Grammy é realizado sob pressão por mais diversidade

Apesar de Beyoncé liderar as indicações, premiação acontece neste domingo com baixa presença feminina entre os concorrentes.


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Dá para ver o Grammy por um lado positivo: entre os quatro artistas com mais indicações nesta edição 2021, três são mulheres. Beyoncé é quem está na frente (disputará em nove categorias); seguida por Dua Lipa e Taylor Swift (seis). O único homem é o rapper Roddy Ricch (seis).

Mas, em uma visão mais ampla da presença das mulheres na premiação, o Grammy se sai muito mal. Segundo a própria Academia de Artes e Ciências de Gravação, instituição que organiza a celebração do mundo da música, dos 853 indicados nas 83 categorias, apenas 198 se identificam como mulheres.

Controvérsias acompanham o Grammy há tempos, e não é diferente nesta edição, que será realizada em Los Angeles no próximo domingo (14 ), com apresentação de Trevor Noah e transmissão no Brasil pelo canal TNT, às 19h – a cerimônia estava prevista para ocorrer em 31 de janeiro, mas foi adiada por causa da pandemia. A Academia não divulgou como a cerimônia será feita, apenas que os artistas “vão se reunir, embora ainda fisicamente separados, para tocar música uns para os outros como uma comunidade”. A premiação vai estar fisicamente sediada em um edifício em Los Angeles (os organizadores não divulgaram o local) e terá quatro palcos para apresentações ao vivo e um para entrega de troféus.

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Devido às medidas de distanciamento social, as apresentações ao vivo nesta edição serão realizadas em formato ao vivo e pré-gravado. Entre os que vão cantar, vale prestar atenção em Bad Bunny, Billie Eilish, Brittany Howard, Cardi B, Dua Lipa, Haim, Harry Styles, Killer Mike, Megan Thee Stallion e Taylor Swift. E há dois brasileiros indicados: Bebel Gilberto concorre na categoria Álbum de Música Global e Chico Pinheiro em Álbum de Jazz Latino.

Para tentar aumentar a presença das mulheres na indústria da música, a Academia está patrocinando um estudo, com outras duas instituições estadunidenses, para esquadrinhar a representatividade feminina no setor –,o resultado deve sair em um ano.
A instituição, aparentemente, reconhece que existe um problema e afirma que a falta de mulheres na música é “uma das questões mais urgentes na indústria hoje”. E diz que os dados coletados no estudo “serão utilizados para desenvolver e capacitar a próxima geração de mulheres criadoras de música”.

Se a presença das mulheres na premiação em si ainda é bem baixa, em algumas categorias os homens desapareceram. Pela primeira vez na história do Grammy, o troféu de melhor performance de rock será disputado exclusivamente por artistas femininas ou por uma banda liderada por vocalista feminina.

Estão na categoria Fiona Apple (pela performance na faixa “Shameika”), Phoebe Bridgers (por “Kyoto”), Brittany Howard (“Stay High”), Grace Potter (“Daylight”), o trio de irmãs Haim (“The Steps”) e o grupo Big Thief, que é liderado por Adrianne Lenker (“Not”).


Brittany Howard – “Baby” (MoMA Film Benefit: Honoring George Clooney presented by Chanel)

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Além disso, Fiona, Phoebe, Brittany e Big Thief competem também na categoria melhor canção de rock – o único representante masculino é a banda Tame Impala.

Fiona Apple é uma das artistas que fez críticas duras ao Grammy. Em dezembro, a dona do elogiado disco Fetch the bolt cutters disse em uma entrevista ao Guardian: “Eles colocaram (Kesha) lá em cima cantando ‘Praying’ e agora vão: ‘Oh, é o Tyson Trax!'”.

“Praying” é uma faixa de Kesha em que, para muitos, a cantora relembraria as supostas experiências de abuso que ela afirma ter sofrido do produtor Dr. Luke. Este está indicado ao Grammy por meio de um pseudônimo, Tyson Trax. Ele nega as acusações de Kesha e a está processando por difamação.

Na mesma entrevista, Fiona afirma: “Estou esperando para ouvir mais sobre o que Deborah Dugan (ex-presidente da Academia) tem a dizer porque tudo isso cheira mal para mim. Quando você contrata alguém que levantam questões, eles são demitidos?”.

A cantora fala sobre o caso de Dugan, que foi demitida do cargo de presidente em março de 2020. “Demos a ela nossa confiança e acreditamos que ela lideraria a organização. Infelizmente, não foi isso o que aconteceu”, afirmou a Academia em carta à época.
Dugan foi afastada do cargo pouco antes da cerimônia de 2020 do Grammy, por má conduta. Mas ela diz que o que ocorreu foi uma retaliação por ela ter divulgado episódios de assédio sexual e outros crimes cometidos por integrantes da Academia.

Além da questão do machismo, o Grammy sofre acusações de racismo. Artistas do rap historicamente reclamam que são boicotados ou que não são levados a sério pela Academia – Jay-Z já dizia isso nos anos 1990. Puff Daddy afirmou, no início de 2020, que “o hip hop nunca foi respeitado pelo Grammy. A black music nunca foi respeitada pelo Grammy”. No ano passado, Nick Minaj escreveu tweet em que fez referência a uma premiação ocorrida em 2012: “Nunca se esqueça que o Grammy não me deu o troféu de artista revelação quando eu tinha sete músicas simultaneamente nas paradas da Billboard e a maior semana de lançamento de qualquer outra mulher rapper na última década. Eles deram o prêmio para o homem branco, Bon Iver. #PinkFriday”.

Em novembro, ao ser ignorado pela Academia, o cantor The Weeknd foi ao Twitter e afirmou que a premiação “permanecia corrupta”. O episódio levou Drake a sugerir que a premiação fosse substituída por “algo novo que possamos construir ao longo do tempo e transmitir às gerações futuras”.

Enquanto essa alternativa nova não surge, o Grammy segue sendo a principal premiação da indústria da música. E as escolhas dos ganhadores da edição deste domingo provavelmente vão gerar mais controvérsias.

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