Swift espalhou o exemplo de ser uma mulher dona das suas histórias. Isso é muito poderoso.”

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes